Pedro Rocha Fleury Curado; Gabriel Gonçalves Ribeiro
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1175, 2021
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O Cazaquistão entre as potências:
um balanço da política externa
multivetorial durante os anos
Nazarbaev (1991-2019)
Kazakhstan among the great powers:
an assessment of multivectorial foreign
policy during the Nazarbayev years
(1991-2019)
Kazajstán entre las potencias:
un análisis de la política exterior
multivectorial durante los años de
Nazarbaev (1991-2019)
DOI: 10.21530/ci.v16n3.2021.1175
Pedro Rocha Fleury Curado
1
Gabriel Gonçalves Ribeiro
2
Resumo
A presente pesquisa objetiva analisar a política externa do
Cazaquistão durante o governo de Nur-Sultan Nazarbaev
(1991-2019). Descrita como multivetorial”, a política externa
cazaque buscou multiplicar o número de parceiros estratégicos
(vetores) no plano internacional. Valendo-se de conceitos da
geografia política, o presente trabalho explora a dupla condição
1 Doutor em Economia Política Internacional (PEPI-UFRJ). Professor Adjunto
do Instituto de Relações Internacionais e Defesa da Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. (pedro.rocha@irid.ufrj.br).
ORCID: https://orcid.org/0000-0001-9827-5130
2 Mestrando em Economia Política Internacional pela Universidade Federal do
Rio de Janeiro. (gabrielgr0191@gmail.com).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-0486-4266
Artigo submetido em 29/03/2021 e aprovado em 10/10/2021.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ISSN 2526-9038
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de Estado-tampão e Estado sem litoral para enfatizar os limites da inserção multivetorial
cazaque. Para tanto, o texto examina a evolução das relações do país com Rússia, China
e países do Ocidente, diferenciando a participação de cada vetor em temas relacionados
às esferas militar e econômica.
Palavras-chave: Estado-tampão; Landlocked state; Ásia Central; Geografia Política; Comércio
Internacional.
Abstract
The present research aims to analyze the foreign policy of Kazakhstan during the government
of Nur-Sultan Nazarbayev (1991-2019). Described as “multi-vector”, Kazakh foreign policy
sought to multiply the number of strategic partners (vectors) at the international level.
Drawing on concepts from political geography, this paper explores the dual condition of
buffer-state and landlocked state to emphasize the limits of Kazakh multivector insertion.
To this end, the text examines the evolution of the country’s relations with Russia, China
and Western countries, differentiating the participation of each vector in themes related
to the military and economic spheres.
Key-words: Buffer-state; Landlocked state; Central Asia; Political Geography; International
trade.
Resumen
Esta investigación tiene como objetivo analizar la política exterior de Kazajstán durante el
gobierno de Nur-Sultan Nazarbaev (1991-2019). Descrita como “multivectorial”, la política
exterior de Kazajstán buscaba multiplicar el número de socios estratégicos (vectores) a
nivel internacional. Basándose en conceptos de la geografía política, este artículo explora
la condición dual del estado tampón y el estado sin litoral para enfatizar los límites de la
inserción multivectorial kazaja. Para ello, el texto examina la evolución de las relaciones
del país con Rusia, China y los países occidentales, diferenciando la participación de cada
vector en temas relacionados con el ámbito militar y económico.
Palabras clave: Estado-tampón; Estado sin litoral; Asia Central; Geografía Política; Comercio
Internacional.
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Introdução
No dia 19 de maio de 2019, Nursultan Nazarbaev, presidente da República
do Cazaquistão, desde 1991, renunciou ao cargo. Ato contínuo, o antigo ministro
das relações exteriores (entre 1994 e 1999) e ex-presidente do senado, Kassym-
Jomart Tokayev, assumiu seu lugar na presidência. Desde então, verifica-se o
crescimento do interesse acadêmico em compreender os anos Nazarbaev. Seu
papel na história do Cazaquistão tende a ser visto como o de um Pater patriae,
isto é, um “pai da nação”, um personagem decisivo para a fundação do país. Ao
longo dos quase trinta anos em que esteve no poder, o ex-presidente cazaque
comandou um regime autoritário responsável simultaneamente pela construção
do Estado e suas instituições, por planejar as linhas mestras do desenvolvimento
econômico e pela invenção de uma identidade nacional forjada em um espaço
multiétnico e pluriconfessional herdado de uma antiga república soviética.
