Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
1-26
Covid-19 no Japão: o que (não)
explica a relativa baixa incidência
Covid-19 in Japan: what does (not)
explain the relative low incidence
Covid-19 en Japón: que (no)
explica la baja incidencia relativa
Doi: 10.21530/ci.v16n3.2021.1200
Alexandre Ratsuo Uehara
1
Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
2
Resumo
Este artigo busca analisar os impactos da pandemia da COVID-19
no Japão, que apresenta uma baixa taxa de contágio e de
mortalidade, contrariando os temores que surgiram por ser o
país com a sociedade mais envelhecida do mundo. Buscar-se-á
mostrar que, apesar dos indicadores serem muito melhores do
que dos EUA, do Brasil e de vários países europeus, que tiveram
as atitudes das populações e governos criticados, as políticas de
enfrentamento implementadas pelo Japão e os comportamentos
e reações da sua sociedade também não ocorreram sempre de
maneira coerente.
Palavras-chave: COVID-19; Envelhecimento populacional; Sociedade
cinza; Japão; Pandemia; Quarentena.
1 Doutor Ciência Política pela USP. Professor e Coordenador do Núcleo de
Estudos e Negócios Asiáticos (NENA) na Escola Superior de Propaganda e
Marketing — ESPM, São Paulo, SP. (aruehara@usp.br).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9262-4472.
2 Mestre em Letras: Língua, Literatura e Cultura Japonesa. (biakaori@alumni.usp.br).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0701-4187.
Artigo submetido em 27/05/2021 e aprovado em 25/10/2021.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ISSN 2526-9038
Copyright:
• This is an open-access
article distributed under
the terms of a Creative
Commons Attribution
License, which permits
unrestricted use,
distribution, and
reproduction in any
medium, provided that
the original author and
source are credited.
• Este é um artigo
publicado em acesso aberto
e distribuído sob os termos
da Licença de Atribuição
Creative Commons,
que permite uso irrestrito,
distribuição e reprodução
em qualquer meio, desde
que o autor e a fonte
originais sejam creditados.
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
2-26
Abstract
This article seeks to analyze the COVID-19 pandemic’s impacts in Japan, which has a
low rate of contagion and mortality, going against the fears that due to its position as the
country with the oldest society in the world. The goal is to show that, despite the Japanese
indicators being much better than those of the USA, Brazil and several European countries,
which suffered criticism concerning their populations and governments’ attitudes, the
coping policies implemented by Japan and the behaviors and reactions of Japanese society
also did not always occur in a coherent way.
Keywords: COVID-19; Ageing populational; Gray society; Japan; Pandemic; Lockdown.
Resumen
Este artículo busca analizar los impactos de la pandemia COVID-19 en Japón, que tiene
una baja tasa de contagio y mortalidad, en contra de los temores que han surgido por ser
el país con la sociedad más antigua del mundo. Se buscará mostrar que, a pesar de que los
indicadores son mucho mejores que los de EE. UU., Brasil y varios países europeos, que
tuvieron las actitudes de poblaciones y gobiernos criticadas, las políticas de afrontamiento
implementadas por Japón y los comportamientos y reacciones de su sociedad también no
siempre ocurrió de manera coherente.
Palabras clave: COVID-19; Envejecimiento de la población; Sociedad Gris; Japón; Pandemia;
Cuarentena.
Introdução
O ano de 2020 será relembrado primordialmente pela pandemia causada pelo
vírus COVID-19, que alterou drasticamente a conjuntura sociopolítica e econômica
mundial. Apesar de não ser a primeira pandemia mundial, a COVID-19 possuiu
uma amplitude nunca vivenciada. Contabilizava-se quatro milhões de mortes
e mais de 200 milhões de casos no mundo em primeiro de outubro de 2021 de
acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS).
Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
3-26
Figura 1 — COVID-19 no mundo
World Health Organization. 2021. Coronavirus Disease (COVID-19) by Country Dashboard.
Em outubro de 2021, os cinco países mais afetados pelo coronavírus foram:
Estados Unidos (42 milhões de casos e 688 mil mortes), Índia (33 milhões de
casos e 448 mil mortes), Brasil (21 milhões de casos e 596 mil mortes), Reino
Unido (7 milhões de casos e 136 mil mortes) e Rússia (7 milhões de casos e
208 mil mortes). O caso do Japão é curioso: apesar de ocupar a 11ª posição no
ranking de população mundial — com 125 milhões de pessoas —, no ranking
de COVID, ele está na 24º posição mundial, com apenas um milhão de casos
e 17 mil mortes, abaixo de países com populações menores, como França, Irã,
Argentina, Espanha, Alemanha e Colômbia (Who 2021).
Em dezembro de 2020, o Japão apresentava 230.304 casos e 3.414 mortes,
segundo dados da Organização Mundial da Saúde (Who 2021), uma quantidade
bem abaixo comparado a outros países com grandes populações. Por exemplo,
nessa mesma data, os EUA tinham cerca de 84 vezes mais casos e 98 vezes
mais mortes. Já o Brasil registrava cerca de 33 vezes mais casos e 56 vezes mais
mortes. Mesmo após as Olimpíadas, o Japão continua apresentando números
de incidência muito abaixo do esperado.
Havia fortes temores de que o Japão vivenciaria uma situação catastrófica,
com grande quantidade de mortes e diminuição populacional súbita. O Japão vive
uma situação denominada por Rowland (2012) de inverno demográfico, em que
o percentual de idosos na população é superior a 16% e o país lida com diversos
desafios como estagnação econômica, tensão intergeracional, baixa fecundidade
e mão de obra. O que diferencia o Japão do restante dos países com populações
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
4-26
envelhecidas é o fato dele não apenas possuir uma população que envelhece
rapidamente, mas também ter uma população que diminui rapidamente. Houve
um declínio de 963 mil pessoas de 2010 a 2015 (Japanese Statistics Bureau 2021)
e, de acordo com projeções, a população japonesa deve diminuir em 50% ou
mais até o fim do atual século (Kaneko 2008 apud Rowland 2012).
Isso se deve ao fato de que, desde 1985, o Japão possui a população mais
idosa do mundo (Bloom 2018). A população idosa (65 anos
3
ou mais), em 2019,
contabilizava 35,8 milhões, constituindo 28,5% da população total, ou seja,
uma em cada quatro pessoas (Toyoka 2020, Japanese Statistics Bureau 2021).
O ex-Primeiro-Ministro Abe chegou a denominar esse fenômeno como o “maior
desafio” do país (Bloom 2018, grifo do autor). Em 2018, a quantidade de bebês
recém-nascidos caiu para abaixo de 900 mil pela primeira vez na história. De
acordo com o ex-Ministro Masaji Matsuyama (Japan Times 2020b), a projeção
é de que a quantidade de nascimentos, em 2021, seja abaixo de 700 mil devido
à pandemia. Contudo, mesmo que o Japão tenha sido o terceiro país a registrar
casos da COVID-19, já em janeiro de 2020, o cenário catastrófico não ocorreu.
O objetivo deste trabalho é demonstrar que os resultados nos números do
Japão em relação à COVID-19, significativamente menores comparado aos EUA
e ao Brasil, onde há críticas em relação às políticas públicas e comportamentos
da sociedade, também não foram isentos de contradições. Para isso, buscou-se
informações de fontes primárias (censo e relatórios governamentais) e fontes
secundárias (jornais japoneses e internacionais, questionários de âmbito
internacional e artigos de especialistas).
