Caio Augusto Martins Simoneti; Natália Maria Félix de Souza
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 17, n. 1, e1230, 2022
17-24
Quadro 1 — Quadro síntese
Pós-colonialismo de Bhabha Pensamento decolonial de Mignolo
Conceito-chave Hibridismo Pensamento liminar
Influências e autores
associados
Jacques Derrida
Frantz Fanon
Gayatri Spivak
Dipesh Chakrabarty
Stuart Hall
Edward Said
Immanuel Wallerstein
Aníbal Quijano
Enrique Dussel
Ramón Grosfoguel
Catherine E. Walsh
Abdelhebir Khatibi
Perspectiva sobre colonização
e localidades geo-históricas
Colonização da África e da Ásia
nos séculos XIX e XX.
Invasão das Américas no século XV.
Conceito de fronteira Ruptura com qualquer noção de
fronteira como linha divisória.
Ênfase na fronteira como Terceiro
Espaço, entre-lugar da produção
das culturas, aquilo que impede
a identidade ou totalidade de
qualquer cultura, incluindo a
própria dissolução da separação
entre colonizador/colonizado.
Mobilização dos conceitos de fronteiras
internas e externas do sistema-mundo
moderno/colonial, enfatizando as
fronteiras externas como espaço
privilegiado para a descolonização
epistêmica. Ainda que mobilize a
fronteira como espaço de produção de
conhecimento, e não linha divisória,
o pensamento liminar não
problematiza a divisão e coerência
interna das tradições como faz o
hibridismo de Bhabha.
Perspectiva sobre diferença Diferença cultural como crítica do
conceito de diversidade (culturas
como totalidades), enfatizando
sua produção performativa na
fronteira, ou Terceiro Espaço.
Diferença colonial como novo locus de
enunciação, que emerge nas fronteiras
externas do sistema-mundo moderno/
colonial: entre diferentes tradições e
histórias locais.
Crítica à Universalidade Negociação e tradução como
estratégias de deslocamento da
lógica binária entre colonizadores/
Colonizados.
Geopolítica do conhecimento e
diversalidade como uma alternativa à
universalidade abstrata moderna.
Projeto ético e político Contesta o legado da colonização
ao problematizar a própria
possibilidade de separação rígida
entre colonizador/colonizado e
todo o modelo representacional
que essa lógica binária introduz.
Contesta o legado da colonização
a partir de uma demanda pela
descolonização epistêmica partindo da
perspectiva da colonialidade, mantendo
portanto a ênfase na divisibilidade entre
colonizadores/colonizados; fronteiras
internas/externas.
Principais críticas Pensadores decoloniais,
especialmente Mignolo, destacam
a proximidade/familiaridade
de Bhabha com pensamento
eurocêntrico, em particular de
pensadores pós-estruturalistas,
como Derrida, que produzem
sua crítica a partir das fronteiras
internas do sistema-mundo
moderno/colonial, reproduzindo
padrões de colonialidade
denunciados pelo pensamento
decolonial.
Críticas como a de Cusicaqui ilustram
algumas limitações do projeto
decolonial de Mignolo que, se por
um lado, desloca-se para as fronteiras
externas do sistema-mundo moderno/
colonial, enfatizando a geopolítica do
conhecimento, por outro lado, ignora
a economia política do conhecimento
ao reafirmar saberes logocêntricos e
nominalistas, com claros alinhamentos
ao Norte Global, negligenciando
(e, por vezes, objetificando) vozes
subalternas e tradições orais andinas.
Fonte: elaboração própria.