Guilherme Perez Cabral; Viviane Tavares Leite Moreno
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 17, n. 3, e1255, 2022
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sentido ampliado, de modo a abranger o conjunto diversificado de reflexões
emergidas de povos “terceiros-mundistas”, submetidos à dominação colonial/
imperialista. Reflexões, daí, vinculadas aos processos de luta por libertação,
independência política e econômica e — considerando os impactos da dominação
— descolonização epistêmica, de nosso “mundo da vida” (Dussel 1993).
Dessa perspectiva, colocam-se os eixos do padrão mundial de poder e das
relações de dominação nele imbricadas: além da dinâmica do trabalho/capital,
as noções de gênero e, destacamos aqui, raça, codificação moderna-colonial das
diferenças entre conquistadores e conquistados. São os critérios de classificação
social e determinação de lugares na estrutura de poder (Quijano 2014), marcando
os grupos excluídos já na gênese do discurso da modernidade e seus ideais de
direitos humanos universais e democracia. Estruturalmente, o capitalismo é
racista.
O pensamento descolonial ocupa-se da abertura a outras genealogias críticas,
próprias dos povos impactados pela “ferida colonial” (Mignolo 2007), o que
não implica, absolutamente, negação de categorias herdadas da modernidade.
Dos autores incorporados nessa trilha metodológica, destaca-se a perspectiva
do “direito insurgente” de Pazello (2018), com o resgate do debate descolonial
com a baliza do marxismo, em proposta de uso “tático” do direito, no contexto
latino-americano. E, na reflexão sobre caminhos de uma educação efetivamente
transformadora, a Pedagogia do oprimido de Freire.
Contribui com a reflexão, ainda, estudo do “estado da arte”, a partir de
revisão bibliográfica de artigos científicos disponibilizados na plataforma digital
“Periódicos CAPES” (https://www.periodicos.capes.gov.br). Como descritores de
busca: “cidadania global”, “educação” e “de(s)colonial” (em português, espanhol e
inglês). A despeito do “modismo” em relação aos estudos descoloniais, atingindo,
também, debates sobre a educação, chegamos a apenas 30 artigos, a maior parte
deles em inglês. Trazem tipologias e perspectivas críticas em relação à ECG, a
partir de olhar descolonial, enfatizando relações entre educação, colonialismo,
capitalismo e modernidade (Biccum, 2018).
O texto analisa, primeiro, a inserção da “cidadania global” na “governança
global” do direito humano à educação, no cenário de globalização e imperialismo
capitalista, e de “nova etapa” da democracia (1).
Na sequência, apresenta a proposta pedagógica da UNESCO, em suas três
dimensões: cognitiva, socioemocional e comportamental. Na crítica a “armadilhas”
contidas nos documentos, argumentamos que, apoiado em fórmulas genéricas,