A análise se limita ao período do final de 2019 a julho de 2021, visando
analisar os fatores domésticos japoneses anteriores às Olimpíadas, pois os atletas
estrangeiros incorporariam outras variáveis que não serão abordadas neste
trabalho. Ressalta-se também que há uma defasagem de tempo para divulgação
de informações no campo acadêmico e em relatórios governamentais (os dados
demográficos mais recentes são de 2019), por isso, os jornais (principalmente
Asahi Shimbun e Mainichi, que possuem amplitude nacional no Japão) foram
fontes de pesquisa de fatos e dados mais atualizados.
3 No Japão, o marco etário para idosos é 65 anos (Ministry of Health, Labor and Welfare of Japan 2020).
Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
5-26
Contradições Governamentais
No dia 8 de dezembro de 2019, foi identificado o primeiro paciente com um
vírus da família corona em Wuhan, na China. Em 7 de janeiro, a OMS identificou
o vírus, que faz parte da família de doenças respiratórias como SARS (sigla inglesa
para Severe Acute Respiratory Syndrome; em português, Síndrome Respiratória
Aguda Grave), e o nomeou de COVID-19. A primeira morte no mundo ocorreu
em 11 de janeiro de 2020, na China, enquanto o primeiro caso de infecção fora
da China foi na Tailândia, em 13 de janeiro (Kretchmer 2020).
No Japão, o primeiro caso reportado ocorreu no dia 16 de janeiro, de um
cidadão chinês na província de Kanagawa, que havia retornado de Wuhan (Japan
Times 2020c). Já a primeira morte foi de uma mulher japonesa de 80 anos,
também em Kanagawa, em 13 de fevereiro de 2020 (Kubota 2020). Entretanto,
o caso mais emblemático foi o surto no cruzeiro britânico Diamond Princess,
que levava a bordo mais de 3.700 pessoas provenientes de 56 países. O navio
atracou em Yokohama em 9 de fevereiro, com a expectativa de ser liberado no
dia 19. Contudo, ele apenas deixou o porto no primeiro dia de março, quando
o cruzeiro foi esvaziado (Channel New Asia 2020).
Durante esse período, foi apontada uma soma de vários erros cometidos que
permitiu o crescimento do contágio entre ocupantes do navio e a disseminação
para pessoas externas à embarcação. Como não havia testes suficientes para
todos os passageiros, foram priorizados os pacientes com sintomas e os idosos.
Vinte e três passageiros deixaram o navio sem fazer testes adicionais e alguns
utilizaram transporte público. Mesmo durante a quarentena, muitos passageiros
saíram de seus quartos. Alguns profissionais de saúde que entraram no cruzeiro
para realizar testes acabaram contraindo o vírus devido à proteção precária do
equipamento. Ao fim, 712 pessoas foram infectadas e 13 morreram. A atuação
do governo japonês foi considerada como um fracasso (Lam 2020; Rich 2020b).
Na sequência desse evento, a primeira grande medida governamental tomada
foi discutível, pois, contrariamente à maioria dos países, ela não focou na
população idosa, mas sim na população infantil. Em 27 de fevereiro, o então
Primeiro-Ministro Shinzo Abe pediu para todas as escolas do país fecharem.
Essa decisão antecedeu a de países europeus, que apenas a realizaram a partir
de março. O fato que chama atenção aqui, e vale ressaltar, é que as medidas
do governo de Tóquio não possuíam caráter legal punitivo, ou seja, não haveria
represálias caso não fossem acatadas (Rich 2020b).
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
6-26
Apesar dessa decisão governamental considerada impopular por ter sido
súbita e sem muita explicação, ela teve efeitos imediatos:
98,9% das escolas fecharam após o pedido de Abe (Japan Times 2020a).
A quantidade de pessoas que passaram a evitar locais com aglomeração de
pessoas quase dobrou, chegando a quase 60%, e esse número cresceu para mais
de 75% no meio de março (Dooley e Inoue 2020; Gordon 2020).
Após a falha com o Diamond Princess e a falta de foco nos idosos, outro fato
muito criticado foi a proposta de fornecimento de máscaras à população. Como
plano governamental de combate à COVID-19, o governo prometeu encaminhar
duas máscaras de pano para cada residência. Imediatamente questionamentos
foram realizados, pois a quantidade foi considerada insuficiente. Duas máscaras
por família se tornou um deboche nas redes sociais. Para piorar a situação,
o governo não conseguiu garantir um fornecimento suficientemente rápido
(Osaki 2020).
Outra medida de combate importante para conter o surto foi o fechamento
das fronteiras, apesar de ter sido mais tardiamente (3 de abril) comparada a
países europeus, que o realizaram em março de 2020 (Oliveira Neto, Garcia e
Spinussi 2020). Essa medida foi inicialmente temporária, mas acabou perdurando
meses. O rigor nas fronteiras do Japão foi distinto, por ser o único país do G7 que
não permitiu o retorno de residentes permanentes durante a pandemia (Osumi
2020). A medida impactou também os estrangeiros residentes: mais de 100 mil
não conseguiram retornar ao Japão, o que resultou na divisão de várias famílias,
na interrupção do ano escolar e no acúmulo de dívidas, pois era necessário
pagar as despesas tanto da residência no Japão quanto no país em que eles se
encontravam durante a pandemia. Da mesma forma, foi estabelecido que os
residentes que quisessem retornar ao país deveriam realizar um teste e receber
resultado negativo em até 72 horas antes de partir para o Japão, uma realidade
que Dooley (2020) considera, até mesmo, impossível dependendo do país. Essa
medida também pressionou os estrangeiros que estavam no Japão, os colocando
no dilema entre ficar ou sair para cuidar de um parente doente e se reunir com
suas famílias, sabendo que não haveria uma data estabelecida para conseguir
retornar ao Japão (Dooley 2020).
No dia 7 de abril, o estado de emergência foi declarado nas províncias mais
afetadas, como Tóquio e Osaka. O estado de emergência foi estendido para todo
o país em 16 de abril e foi pedido à população para evitar viajar, a não ser que
fosse necessário. O objetivo era promover o distanciamento durante a Golden
Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
7-26
Week
4
(29 de abril a 6 de maio de 2020). A decisão afetou a província de Okinawa,
um destino muito popular para férias, especialmente nesse período, pois o
governador Denny Tamaki pediu para as 60 mil pessoas que haviam comprado
passagens que não fossem à ilha devido ao estado de emergência (Ryall 2020).
O fechamento de linhas aéreas e ferroviárias também influenciou na diminuição
de 50% da locomoção da população. De março a abril, o índice de pessoas que
ficaram próximas à sua área de residência dobrou (Yabe et al. 2020).
No entanto, divergências entre o que era recomendado por órgãos nacionais
e internacionais e o que foi, de fato, implementado pelo governo perduraram
durante todo o ano. Um caso emblemático ocorreu quando um comitê criado
pelo governo recomendou que o contato social deveria ser diminuído em 80%.
Entretanto, o comunicado oficial do governo recomendou “no mínimo 70% ou,
idealmente, 80%”, sem esclarecer o motivo da alteração. Outra crítica foi que
não constavam, nesse comitê, representantes das áreas de economia, ciência
comportamental e comunicação, além de todos os processos de decisão terem
sido pouco explicados (grifo do autor, Shimizu et al. 2020). Esse comitê acabou
sendo abolido pelo governo, em junho, o que apenas aumentou a falta de
transparência.
O governo e o ex-Primeiro-Ministro, Abe, especialmente, foram criticados
diversas vezes, durante o ano, por suas medidas, que foram consideradas não
efetivas e impopulares. As posições protelatórias do governo refletiram na agenda
das Olímpiadas de Tóquio, que foram, após muita suspeita e discussão, adiadas
para 23 de julho a 8 de agosto de 2021, devido à pandemia, e, por consequência,
as Paralimpíadas passaram para o período de 24 de agosto a 5 de setembro
(Kyodo News 2020). Essa decisão, segundo Shimizu (et al. 2020), foi realizada
abruptamente e o autor critica a falta de explicações para mais uma medida
governamental, denotando que as autoridades falharam em providenciar incentivos
claros à população para seguir as novas normas de isolamento, o que levou a
uma demora na mudança de comportamento social. A estratégia de comunicação
do governo foi inadequada mesmo durante o período de estado de emergência.