No plano internacional, o governo Nazarbaev caracterizou-se pela política
externa “multivetorial”. Segundo essa orientação, o país buscaria diversificar suas
parcerias diplomáticas e comerciais, especialmente entre as grandes potências,
multiplicando, com isso, os vetores de inserção externa. A orientação segue válida
ainda hoje, posto que Tokayev, após assumir a presidência, em 2019, garantiu a
continuidade da política externa cazaque segundo a mesma linha de seu antecessor.
A política externa multivetorial do Cazaquistão foi, ao longo dos anos,
objeto de diferentes trabalhos na literatura especializada. Pasinetti, Boulègue e
Pavlova (2014), por exemplo, destacou seu papel como um instrumento de soft
power. Diyarbakirhoglu e Yigit (2014) observaram nela um elemento garantidor
da estabilidade interna do regime cazaque em uma Ásia Central politicamente
volátil. Já Anceschi (2020) enfatizou sua condição de alicerce para a construção
de uma identidade nacional “eurasiática” no plano doméstico.
O presente trabalho inscreve-se nos debates sobre a política externa
multivetorial cazaque, durante os anos Nazarbaev, dedicando especial atenção
à evolução das relações do país com a Rússia e a China. Para tanto, propõe um
duplo objetivo: 1) identificar quais os instrumentos diplomáticos e econômicos
mobilizados para conferir sustentação à estratégia de inserção multivetorial no
plano internacional; 2) analisar a evolução da política externa vis-à-vis o processo
de reconfiguração de forças no tabuleiro geopolítico asiático da última década,
marcado sobretudo pela ascensão da China à condição de potência econômica e
militar global. Como questão de fundo, a pesquisa interroga-se sobre a viabilidade
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de uma política externa multivetorial em um cenário de acirramento das disputas
geopolíticas, entre grandes potências, por zonas de influência em áreas periféricas
do espaço eurasiático.
Para organizar a leitura sobre os limites do multivetorialismo cazaque, o texto
valeu-se dos conceitos de Estado-tampão e Estado sem litoral (“landlocked state”).
Optou-se pela análise, em separado, dos três vetores principais: a Rússia, a China
e os países ocidentais. Aspectos securitários e econômicos foram abordados em
cada caso, a fim de melhor expor o grau de interação desenvolvido.
O enfoque adotado inscreve a política externa cazaque em uma perspectiva
ampla, que considera a evolução dos principais traços da geopolítica global
e, principalmente, eurasiática. Mais precisamente, a orientação multivetorial é
compreendida a partir de dois fatores estruturantes, isto é, a influência do poder
russo na política doméstica cazaque e as possibilidades abertas pelo incremento
progressivo de parcerias estratégicas com a China. Desde a independência, o risco do
país manter-se atrelado à órbita russa orientou o governo cazaque, e a formulação
de uma política externa multivetorial serviu para traduzir essa preocupação em
uma estratégia de ação para as relações exteriores. Nessa perspectiva, o incremento
da presença chinesa na Ásia Central, nas duas últimas décadas, gradativamente
serviu para contrabalançar as relações privilegiadas do Cazaquistão com a Rússia.
A exploração desse enredo compõe o argumento central deste artigo.
O texto está organizado em cinco partes, além desta introdução e das
considerações finais. Na primeira, discute-se de que modo as características de
Estado-tampão e Estado sem litoral impõem constrangimentos duradouros à
política externa. A segunda, terceira e quarta partes exploram, em separado, as
relações do país com três diferentes vetores de inserção internacional. São eles,
por ordem, a Rússia, os países ocidentais e a China. Na quinta parte, analisa-se
a participação do governo de Nazarbaev em organizações multilaterais e o
recente processo de acomodação dos interesses chinês e russo no Cazaquistão
e, de forma ampliada, na Ásia Central.
