
Mario Schettino Valente; Dawisson Belém Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 17, n. 2, e1254, 2022
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atores não estatais atuam no ciclo de política pública.5 Isso ocorre porque o Estado
determina não somente as atuações formais dos atores não estatais, por meio de
regulamentação, mas também as informais, uma vez que esses atores atuam nos
espaços não regulamentados, e se orientam conforme a estrutura estatal, como
a distribuição de competências entre os poderes ou pela forma de organização
do Estado e de seu sistema político (Thomas 2004; Klüber & Maillard 2009;
Howlett, Ramesh & Pearl 2013). Destaca-se que, não obstante a possibilidade de
os atores não estatais tomarem decisões que afetem a produção da política pública
e executarem medidas para equacionar um problema coletivo, suas decisões e
ações constituem políticas públicas somente quando são intermediadas pelo
Estado, pois somente este ator possui autoridade para agir em nome de toda a
sociedade (Klüber & Maillard 2009; Howlett, Ramesh & Pearl 2013).
Outro debate busca determinar se a omissão do Estado, além da ação, integra
a política pública. Argumenta-se que essa omissão somente constitui uma política
pública a partir da inação do Estado após a inclusão de determinado problema
na agenda estatal.
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Sob esta ótica, a omissão do Estado sobre problemas alheios
à essa agenda não são políticas públicas (Secchi 2013). Contudo, a decisão
negativa e a não decisão sobre a inclusão de um tema na agenda estatal são
políticas, pois são tomadas por agentes públicos — com ou sem mandato eletivo
— e hierarquizam os diversos interesses da sociedade. Assim, entende-se que
a omissão também integra a política pública (Howlett, Ramesh & Pearl 2013).
O último debate de Secchi (2013) trata dos níveis da política pública, se
esta corresponderia somente ao nível estratégico (diretrizes estruturantes) ou
5 O ciclo de política pública compreende a produção dessa como uma sequência de fases. Essa sequência não
é apenas linear e voltada para a produção da política pública, mas incorpora as ações de avaliação e controle
daquelas em execução ou já executadas, que retroalimentam a produção em um processo contínuo e cíclico (Jann
& Wegrich 2007). As fases do ciclo de política pública variam ligeiramente conforme o autor, mas possuem ao
menos as seguintes: (i) definição de agenda, (ii) formulação, (iii) decisão, (iv) implementação, e (v) avaliação
e controle (cf. Frey 2000). A principal crítica à utilização da estrutura do ciclo reside na artificialidade de sua
compartimentalização, visto que podem ocorrer interpenetrações que dificultariam ou impossibilitariam a
distinção de cada fase ao se realizar a observação empírica ou na falsa impressão de que as fases acontecem,
necessariamente, na mesma ordem. Contudo, o ciclo de política pública é um importante recurso heurístico, pois
permite sistematizar e comparar diversos processos de produção política pública em termos de sua estrutura
formal, de distribuições de competência e de participação dos atores (Jann & Wegrich 2007).
6 No campo de APP, conceitua-se agenda como um conjunto de problemas que chamam a atenção de grupos
da sociedade e dos agentes públicos, incluindo interpretações sobre suas origens, sobre suas simbologias e
sobre suas soluções. A agenda está presente em todos os níveis do Estado e pode se manifestar de maneira
concreta — como um conjunto de projetos de lei a serem debatidos pelo poder legislativo em um período — ou
de maneira abstrata — como entendimentos e interpretações sobre a existência, sobre a abrangência, e sobre
a maneira que os setores público e privado devem abordar os problemas públicos (Birkland 2007).