Durante o estado de emergência de Tóquio, a governadora, Yuriko Koike,
lamentou a falta de poder dado aos governadores, pois não lhes era possível
obrigar estabelecimentos a fecharem. Supermercados, lojas de conveniência,
4 A Golden Week é o período mais longo de feriado no Japão, que inclui diversos feriados; sua duração varia
a cada ano. Ela geralmente começa no dia 29 de abril e termina no início de maio, no dia 5 (Rodgers 2020).
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
8-26
salões de beleza e creches continuariam abertos, enquanto izakayas (bares
noturnos) fechariam às 20 horas. O transporte público continuaria operando
normalmente. Ela conseguiu que pachinkos (jogo mecanizado de azar) fechassem
e concordou em fornecer um pagamento único de compensação. Para grandes
negócios, o pagamento seria de um milhão de ienes (o equivalente a 9.200 dólares)
e de 500 mil ienes (4.600 dólares) para pequenos negócios (Mainichi 2020;
Reynolds 2020).
Yuriko Koike vinha advogando pelo estado de emergência muito antes deste
ter sido decretado. Todas as manhãs, ela divulgava vídeos, em inglês, atualizando
dados e medidas a serem tomadas. Ela cunhou e popularizou a expressão dos
“3 Cs”, os três fatores que a população deveria evitar: closed spaces (lugares
fechados), crowded places (lugares aglomerados) e close contact (contato próximo)
(Furutani 2020; Tsukidate 2020). De acordo com ela, o Japão não possuía um
sistema de gestão de crises para lidar com a pandemia. Ela já defendia um
lockdown similar aos realizados na Europa, enquanto Abe argumentava que o
governo não possuía instrumentos legais para realizar medidas rigorosas desse
nível (Al Jazeera 2020; Reynolds 2020).
O estado de emergência em Tóquio acabou em 25 de maio e, no dia seguinte,
o mesmo ocorreu em todo o país. Nesse período, menos de mil pessoas morreram
(Adelstein 2020b). O Primeiro-Ministro, Abe, enfatizou que isso não significava
que a vida retornaria ao normal, defendendo que o necessário agora seria “definir
o novo normal” (Dooley e Inoue 2020; Dooley, Rich e Inoue 2020). O Ministro da
Saúde, Katsunobu Kato, pediu para que as pessoas com sintomas de COVID-19
ficassem em hotéis até se recuperarem.
Contudo, 20% dos pacientes (1.984 pessoas) não seguiram essa recomendação
e ficaram em suas casas (Asahi Shimbun 2020a). As ações contraditórias não
foram apenas dos cidadãos. Em julho, o governo japonês, preocupado com os
impactos econômicos, particularmente no setor de turismo, lançou uma campanha
de turismo doméstico, “Go to Travel”, no meio da pandemia. Essa iniciativa
contrariava recomendações anteriores de não sair de casa, pois incentivava a
população a viajar pelo país, principalmente para regiões rurais — mas vale
lembrar que não para Tóquio, a região mais afetada (Shimizu et al. 2020).
O gráfico a seguir demonstra a nova onda de casos que ocorreu de julho até o
fim de agosto, como consequência das aglomerações nos meses de verão. Esses
novos casos provêm principalmente de viagens e aglomerações em distritos de
entretenimento noturno nos grandes centros urbanos (Nippon 2020b).
Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
9-26
Gráfico 1 — Casos confirmados diariamente no Japão (julho a outubro de 2020)
Fonte: Ministry of Health, Labor and Welfare of Japan. 2020. 10 things to know about the COVID-19 as of right NOW.
Contradições na sociedade
As políticas governamentais de combate à COVID-19 tiveram um perfil
severo em relação ao fechamento das fronteiras, enquanto, no âmbito doméstico,
elas foram menos restritivas e, como apontado acima, não previam punições.
O estado de emergência do Japão segue essa mesma avaliação: ele foi considerado
uma política soft (leve) pela mídia e pesquisadores. Gordon (2020) comenta que
antigas medidas governamentais foram mais rígidas, como no caso da cólera
(primeiros casos em 1822 e surtos em 1858 e 1862) e da lepra (início estimado
em meados de 1445 e permaneceu até o pós-guerra), em que o governo deu à
polícia poderes para testar, isolar e desinfetar regiões infectadas (Yukinori 2020).
Esse perfil de políticas voltadas para o âmbito doméstico não refletia a
percepção da própria população japonesa. Segundo uma pesquisa de opinião do
jornal Mainichi, 70% dos respondentes julgavam que houve muita demora para
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
10-26
implementar políticas públicas e 58% acreditavam que mais regiões deveriam ter
sido incluídas nessa implementação desde o início, não apenas as principais e
mais afetadas (Kanto, Kansai e Hokkaido) (Kingston 2020; Reynolds 2020). Uma
pesquisa realizada, em 14 de fevereiro, pela empresa IPSOS demonstrou que,
apesar de o Japão não ter elevada incidência de casos, a população japonesa
possuía o maior percentual de preocupação sobre o vírus. Um dos principais
fatores para esse temor é a maior letalidade para idosos, dado o fato da população
japonesa ser a mais idosa do mundo.
Gráfico 2 — Enquete: qual o nível de ameaça
que você acha que o vírus corona representa para:
55
42
49
43
61
47
66
42
32
17
22
19
39
16
49
26
16
8
8
9
19
9
13
9
14
6
10
9
15
10
16
8
17
6
9
9
15
11
16
7
0
10
20
30
40
50
60
70
EUACanadáFraaReino
Unido
AustráliaAlemanhaJapão Rússia
O mundo Seu país Sua comunidade local Você pessoalmente Sua família
%
Fonte: Ipsos. 2020a. Coronavirus: opinion and reaction: Results from a multi-country poll.
Outra pesquisa realizada pela IPSOS, no período de fevereiro a março de
2020, apontou que 73% dos japoneses acreditavam que eventos internacionais,
como as Olímpiadas, seriam comprometidos pela pandemia (Ipsos 2020a), o que,
de fato, ocorreu, com o seu adiamento para 2021. A população japonesa também
era mais pessimista: pouco mais de 40% desses respondentes acreditaram que a
vida retornaria ao normal até junho de 2020, contra os mais de 80% do Vietnã,
China e Índia (Ipsos 2020b). Portanto, com base nas pesquisas mencionadas, já
a partir de fevereiro, a população japonesa demonstrava profunda inquietação
com a COVID-19. Contudo, mesmo com essa inquietação, Abe implementou
o estado de emergência apenas em abril, três meses após o início do surto do
vírus no país.
Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
11-26
Os resultados de uma pesquisa de opinião pública, realizada em junho de
2020, demonstraram a repercussão da COVID-19 na sociedade japonesa. Até o ano
anterior, a principal preocupação, “subsistência e pensão na idade avançada”,
ficou em segundo lugar no ranking, atrás de “preocupação com doença infecciosa”,
resposta inédita até então e que obteve a maioria, com 61,7% dos entrevistados
(Nippon 2020a). Essa resposta passou outras preocupações populares como
endividamento e desastres naturais, comumente presentes nessas enquetes.