A posição geográfica do Cazaquistão como fator determinante
para a orientação da política externa multivetorial
Logo após a posse para a presidência, celebrada em 1 dezembro de 1991,
Nazarbaev resumiu da seguinte forma a política multivetorial cazaque:
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“O desenvolvimento de relações amigáveis e previsíveis com todos os Estados
que possuem papel significante na política global e representam interesses
práticos para nosso país. Cazaquistão, por conta de sua posição geopolítica
e potencial econômico, não pode se limitar a problemas regionais menores.
Isso não seria compreensível nem para nossa população multiétnica nem
para a totalidade da comunidade internacional. O futuro do Cazaquistão está
tanto na Ásia como na Europa, tanto à Leste como à Oeste. É perseguindo
essa política que seremos capazes de evitar qualquer manifestação de ameaça
à segurança do Cazaquistão. Seremos capazes de fortalecer condições
externas favoráveis através de transformações econômicas e políticas em
nosso país” (Qazaqstan Tarihy. Tradução nossa).
3
As três teses centrais da política multivetorial estão resumidas neste breve
parágrafo. Primeiramente, a intenção manifesta por ampliar as relações com
o maior número de parceiros. Em seguida, o papel dedicado às organizações
multilaterais para a consecução dessas parcerias. Por fim, a premissa de que o
incremento das capacidades estatais nas esferas econômica e securitária serviriam
como uma base de sustentação doméstica para uma atuação pró-ativa no plano
internacional. A posição geopolítica, por sua vez, é descrita como um ativo a
serviço de um papel protagônico no sistema interestatal. Mais especificamente, a
autorrepresentação do Cazaquistão como um corredor civilizacional responsável
por conectar territorialmente o leste e o oeste do espaço eurasiático reforçaria
uma “natural” vocação por construir internacionalmente uma rede de relações
amparada por múltiplas parcerias. Características relacionadas à geografia política
e à história foram portanto mobilizadas, no plano discursivo, para justificar e
legitimar a orientação multivetorial no plano exterior.
Se, por um lado, a exaltação discursiva da vocação integracionista e suas
multiparcerias apoia-se na posição do território cazaque no espaço eurasiático,
por outro lado, ela obscurece as implicações securitárias determinadas pelo fato
do país compartilhar longas fronteiras com duas potências globais, a Rússia (7.644
km) e a China (1.765 km)4. Segundo teses comuns à geografia política, a política
3 No original: "the development of friendly and predictable relations with all states that play a significant role in
global politics and represent practical interest for our country. Kazakhstan, because of its geopolitical position
and economic potential, cannot limit itself to narrow-regional problems. This would not be understandable
to not only our multiethnic population but the entire international community. Kazakhstan’s future is both in
Asia and Europe, in East and West. By pursuing exactly this policy will we be able to avert any manifestations
of threats to Kazakhstan’s security. We will be able to strengthen favorable external conditions by economic
and political transformations in our country”.
4 Além da Rússia e da China, o Cazaquistão tem fronteiras com o Turcomenistão (413 km), o Quirguistão (1.212
km) e o Uzbequistão (2.233 km).
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externa de qualquer país prioriza, em primeiro lugar, garantir a segurança do
território nacional contra potenciais ameaças e invasões. As potências exercem
esse princípio buscando ampliar sua zona de segurança para além de sua fronteira,
incorporando Estados menores e vizinhos às suas estratégias nacionais de
defesa. Tal processo ocorre através da construção de zonas-tampão (ou zonas de
segurança), que transbordam os limites do território e se estendem aos Estados
próximos a partir da construção de vínculos de dependência política, militar e
econômica. Nesse processo, os Estados vizinhos menores têm a formulação de
suas políticas externas fortemente impactada pelas demandas de ordem securitária
da potência vizinha (Costa 2008).