As políticas de combate à COVID-19 tiveram impacto negativo sobre a
popularidade de Abe. Além das medidas impopulares, a economia japonesa
foi afetada negativamente, o que dificultou a implementação de sua política
Abenomics5 e reduziu sua taxa de aprovação para 36%, a mais baixa desde 2012,
quando foi reeleito (Berlinger 2020). Uma enquete do jornal Asahi revelou que
57% dos respondentes acreditavam que ele falhou em liderar (Kingston 2020) e
58,4% não estavam satisfeitos com sua administração em relação à pandemia
(Berlinger 2020). Em 28 de agosto de 2020, diante desse contexto, Abe anunciou
a sua renúncia por motivos de saúde. O novo Primeiro-Ministro, Yoshihide Suga,
prometeu continuar as políticas não finalizadas pelo antecessor, providenciando
vacinas gratuitas para toda a população e restaurando a economia japonesa
(Associated Press 2020; Reuters 2020).
Apesar de o Japão ter terminado 2020 com um acumulado de 3.414 mortes
em 31 de dezembro de 2020, no primeiro trimestre de 2021, o país teve uma
aceleração do número de mortes. Em 31 de março, o número acumulado de
mortes subiu para 9.113, praticamente triplicando a quantidade de óbitos em
apenas três meses. Com isso, o país subiu para a 39ª posição no ranking mundial
de mortes por COVID-19 naquele momento. Isso aumentou a preocupação e
ansiedade populacional de que o coronavírus tenha graves consequências no
país devido à sua população idosa (Toyokeizai 2020).
No Japão, apesar de o grupo mais afetado por COVID-19 ter sido o de jovens
entre 20 e 29 anos, conforme pode ser observado pelos dados do perfil dos
pacientes, a maior proporção de mortes ocorreu entre os idosos, principalmente
os com 80 anos ou mais.
5 Abenomics é a política econômica criada por Abe, em 2012, que visava fomentar a econômica japonesa com
três flechas: política de harmonização financeira quantitativa, estímulo fiscal e reformas estruturais.
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
12-26
Gráfico 3 — Testados Positivos para COVID-19 de acordo com a idade
Mortes
Sintomas graves
Hospitalizados
Recuperados
Fonte: Toyokeizai. 2020. Coronavirus Disease (COVID-19) Situation Report in Japan: tested Positive by Age.
Apesar dessas demonstrações de preocupação pela sociedade, ainda no
mês de março de 2020, os cidadãos japoneses, contradizendo as pesquisas de
opinião e apesar dos pedidos do governo e mídia para ficarem em casa, saíram
para participar do popular evento anual hanami (花見, literalmente ‘ver flores’)
de admiração das cerejeiras. A própria esposa de Abe, Akie, foi severamente
criticada em mídias sociais por ter sido uma das pessoas que saíram de suas
residências (Harbage 2020; Kingston 2020) e falhou em ser um exemplo para a
população. Abe também sofreu críticas ao divulgar, nas redes sociais, um vídeo,
em 12 de abril, dele, em sua casa, lendo um livro e segurando seu cachorro.
A mensagem era de que, apesar de ser difícil ficar em casa e não encontrar
amigos, era importante seguir com a quarentena. A reação da população foi,
contudo, negativa, pois muitos haviam perdido seus empregos e moravam em
apartamentos pequenos, diferentemente de Abe (Mainichi 2020).
Outra divergência da sociedade ocorreu no período de emergência decretado
por Abe, pois não houve total adesão da população. Diferentemente do lockdown
de outros países, as fábricas não foram fechadas e não houve penalidades caso
a medida não fosse cumprida (Suzuki 2020). Com isso, 60% dos empregados
continuaram indo para o trabalho, pois a grande maioria de trabalhadores não
possuíam o equipamento necessário para trabalhar de casa, particularmente
Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
13-26
máquinas de fax e hanko — carimbos utilizados para assinar documentos e que
geralmente não podem ser retirados da empresa (Gulf News 2020).
Contradições, especulações e números
Por que o Japão tem tido um número tão baixo de casos? Uma das primeiras
ressalvas que deve ser realizada é de que existem discussões sobre a possibilidade
de a quantidade de casos apresentados não refletir a realidade japonesa, devido
ao baixo número de testes, como demonstrado previamente. Feita essa ressalva,
pode-se afirmar que são citadas várias teorias do porquê o país apresenta menor
incidência e mortalidade em relação à COVID-19. Vale lembrar que nenhum
resultado conclusivo foi determinado até o momento atual.
Uma primeira interpretação é a de que a região asiática estaria mais preparada
para pandemias, devido às suas experiências anteriores com SARS e MERS, e,
por conta disso, agiria mais rapidamente do que países ocidentais. Contudo, o
Japão não teve grande incidência em nenhuma das pandemias anteriores e não
agiu tão rapidamente comparado a outras nações asiáticas, como Coréia do Sul,
Singapura, China e Tailândia.
Um outro fator teorizado seria o clima quente e úmido, mas a elevada
incidência do vírus no Brasil e no Equador, com climas similares, refuta tal
hipótese. Outra hipótese seria de que populações mais jovens, como as africanas,
teriam mais resistência ao vírus. O Japão, no entanto, não apresenta elevada
incidência apesar de ser a sociedade mais envelhecida do mundo (Denyer e
Achenbach 2020).
Teorias no âmbito da medicina também foram apontadas, como a baixa
incidência de comorbidade, obesidade e diabetes no Japão. Comparando-se aos
Estados Unidos, por exemplo, os idosos japoneses são significativamente mais
saudáveis, mas não foram apresentadas evidências suficientes de comprovação.
Outra explicação apresentada seria de que países com deficiência de vitamina D
seriam mais afetados pelo vírus. Enquanto 40% dos europeus possuem deficiência
moderada e 13% grave, menos de 5% no Japão apresentavam deficiência moderada.
Há ainda a hipótese de que os genes HLA (antígeno leucocitário humano) dão
resistência ao vírus ou se os japoneses possuem uma frequência maior deles.
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
14-26
Uma hipótese refutada foi sobre a possibilidade de maior resistência devido às
vacinas BCG para tuberculose, que são obrigatórias no Japão. A estirpe utilizada
na vacina não foi modificada, como as utilizadas em países europeus ocidentais.
Contudo, essas mesmas condições são atendidas pelo Brasil e Rússia, nações
que apresentaram elevados números de casos de COVID (Iwasaki e Grubaugh
2020; Sayeed e Hossain 2020).
Surgiram teorias de âmbito cultural que buscavam explicar a atitude da
população japonesa. Um argumento que poderia explicar o baixo número de testes
realizados é a elevada aderência dos cidadãos japoneses às regras. O sistema
jurídico japonês não permite que o governo imponha um lockdown obrigatório
e, mesmo assim, a população seguiu as recomendações e houve significativa
redução de trânsito de pessoas (Yabe et al. 2020). Esse aspecto cultural de
cumprimento de regras sem caráter punitivo foi apontado como fator diferencial,
mas não exclusivo do Japão, pois a Coreia do Sul e Cingapura também exibiram
quadros similares. Houve também ideias nacionalistas, como a apresentada pelo
Ministro de Finanças do Japão, Taro Aso, que declarou, durante um discurso no
dia 4 de junho de 2020, que o fator diferencial do Japão era o mindo (民度) —
um termo criado na Era Meiji (1868 a 1912) que significa “nível cultural”. Tal
termo implica julgamento de valor e hierarquização de povos e culturas, tendo
sido utilizado por políticos japoneses, no passado, como justificativa para suas
políticas desiguais durante o período de expansão e imperialismo. Aso alegou
que os japoneses deveriam ter orgulho, pois a baixa mortalidade ocorreu graças
à cooperação da população em seguir as regras, mesmo sem ter caráter punitivo,
enquanto outros países falharam, mesmo utilizando a coerção. A ideia defendida
era de que o povo japonês era singular e possuía um nível cultural superior a
outros povos. Essa afirmação foi criticada pela mídia e por outros políticos, como
Maiko Tajima e Kazuo Shii, e Aso retraiu essa observação nos dias seguintes
(Asahi Shimbun 2020b).
Vale relembrar que o pedido de isolamento não foi absolutamente cumprido,
como no caso do hanami no início do ano. E, no segundo semestre, por ocasião
do Halloween, multidões saíram às ruas para celebrar nos principais centros
urbanos, apesar da venda e consumo de álcool terem sido temporariamente
proibidos (Asahi Shimbun 2020c; Takahashi 2020).
Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
15-26
Shigeru Omi, o vice-diretor do painel japonês de experts de COVID, também
citou o uso de práticas de higiene, como o uso de máscaras e o hábito de lavar as
mãos, analisado como mais comum em crianças japonesas (Denyer e Achenbach
2020; Kopp 2020; Iwasaki e Grubaugh 2020). Outros comportamentos culturais
japoneses, como a ausência de cumprimentos físicos como abraços e apertos de
mão, a retirada de sapatos na entrada da residência e o uso de máscaras também
foram citados como fatores positivos para menor incidência da doença (Dooley e
Inoue 2020, Iwasaki e Grubaugh 2020, Sayeed e Hossain, 2020). Sayeed e Hossain
(2020) apontaram que aproximadamente 80% dos pacientes não transmitiram
o vírus devido ao menor contato direto entre pessoas.
Contudo, tanto Gordon (2020) e Suzuki (2020) quanto Iwasaki e Grubaugh
(2020) não acreditam que esses seriam os únicos fatores, pois não há
distanciamento social em transporte público nas horas de rush. Os locais de trabalho
também são extremamente vulneráveis devido à proximidade entre os trabalhadores
e a falta de barreiras entre eles. Os estabelecimentos de entretenimento populares
também não encorajam o distanciamento social, como karaokês, pachinkos
(fliperamas) e izakayas (bares). Jeremy Howard, pesquisador americano (apud
Rich 2020a), afirma que o Japão fez praticamente “tudo errado”, ao não fechar
locais com aglomeração como bares e restringir o transporte público, mas alega
que o país acertou no uso de máscaras.
É teorizado que as máscaras foram um motivo diferencial tanto para a COVID
quanto durante as pandemias de SARS e MERS. As máscaras são utilizadas não
apenas por pessoas gripadas, mas também por pessoas que querem evitar adoecerem,
por pessoas com alergia a pólen ou simplesmente pelos que querem esconder o
hálito. A cultura de usar máscaras já existe há décadas no país e foram ironicamente
trazidas e popularizadas por americanos e europeus durante a pandemia da gripe
espanhola em 1918. Tal hábito perdurou no Japão apesar de não ter continuado
popular nos países ocidentais (Rich 2020a). Gordon (2020), Suzuki (2020) e
Iwasaki e Grubaugh (2020) relembram que outros países na Ásia que também
possuem o hábito de usar máscaras tiveram elevados níveis de contágio, mas não
desconsideram o fator das máscaras como parte da resposta. No caso de crianças,
um estudo comprovou que as máscaras diminuíam a probabilidade de contágio
do vírus da gripe comum (Uchida et al 2017 apud Iwasaki e Grubaugh 2020).
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
16-26
Apesar da mortalidade ser significativamente baixa no Japão, suspeita-se
que tenha havido subnotificações e que o número real de mortes seja muito
maior. Diante desse quadro, surgem questionamentos sobre a metodologia e a
infraestrutura para acompanhamento da COVID-19. A metodologia empregada
pelo Japão baseia-se em um sistema desenvolvido, na década de 1950, para
lidar com a epidemia de tuberculose: o rastreamento de clusters (aglomerados de
pessoas). Um time de especialistas traça o caminho que um indivíduo infectado
realizou e assim descobre os locais de aglomeração nos quais o vírus pode ter
sido disseminado. Dentre os principais locais, constavam clubes noturnos, bares,
karaokês e academias (Adelstein 2020a; Wingfield-Hayes 2020b). De acordo com
Suzuki (2020), esse sistema funciona apenas em ambientes com poucos clusters,
que podem ser detectados ainda no período inicial. Esse modelo baseia-se na
condição geográfica japonesa de ser um arquipélago, o que facilita o fechamento
de fronteiras e o controle rígido de aeroportos e portos, e o fator sociocultural
de elevada aderência às normas por parte da sociedade japonesa. O sucesso do
uso de clusters em Hokkaido, no início de 2020, levou a sua adoção em âmbito
nacional (Suzuki 2020).
Outro problema que pode estar distorcendo os dados de contágios e mortes
é a quantidade de testes realizados. Koji Wada (apud Nagira 2000), professor em
saúde pública, argumenta que está ocorrendo o fenômeno de “mortalidade em
excesso”, em que há uma quantidade de óbitos excedentes ao que seria esperado
por ano. Ele também aponta o fenômeno de “mortes invisíveis”, em que pessoas
que morreram pelo vírus nunca foram diagnosticadas (Nagira 2000). Como a
quantidade de testes realizados é muito abaixo do necessário, pesquisadores
indagam qual seria o real número de infectados e mortos. Shigeru Omi, chefe
do grupo de experts organizado pelo governo, acredita que o número real seria
10 ou 20 vezes maior do que o atual (Dooley e Inoue 2020).
A metodologia de identificação do vírus no Japão tem sido criticada por ser
reativa comparada a outros países asiáticos, como Coréia do Sul, Singapura e
Hong Kong, que realizaram testes gratuitos em grande escala e disponibilizaram
rapidamente aplicativos de rastreamento de infecções. A Nova Zelândia e o
Vietnã, considerados paradigmas de estratégias de COVID, realizaram medidas
rígidas como testes em grande escala, fechamento de fronteiras e lockdowns
inflexíveis rapidamente (Wingfield-Hayes 2020b).
Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
17-26
A falta de testes foi criticada tanto por epidemiologistas domésticos quanto
por estrangeiros, que defenderam a importância da realização de testes em
grande escala para identificar e isolar os portadores do vírus que, muitas vezes,
podem ser assintomáticos. Os testes também possibilitam a análise de tendências
de infecção. Pesquisadores de Harvard defendem que a meta seria testar quase
todas as pessoas que possuem sintomas de gripe e, para cada pessoa que testar
positivo, uma média de dez de seus contatos (Dooley e Inoue 2020).
No caso do Japão, mesmo pessoas que possuíam sintomas de gripe tiveram
seus pedidos de exame negados. Profissionais de saúde pediram que retornassem
após quatro dias se os sintomas continuassem — ou dois dias, no caso de idosos.
O Japão nunca realizou a quantidade máxima de testes por dia (24 mil por dia,
inferior a grande parte dos países), o que fomentou teorias de que o governo
estaria tentando esconder o número real de casos para acalmar a população, não
perder a chance de realizar as Olimpíadas e evitar exaurir o sistema de saúde,
o que acabou ocorrendo. Em relação ao último, a lei ditava que as pessoas
que testassem positivo deveriam ser colocadas em alas de quarentena, que são
poucas, o que levou a um desincentivo por parte de profissionais de saúde para
realizar os testes (Dooley e Inoue 2020; Dooley, Rich e Inoue 2020). O Ministro
da Saúde, Yasuyuki Sahara, afirmou que:
Só porque nós temos a capacidade, não quer dizer que precisamos usar
essa capacidade ao máximo” e “não é necessário realizar testes em pessoas
que estão simplesmente preocupadas” (grifo do autor, Swift e Sieg 2020 : 2).
A Associação Médica Japonesa relatou que 290 testes pedidos por médicos
foram negados em centros médicos, em março, durante um período de 20 dias
(Swift e Sieg 2020).