O Cazaquistão situa-se geograficamente posicionado entre duas grandes
potências, separando do contato terrestre Rússia e China e constituindo, dessa
forma, um caso típico de “Estado-tampão”. Estudando especificamente o tema,
Michael Partem (1983) definiu a condição de Estado-tampão (“Buffer-state”)
como aquela que reune determinadas condições geográficas, capacidades estatais
adaptáveis às mudanças no equilíbrio de poder entre os vizinhos e política
externa preferencialmente independente, mas que evita maiores engajamentos
externos para além do apoio a organizações multilaterais. Analisando quatro
estudos de caso (Afeganistão, Camboja, Bélgica e Líbano), em períodos distintos,
Partem concluiu que uma consequência direta da condição de Estado-tampão é a
existência de um universo restrito de opções diplomáticas, sendo a neutralidade
uma orientação comum especialmente em contextos nos quais as potências
vizinhas são rivais. As relações diretas entre as potências vizinhas, entretanto,
tendem a passar por mudanças ao longo do tempo, forçando o Estado-tampão
a periodicamente adaptar-se à reconfiguração das forças. Em casos extremos
de conflito aberto entre os vizinhos poderosos, o Estado-tampão dificilmente
conseguiria evitar os impactos sobre a condução autônoma de sua política externa.
A existência de múltiplos acordos de cooperação militar e técnica entre Rússia
e China, assinados nas últimas décadas, somado ao incremento do comércio
entre os países, reforça a percepção de que um cenário de rivalidade latente
ou de conflito aberto entre as duas potências apresenta baixa probabilidade
de ocorrer no curto prazo, embora não se descarte o acirramento das tensões
no futuro, conforme o progressivo crescimento da economia chinesa imponha
constrangimentos aos consolidados interesses regionais russos. Enquanto as
duas potências vizinhas mantêm relações próximas e cooperativas, cria-se um
ambiente externo favorável à experimentação por parte da política externa
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cazaque. Se a condição de Estado-tampão impõe a busca permanente por um
equilíbrio neutro entre os vizinhos poderosos, a existência temporal de um
ambiente de cooperação entre os mesmos amplia a margem de ação para uma
política externa independente. Seu alcance, porém, não deve ser exagerado.
Como se verá a seguir, há ainda um outro determinante geográfico a moldar a
construção de laços de amizade do Cazaquistão com a China e a Rússia.
A importância de China e Rússia para o comércio internacional do Cazaquistão
transcende o papel representado por seus mercados para as exportações cazaques.
Por conta do Cazaquistão ser um país sem acesso aos oceanos, a sua produção
doméstica voltada para o comércio exterior de longa distância depende do
acesso aos portos localizados fora de seu território. O acesso mais eficiente e
rápido para o oceano Pacífico ocorre através do território chinês, via Xinjiang.
Já o acesso às rotas marítimas que atravessam o mar Mediterrâneo e o oceano
Atlântico ocorre através do mar Negro, em particular pelo porto de Novorossiysk,
em território russo. Tanto o escoamento quanto a importação de mercadorias
são, portanto, viabilizados através de acordos que permitem a circulação, em
territórios vizinhos, de cargas orientadas para o comércio internacional cazaque.
A ausência de acesso direto aos oceanos caracteriza o Cazaquistão como um
“Estado sem litoral”, ou “landlocked state” (Idan e Shaffer 2011). Observando
especificamente o caso do Cazaquistão, Maxat Kassen (2018) interroga-se como
a ausência de litoral contribuiu para moldar a política externa multivetorial,
especialmente em temas como segurança e integração regional. Para o autor,
a posição geopolítica do Cazaquistão confere ao país uma natural vocação
integracionista que, por sua vez, estaria manifesta, sobretudo, no engajamento
em organizações multilaterais regionais de diferentes escopos. Essa pró-atividade
teria reforçado a capacidade do governo Nazarbaev em se apresentar como um
mediador de conflitos regionais. Tal percepção positiva das realizações da política
multivetorial é também compartilhada por outros autores. Ambrosio e Lange
(2014), por exemplo, fizeram um levantamento dos pronunciamentos oficiais de
Nazarbaev para identificar uma definição para a política externa multivetorial
segundo o próprio discurso oficial. Chegaram à conclusão de que o conceito é
mobilizado pelos agentes políticos de forma coerente e hábil, sendo que sua ênfase
estaria colocada, de forma recorrente, na necessidade de associar o país a um
maior número de parceiros econômicos e na manutenção de relações exteriores
pacíficas, evitando o aparecimento de reais ameaças externas. Nos discursos, o
posicionamento geográfico seria explicitado como fator a conferir legitimidade
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a tais orientações e, simultaneamente, criar condições para o exercício de maior
protagonismo na esfera regional.