Para melhor compreender a baixa quantidade de testes no Japão, em um
único dia, a China chegou a realizar 455 mil testes em Wuhan, mais que o
triplo de testes que o Japão realizou em meses (278 mil pessoas) (Dooley e
Inoue 2020). Shimizu (et al. 2020) aponta ainda que a dependência em métodos
analógicos sobrecarregou o sistema de saúde japonês. As informações de pacientes
eram registradas em papel, o que resultou em dados incorretos e registros
duplicados.
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
18-26
Figura 2 — Quantidade de testes de COVID-19 per capita
Fonte: Resnick, Brian; Scott, Dylan. 2020. The US lags just about every developed country on testing for Covid-19 disease.
Esse infográfico, realizado no início de março de 2020, demonstra a proporção
de população total e de testes. Na Coréia do Sul, que possui uma população de
51 milhões de pessoas, a proporção de testes era de 3 mil para cada um milhão
de pessoas. Já os EUA tinham a menor proporção, com apenas 23 testes para
Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
19-26
cada milhão, seguido pelo Japão, com 66 testes por milhão de pessoas. Esse
fator é apontado como o diferencial da Coréia do Sul em relação a vários países
na identificação rápida de casos de infecção. O caso desse país é especialmente
emblemático, pois tinha o maior número de casos fora da China no início de
2020. Com o uso de big data, o país traçou os passos dos infectados por meio de
informações de celular, uso de cartão de crédito e imagens de vídeo-vigilância
(Chung 2020). Esse método também foi realizado em Singapura e, apesar de
efetivos, levantam questões de segurança de privacidade (Suzuki 2020).
Acadêmicos e empresários japoneses defendem que o governo deveria ser
mais proativo e criar a capacidade para realizar 10 milhões de testes por dia,
oferecendo-os gratuitamente. Resultados negativos consecutivos seriam uma
maneira de acalmar a população e retornar a um estado de normalidade social
e econômica (Wingfield-Hayes 2020a). Chung (2020) defende a importância
de testes proativos realizados em pessoas assintomáticas pois, dessa forma,
é possível identificar os portadores do vírus assintomáticos. Wingfield-Hayes
(2020b) argumenta que essa demora e grande reatividade por parte do governo
japonês decorrem do fato de que o Japão foi o único país vizinho da China sem
experiência em lidar com epidemias recentes, por ter tido baixa mortalidade
durante a epidemia do SARS que ocorreu de 2002 a 2004.
Considerações finais
A pandemia de COVID-19 abalou o mundo e o Japão não foi exceção.
Entretanto, o cenário catastrófico imaginado não ocorreu. Mesmo estando próximo
à China e sem a implementação de políticas com caráter punitivo, o Japão
apresentou baixa quantidade de casos de 2020 a 2021 (pré-Olimpíadas). Esse
resultado não é possível de ser explicado por um único fator e, pelas contradições
apresentadas, percebe-se que a abordagem é complexa e deve considerar um
conjunto de fatores.
O Japão, divergindo de outros países, não estabeleceu como objetivo
imprescindível a eliminação da doença, mas sua gestão. Fato que pode
explicar parte das discrepâncias analisadas nas políticas governamentais e nos
comportamentos da população. O objetivo do governo tem sido maximizar
esforços para reduzir a transmissão e minimizar os prejuízos socioeconômicos,
resultados obtidos com o controle da disseminação da COVID-19 por meio de
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
20-26
quarentena, distanciamento social e isolamento de pessoas infectadas. Mas,
argumenta Suzuki (2020), a implementação de lockdowns não se percebe como
tão necessárias em razão da elevada aderência às normas por parte da sociedade
japonesa.
Outros fatores considerados favoráveis aos resultados positivos foram:
3 Cs — o governo japonês orientou a população para que evitasse grandes
encontros e viagens sem importância. Incentivou o teletrabalho e que as pessoas
evitassem locais 3Cs (closed spaces, crowded places, close-contact) — fechados,
cheios e aglomerações —, que depois se tornou 3Cs plus, com a inclusão de
recomendações para evitar falar alto e cantar.
Sistema de saúde — além de hospitais orientarem os pacientes não críticos
para ficarem em casa ou em hotéis designados, também foi implementado o uso
de robôs para cuidar de pacientes em hotéis e hospitais, para que as pessoas
possam restringir suas interações com humanos.
Aplicativos — aplicativo para celulares Android e IOS, chamado COCOA
(sigla inglesa para Contact-Confirming Application), para rastrear as pessoas em
contato com pacientes positivos de COVID-19.
Estilo de vida — a baixa prevalência de comorbidade, obesidade e diabetes
na população japonesa proporcionada pelos hábitos alimentares saudáveis e
pela prática de exercícios.
Além desses fatores, foram apontados também rápida disponibilização de
informações corretas, fechamento das fronteiras e de escolas, facilidade de
isolamento geográfico em decorrência de ser um arquipélago, 3 Cs, cumprimento
de regras por parte da população, baixo contato direto entre pessoas, menor
incidência de fatores de risco na população e utilização de máscaras (Denyer e
Achenbach 2020; Kopp 2020; Iwasaki e Grubaugh 2020; Sayeed e Hossain 2020).
Compreender os resultados do Japão sobre a pandemia é um aprendizado de
interesse não apenas neste momento atual, mas também para futuras pandemias,
que podem ter consequências ainda mais drásticas. Alguns fatores são específicos
ao país (arquipélago, pouco contato físico entre pessoas, uso de máscaras e
aderência voluntária da população às regras). Porém, Sayeed e Hossain (2020)
apontam que há etapas aplicadas pelo Japão que poderiam ser universais como:
(I) detecção precoce de clusters e rápida resposta inicial; (II) aprimoramento do
sistema de saúde e de cuidados intensivos e (III) alteração no comportamento
dos cidadãos, assim como a importância da disseminação de informação em
grande escala para a população.
Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
21-26
Referências
Adelstein, Jake. 2020(a). Japan’s contact-tracing method is old but gold. In: Asia Times.
Disponível em: https://asiatimes.com/2020/06/japans-contact-tracing-method-is-
old-but-gold/ Acesso em 23 jun. 2020.
Adelstein, Jake. 2020(b). Abe critics think school closing meant to distract. In: Asia
Times. Disponível em: https://asiatimes.com/2020/02/abe-critics-think-school-
closing-meant-to-distract/ Acesso em 27 out. 2020.
Al Jazeera. 2020. Tokyo’s Koike re-elected governor, buoyed by coronavirus handling.
Disponível em: https://www.aljazeera.com/news/2020/7/6/tokyos-koike-re-elected-
governor-buoyed-by-coronavirus-handling Acesso em 18 jul. 2020.
Asahi Shimbun. 2000(a). 2,000 COVID-19 patients defying instructions to stay at hotels.
Disponível em: www.asahi.com/ajw/articles/13353914 Acesso em 16 maio 2020.
Asahi Shimbun. 2020(b). COVID-19 reports sparking boorish behavior in communities.
Disponível em: www.asahi.com/ajw/articles/13339506 Acesso em 6 maio 2020.
Asahi Shimbun. 2020(c). Virus scares off Halloween-goers in Shibuya but not rest of
Japan. Disponível em: http://www.asahi.com/ajw/articles/13891725 Acesso em
nov. 1. 2020.
Associated Press. 2020. Shinzo Abe resigns as Japan PM; successor Yoshihide Suga says
COVID-19, economy will be his top priorities. Disponível em: https://www.firstpost.
com/world/shinzo-abe-resigns-as-japan-pm-successor-yoshihide-suga-says-covid-
19-economy-will-be-his-top-priorities-8820031.html Acesso em 16 set. 2020.
Berlinger, Joshua. 2020. Japan’s Shinzo Abe returns to hospital on day he becomes
country’s longest-serving Prime Minister. In: CNN. Disponível em: https://edition.
cnn.com/2020/08/24/asia/shinzo-abe-health-tenure-intl-hnk/index.html Acesso
em 29 ago. 2020.
Bloom, David; Kirby, Paige; Sevilla, Jo; Stawasz, Andrew. 2018. Japan’s age wave:
Challenges and solutions. In: VOX CEPR Policy Portal. Disponível em: https://voxeu.
org/article/japan-s-age-wave-challenges-and-solutions Acesso em 26 mar. 2020.
Channel New Asia. 2020. 66 more people found to have coronavirus on Diamond Princess
cruise ship in Japan. https://www.channelnewsasia.com/news/asia/wuhan-virus-
coronavirus-japan-cruise-ship-diamond-princess-12416970 Acesso em 15 out. 2020.
Chung, Doug J. 2020. What South Korea Teaches The World About Fighting COVID.
In: Forbes. Disponível em: https://www.forbes.com/sites/hbsworkingknow
ledge/2020/06/16/what-south-korea-teaches-the-world-about-fighting-covid/
?sh=739112de3e36 Acesso em 1 nov. 2020.
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
22-26
Denyer, Simon e Achenbach, Joel. 2020. Researchers ponder why covid-19 appears
deadlier in the U.S. and Europe than in Asia. In: The Washington Post. Disponível
em: https://www.washingtonpost.com/world/researchers-ponder-why-covid-appears-
more-deadly-in-the-us-and-europe-than-in-asia/2020/05/26/81889d06-8a9f-11ea-
9759-6d20ba0f2c0e_story.html Acesso em 4 nov. 2020.
Dooley, Ben; Rich, Motoko; Inoue, Makiko. 2020. In Graying Japan, Many Are Vulnerable
but Few Are Being Tested. In: The New York Times. Disponível em: https://nyti.
ms/3adlAJV Acesso em 3 mar. 2020.
Dooley, Ben. 2020. Japan’s Locked Borders Shake the Trust of Its Foreign Workers.
In: The New York Times. Disponível em: https://www.nytimes.com/2020/08/05/
business/japan-entry-ban-coronavirus.html Acesso em 17 mar. 2020.
Dooley, Ben; Inoue, Makiko. 2020. Testing Is Key to Beating Coronavirus, Right? Japan
Has Other Ideas. In: The New York Times. Disponível em: https://www.nytimes.
com/2020/05/29/world/asia/japan-coronavirus.html?searchResultPosition=20
Acesso em 3 jun. 2020.
Furutani, Kasey. 2020. Tokyo Governor Yuriko Koike releases weekly English video
updates on coronavirus. In: Time Out. Disponível em: https://www.timeout.com/
tokyo/news/tokyo-governor-releases-weekly-english-video-updates-on-covid-19-
coronavirus-041720 Acesso em 28 jul. 2020.
Gordon, Andre. 2020. Explaining Japan’s Soft Approach to COVID-19. In: Harvard
University: EPICENTER. Disponível em: https://epicenter.wcfia.harvard.edu/blog/
explaining-japans-soft-approach-to-covid-19 Acesso em 8 ago. 2020.
Gulf News. 2020. COVID-19: Why is Japan struggling to work from home?. Disponível
em: https://gulfnews.com/world/asia/covid-19-why-is-japan-struggling-to-work-
from-home-1.1587880838423 Acesso em 10 out. 2020.
Harbage, Claire. 2020. Tokyo Cherry Blossom Festival Draws Crowds Despite
Coronavirus Warnings. In: NPR. Disponível em: https://www.npr.org/sections/
pictureshow/2020/03/24/820109359/tokyo-cherry-blossom-festival-draws-crowds-
despite-coronavirus-warnings Acesso em 8 maio 2020.
Ipsos. 2020(a). Coronavirus: opinion and reaction: results from a multi-country
poll. Disponível em: https://www.ipsos.com/sites/default/files/ct/news/
documents/2020-02/coronavirus-topline-results-ipsos.pdf Acesso em 2 nov. 2020.
Ipsos. 2020(b). Tracking the Coronavirus: results from a multi-country poll. Disponível
em: https://www.ipsos.com/sites/default/files/ct/news/documents/2020-03/
tracking-the-coronavirus-wave-4-ipsos.pdf Acesso em 2 nov. 2020.
Iwasaki, Akiko; Grubaugh, Nathan. 2020. Why does Japan have so few cases of COVID-19?.
In: EMBO Molecular Medicine, v. 12.
Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
23-26
Japanese Statistics Bureau. 2021. Japan Statistical Yearbook 2021. Disponível em: https://
www.stat.go.jp/english/data/nenkan/70nenkan/index.html
Japan Times. 2020(a). Almost 99% of Japan’s public elementary schools shut as COVID-19
spreads. Disponível em: https://www.japantimes.co.jp/news/2020/03/05/national/99-
japan-elementary-schools-close-doors-coronavirus/ Acesso em 10 out. 2020.
Japan Times. 2020(b). Fears grow that Japan’s birth rate and aging crisis could be worsened
by pandemic. Disponível em: https://www.japantimes.co.jp/news/2020/08/18/
national/social-issues/birth-rate-aging-crisis-coronavirus Acesso em 18 ago. 2020.
Japan Times. 2020(c). Kabuki rolls with the times and launches paid streaming site.
Disponível em: https://www.japantimes.co.jp/culture/2020/08/26/stage/kabuki-
online-coronavirus/ Acesso em 26 ago. 2020.
Kingston, Jeff. 2020. COVID-19 Is a Test for World Leaders. So Far, Japan’s Abe Is
Failing. In: The Diplomat. Disponível em: https://thediplomat.com/2020/04/covid-
19-is-a-test-for-world-leaders-so-far-japans-abe-is-failing/ Acesso em 10 out. 2020.
Kopp, Rochelle. 2020. Is Japan’s low COVID-19 death rate due to a ‘higher cultural
level’? In: The Japan Times. Disponível em: https://www.japantimes.co.jp/
opinion/2020/06/12/commentary/japan-commentary/japans-low-covid-19-death-
rate-due-higher-cultural-level/ Acesso em 13 ago. 2020.
Kretchmer, Harry. 2020. Key milestones in the spread of the coronavirus pandemic. In:
World Economic Forum. Disponível em: https://www.weforum.org/agenda/2020/04/
coronavirus-spread-covid19-pandemic-timeline-milestones/ Acesso em 19 jul. 2020.
Kubota, Yoko. 2020. Japan Reports Country’s First Death Linked to Novel Coronavirus.
In: The Wall Street Journal. Disponível em: https://www.wsj.com/articles/japan-
reports-countrys-first-death-linked-to-novel-coronavirus-11581600084 Acesso em
1 nov. 2020.
Kyodo News. 2020. Tokyo survey shows 79% of Olympic volunteers concerned about
COVID-19. Disponível em: https://english.kyodonews.net/news/2020/10/05
618e6338c6-urgent-tokyo-survey-shows-79-of-olympic-volunteers-concerned-about-
covid-19.html Acesso em 28 out. 2020.
Lam, Greg. 2020. In: Life Where I’m From (LWIF) EP147: Tokyo’s Coronavirus Timeline
(COVID-19 in Japan. Jan 16 — May 25, 2020). https://www.lifewhereimfrom.com/
lwif-ep147-tokyos-coronavirus-timeline-covid-19-in-japan/ Acesso em 11 out. 2020.
Mainichi. 2020. Abe’s ‘stay home’ message has fueled anger. Disponível em: https://
mainichi.jp/english/articles/20200413/p2g/00m/0na/069000c Acesso em
16 set. 2020.