Tanto nos trabalhos de Maxat Kassen quanto de Ambrosio e Lange, as
características geográficas são apresentadas unicamente como elementos responsáveis
por oferecer um universo de possibilidades à política externa cazaque, sem
jamais representarem um fator restritivo. A ênfase está na vontade política do
governo Nazarbaev, que, por sua vez, agia de modo a explorar o potencial dado
pela posição geográfica do país. Nesse ponto, os trabalhos deixam de observar
os fatores coercitivos duradouros associados à posição geográfica do país. Tais
fatores, entretanto, são relevantes pois conferem vulnerabilidade ao país diante
das mudanças no ambiente geopolítico regional desenhado pelos vizinhos mais
poderosos. Em suma, a liberdade de ação da política externa cazaque: 1) depende
da evolução dos laços de proximidade estabelecidos entre Rússia e China, sem que
haja garantias de sua durabilidade; 2) não esvazia os riscos estruturais que derivam
das condições geográficas de um país que reúne as características de Estado sem
litoral e Estado-tampão. Portanto, a política externa multivetorial encontra seus
limites no encontro dos interesses regionais das duas potências vizinhas. Mas
quais seriam essas restrições e de que forma elas influenciariam a política externa
multivetorial? A fim de ilustrar tal cenário, os vetores russo, ocidentais (europeus
e estadunidense) e chinês serão tratados a seguir de forma mais detida.
O Cazaquistão e o vetor russo
O Cazaquistão encontra-se parcialmente cercado por China e Rússia, duas
potências nucleares de dimensões continentais, ambos membros permanentes
do Conselho de Segurança das Nações Unidas. As pressões exercidas por esses
países são fatores determinantes para a política externa do Cazaquistão e tensões
relacionadas à dimensão securitária vêm ocorrendo ao longo dos anos (Pasinetti,
Boulègue e Pavlova 2014). Tais tensões foram, de início, melhor expressas nas
relações com a Rússia. As autoridades cazaques têm buscado, desde a origem do
Estado, desenvolver mecanismos para a contenção da influência russa, evitando
a criação de laços de dependência aguda. As relações entre os dois países se
manifesta, de forma desigual, na cooperação técnica e diplomática, no comércio
e na esfera cultural. O próprio Nazarbaev reconhecia no vetor russo a principal
prioridade da política externa cazaque (Genté 2010).
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Após a dissolução da URSS, uma série de medidas foram adotadas por Moscou
para manter sua influência sobre as ex-repúblicas soviéticas (Ciziunas 2008).
A existência de uma diáspora russa foi utilizada como fundamento para que o
governo de Bóris Iéltsin (1991-1999) criasse, em 1993, a “Política do Exterior
Próximo” (Sencerman 2016). Tal doutrina autorizava a Rússia a não somente
intervir militarmente para proteger as populações russófonas fora de seu território,
mas também mencionava o direito de defender “interesses vitais” da Rússia
nas ex-repúblicas soviéticas (Pomfret 2005; Sencerman 2016). No contexto do
surgimento do novo Estado russo, nos anos 1990, a Política do Exterior Próximo
se somava à iniciativa da Comunidade dos Estados Independentes (CEI)5 e à
Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC)6 como instrumentos de
manutenção da influência russa sobre a antiga periferia soviética (Sencerman
2016). Trataremos primeiramente dos impactos econômicos de tais iniciativas
para, em seguida, analisarmos a dimensão securitária.
A despeito de iniciativas como a CEI, os anos seguintes à independência
expuseram o progressivo redirecionamento do comércio cazaque para outros
parceiros de fora do bloco. O relativo descolamento da economia cazaque em
relação à Rússia está exposto nos gráficos abaixo (figuras 1 e 2). Enquanto, em
1995, a Rússia representava quase 50% das exportações e importações cazaques,
esses números haviam baixado, em 2019, para 9,7% e 37%, respectivamente7.