Ministry of Health, Labor and Welfare of Japan. 2020. 10 things to know about the
COVID-19 as of right NOW.
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
24-26
Nagira, Mirai. 2020. Japan’s COVID-19 ‘excess mortality’ relatively low, but fails to
show whole picture. In: The Mainichi. Disponível em: https://mainichi.jp/english/
articles/20200807/p2a/00m/0na/022000c Acesso em 27 out. 2020.
Nippon. 2020(a). Fear of COVID-19 Tops Japanese Anxiety Survey. Disponível em:
https://www.nippon.com/en/japan-data/h00776/fear-of-covid-19-tops-japanese-
anxiety-survey.html Acesso em 22 ago. 2020.
Nippon. 2020(b). Japan Sees Rise in Severe COVID-19 Cases in August. Disponível em:
https://www.nippon.com/en/japan-data/h00799/japan-sees-rise-in-severe-covid-
19-cases-in-august.html Acesso em 29 out. 2020.
Oliveira Neto, Thiago; Garcia, Tatiana de Souza Leite; Spinussi, Eduardo. 2020. Pandemia
de COVID-19, as fronteiras pelo mundo e o transporte aéreo na Itália. In: Confins,
n. 44. Disponível em: https://journals.openedition.org/confins/27577. Acesso em
4 mar.2021
Osaki, Tomohiro. 2020. Abenomask? Prime minister’s ‘two masks per household’ policy
spawns memes on social media. In: Japan Times. Disponível em: https://www.
japantimes.co.jp/news/2020/04/02/national/abe-two-masks-social-media/ Acesso
em 19 jun. 2020.
Osumi, Magdalena. 2020. As Japan partially lifts re-entry ban on foreign residents,
concerns grow over strict procedures. In: Japan Times. Disponível em: https://
www.japantimes.co.jp/news/2020/08/31/national/social-issues/japan-reentry-ban-
foreign-residents-procedures/ Acesso em 6 out. 2020.
Resnick, Brian; Scott, Dylan. 2020. The US lags just about every developed country
on testing for Covid-19 disease. In: VOX. Disponível em: https://www.vox.com/
science-and-health/2020/3/12/21175034/coronavirus-covid-19-testing-usa. Acesso
em: 10 out. 2020.
Reuters. 2020. Japan’s cabinet approves plan for free COVID-19 vaccines. Disponível em:
https://www.reuters.com/article/us-health-coronavirus-japan-vaccine-idUSKBN27C12F
Acesso em 1 nov. 2020.
Reynolds, Isabel. 2020. Tokyo Gov. Yuriko Koike scores win against Abe over business
closures. In: Japan Times. Disponível em: https://www.japantimes.co.jp/
news/2020/04/11/national/politics-diplomacy/shinzo-abe-yuriko-koike-tokyo-
shutdown-coronavirus/ Acesso em 19 out. 2020.
Rich, Motoko. 2020(a). Is the Secret to Japanʼs Virus Success Right in Front of Its
Face?. In: The New York Times. Disponível em: https://nyti.ms/3dF4p5X Acesso
em 19 set. 2020.
Rich, Motoko. 2020(b). Weʼre in a Petri Dishʼ: How a Coronavirus Ravaged a Cruise
Ship. In: The New York Times. Disponível em: https://nyti.ms/2SPO4nl Acesso
em 3 jul. 2020.
Alexandre Ratsuo Uehara; Beatriz Kaori Miyakoshi Lopes
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
25-26
Rodgers, Greg. 2020. Golden Week in Japan. In: Trip Savvy. Disponível em: https://
www.tripsavvy.com/golden-week-in-japan-1458351 Acesso em 10 nov. 2020.
Rowland, Donald T. 2012. Population Aging: The Transformation of Societies. In: Series:
POWELL, Jason L., CHEN, Sheying (eds.). In: International Perspectives on Aging.
Australian National University: Springer Science.
Ryall, Julian. 2020. Okinawa asks Golden Week tourists to stay away over coronavirus
concerns. In: South China Morning Post. https://www.scmp.com/week-asia/health-
environment/article/3081886/amid-coronavirus-concerns-okinawa-pleads-tourists-
stay. Acesso em 3 nov. 2020.
Sayeed, Urme Binte; Hossain, Ahmed. 2020. How Japan managed to curb the pandemic
early on: Lessons learned from the first eight months of COVID-19. In: J Glob Health.
Dec, 10(2): 020390. Published online 2020. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.
nih.gov/pmc/articles/PMC7688188/ Acesso em 3 Jan. 2020.
Shimizu, Kazuki; Wharton, George; Sakamoto, Haruka; Mossialos, Elias. 2020. Resurgence
of COVID-19 in Japan: The government looks set to repeat its mistakes. In: The
BMJ. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1136/bmj.m3221 Acesso em 12 out. 2020.
Suzuki, Kazuto. 2020. COVID-19 Strategy: The Japan Model. In: The Diplomat. Disponível
em: https://thediplomat.com/2020/04/covid-19-strategy-the-japan-model/ Acesso
em 14 out. 2020.
Swift, Rocky; Sieg, Linda. 2020. Japan uses just a fraction of its coronavirus testing
capacity. In: Reuters. Disponível em: https://www.reuters.com/article/us-health-
coronavirus-japan-testing/japan-uses-just-a-fraction-of-its-coronavirus-testing-
capacity-idUSKBN2150ZR Acesso em 1 nov. 2020.
Takahashi, Ryusei. 2020. Halloween in Shibuya: Mayhem ensues despite increased security
and ban on alcohol. In: Japan Times. Disponível em: https://www.japantimes.
co.jp/news/2019/11/01/national/tokyo-shibuya-japan-halloween/ Acesso em
1 nov. 2020.
Toyoka, Ryo. 2020. At record pace, population of Japan falls for 9th straight year. In:
Asahi Shimbun. Disponível em: www.asahi.com/ajw/articles/13299462 Acesso
em 20 abr. 2020.
Toyokeizai. 2020. Coronavirus Disease (COVID-19) Situation Report in Japan: tested
Positive by Age. Disponível em: https://toyokeizai.net/sp/visual/tko/covid19/
en.html Acesso em 31 mar. 2021.
Tsukidate, Ayako. 2020. Stay home policy to curb COVID-19 cited for making dementia
worse. In: Asahi Shimbun. Disponível em: www.asahi.com/ajw/articles/13609360
Acesso em 9 ago. 2020.
Wingfield-Hayes. 2020(a). Coronavirus: Japan’s low testing rate raises questions. Disponível
em: https://www.bbc.com/news/world-asia-52466834 Acesso em 2 jul. 2020.
Covid-19 no Japão: o que (não) explica a relativa baixa incidência
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1200, 2021
26-26
Wingfield-Hayes. 2020(b). Coronavirus: Japan’s mysteriously low virus death rate.
Disponível em: https://www.bbc.com/news/world-asia-53188847 Acesso em
14 jul. 2020.
World Health Organization. 2021. WHO Coronavirus Disease (COVID-19) by Country
Dashboard. Disponível em: https://covid19.who.int/ Acesso em 3 out. 2021.
Yabe, Takahiro; Tsubouchi, Kota; Fujiwara, Naoya; Wada, Takayuki; Sekimoto, Yoshihide;
Ukkusuri, Satish. 2020. Noncompulsory measures sufficiently reduced human
mobility in Tokyo during the COVID19 epidemic. Nature, v. 10. Disponível em:
https://doi.org/10.1038/s41598-020-75033-5 Acesso em 29 ago. 2021.
Yukinori, Hashino. 2020. Cholera Outbreaks and Public Health in Modernizing Japan.
Disponível em: https://www.nippon.com/en/japan-topics/g00854/ Acesso em 14.
set. 2020.