Assim, embora o peso das importações russas mantenha-se atualmente expressivo,
a Rússia deixou de ser o principal destino das exportações ao mesmo tempo
em que o mercado chinês adquiriu relevo (especialmente após 2007, quando
as exportações para a China ultrapassaram, em volume, aquelas destinadas
à Rússia). O déficit comercial cazaque em relação à Rússia é reforçado por
acordos comerciais bilaterais e aqueles firmados no âmbito da União Econômica
Eurasiática (UEE)8. Outro ponto importante a se verificar: os Estados Unidos,
apesar do leve incremento do comércio praticado com o Cazaquistão, no início
5 Criada em 1991, a CEI originalmente integrava a Bielorússia e a Ucrânia, além da Rússia. Posteriormente,
adentraram os seguintes países: Geórgia, Armênia, Cazaquistão, Azerbaijão, Quirguistão, Tajiquistão, Uzbequistão
e Moldávia. Geórgia e Ucrânia foram membros em períodos distintos.
6 A OTSC foi criada em 1992. É atualmente composta por Rússia, Armênia, Bielorússia, Cazaquistão, Quirguistão
e Tadjiquistão. Azerbaijão, Geórgia e Uzbequistão foram membros em períodos distintos.
7 Em 1995, as exportações do Cazaquistão para a Rússia corresponderam a US$2.361 bilhões, enquanto as
importações alcançaram US$1.898 bilhão. Já em 2019, as exportações para a Rússia atingiram o montante de
US$5.602 bilhões, enquanto as importações de produtos russos alcançaram US$14.065 bilhões.
8 Formada em 2014, a UEE substituiu a antiga Comunidade Econômica Eurasiática (CEE). Seus integrantes são:
Cazaquistão, Quirguistão, Rússia, Bielorrússia e Armênia.
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e durante a década de 1990, não desenvolveu uma relação comercial importante
com esse país durante todo o período Nazarbaev.
Figura 1 — Origens das importações cazaques (percentual medido em dólares)
Fonte: Dados obtidos em “World Integrated Trade Solution” e “Trading Economics”. Elaboração própria.
Figura 2 — Destino das exportações cazaques (percentual medido em dólares)
Fonte: Dados obtidos em “World Integrated Trade Solution” e “Trading Economics”. Elaboração própria.
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Além do papel estratégico para o comércio internacional, cabe ressaltar a
atratividade exercida pela economia russa em zonas de fronteira. Dos quatorze
oblasts (departamentos administrativos) existentes no Cazaquistão, sete estão
localizados na fronteira com a Rússia. Ali se verificam diferentes formas de
interação fronteiriça como, por exemplo, a cooperação entre empresas situadas
nos dois lados da fronteira (Pomfret 2005; Genté 2010; Bender 2014). Outro
elemento que envolve contratos comerciais diz respeito ao cosmódromo de
Baikonur, construído, no Cazaquistão, durante o período soviético e que
representa a primeira e maior base de lançamento de foguetes do mundo. Após
a independência, tornou-se formalmente propriedade cazaque, porém sujeito a
uma condicionalidade: o cosmódromo é mantido sob empréstimo para a Rússia
até 2050, com um pagamento anual de aproximadamente US$115 milhões ao
governo cazaque (Laruelle 2010; Gussarova 2018).
Aos temas comerciais se justapõe uma forte agenda securitária. A questão
das minorias étnicas russas em território cazaque frequenta a agenda diplomática
entre os dois países, sendo periodicamente geradora de tensões. Em particular,
os conflitos na Geórgia (2008)9 e na Crimeia (2014)10 foram percebidos pelo
governo Nazarbaev como uma evidência da disposição do governo russo em
utilizar recursos militares em nome da proteção de sua diáspora (Rotaru 2019;
Sullivan 2019). Tais eventos reforçaram o receio cazaque com a possibilidade
da Rússia evocar as mesmas razões para justificar intervenções também na Ásia
Central, especialmente quando governos locais demonstram estar em desacordo
com a agenda externa de Moscou (Bender 2015).
Algo em torno de 24% da população cazaque é considerada etnicamente
russa (Koch 2013; Zarbotseva 2014). Sua localização está concentrada,
majoritariamente, na parte norte do Cazaquistão, próximo à fronteira com a
Rússia. Como consequência, a atuação de movimentos secessionistas russos em
zonas de fronteiras tem sido alvo de monitoramento por parte das autoridades
cazaques. Paralelamente, o governo Nazarbaev investiu em políticas orientadas
para a construção de uma identidade cazaque forjada em torno de uma cultura
eurasiática” (Genté 2010; Anceschi 2020). Tais políticas incluíram, por exemplo,
9 Conflito ocorrido entre a Rússia e a Geórgia em 2008. A Rússia acusou a Geórgia de realizar limpeza étnica
contra os grupos russófonos da Abecásia e da Ossétia do Sul. Entre 2014 e 2015, a Rússia assinou acordos
com as duas regiões separatistas visando à criação de um espaço comum de defesa e segurança.
10 Em fevereiro de 2014, a Rússia ocupou a Crimeia depois de acusar a Ucrânia de ameaçar os russos étnicos
ali presentes. No dia 18 de março, a Rússia anunciou formalmente a anexação da Crimeia após a realização
de um referendo.
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a gradual substituição do russo pelo cazaque em documentos oficiais (Bitabarova
2018; Zarbortseva 2018). Entretanto, o russo ainda é conhecido e falado por uma
ampla maioria da população que, por sua vez, consome massivamente produtos
da indústria cultural russa como canais de televisão e rádio, além da música e
literatura (Bitabarova 2018; Zabortseva 2018).
Por fim, declarações políticas provocativas reforçam a percepção de ameaça
representada pela potência vizinha russa. Recentemente, em 2013, o presidente
russo, Vladimir Putin, afirmou que o Cazaquistão jamais havia tido, do ponto
de vista histórico, o status de Estado (“statehood”). À época, tal declaração foi
interpretada como um questionamento à legitimidade do Cazaquistão em ocupar
o território e existir como Estado-nação. Em resposta, Nazarbaev ameaçou retirar
o país da União Econômica Eurasiática (UEE), mas a ameaça não foi levada
adiante (Bitabarova 2018).
Há, portanto, variados elementos que reforçam a percepção da ameaça russa
impondo limites estratégicos à política externa cazaque. Ao contrário do que faz
entender a exaltação do “multivetorialismo” propalada pelo discurso oficial, não
existe um contraponto consistente à influência russa representado pelos vetores
ocidentais da política externa cazaque, sejam eles países europeus, sejam os
Estados Unidos. Tais vetores são discutidos a seguir.
Os vetores ocidentais
Com a independência, o Cazaquistão herdou da antiga URSS o segundo
principal campo de testes para armas nucleares em Semipalatinsk, além de
1.410 ogivas. Como consequência de fortes pressões internacionais (havia
o receio de que as ogivas pudessem ser contrabandeadas para inimigos da
OTAN), o Cazaquistão assinou o Tratado de Não-Proliferação Nuclear e decidiu
transferir todo seu arsenal para a Rússia em 1995. O processo de transferência
dos armamentos, assim como a eliminação de resíduos químicos e nucleares, foi
amparado pela assistência estadunidense (através do programa “Comprehensive
Threat Reduction”), representando uma primeira aproximação entre os dois
países no âmbito da cooperação securitária (Nichol, 2013).
Entretanto, a principal oportunidade para o aprofundamento das relações
militares do Cazaquistão com os Estados Unidos e a OTAN ocorreu no contexto
da “guerra ao terror” liderada pelo governo de George W. Bush (2001-2009), no
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Afeganistão, desde 2001. A agenda estadunidense de combate ao terrorismo o
levou a buscar maior presença na Ásia Central, reconfigurando o tabuleiro regional
para aquilo que Ahmed Rashid (2002) chamou de o novo “grande jogo” entre
Rússia, China e Estados Unidos pelo controle da região. Na ocasião, o Cazaquistão
forneceu espaço para a instauração de uma base militar americana temporária
responsável por apoiar as tropas dos Estados Unidos e da OTAN, no Afeganistão,
entre 2005 e 2011 (McDermott 2011). O período posterior caracterizou-se pelo
arrefecimento da “guerra ao terror” e tanto as gestões de Barack Obama (2009-
2017) quanto de Donald Trump (2017-2021) buscaram criar condições para a
retirada gradual das tropas americanas do teatro de guerra afegão, reforçando
a percepção de que a Ásia Central não mais dispunha do mesmo interesse na
estratégia estadunidense voltada para a Ásia.
No aspecto securitário, portanto, a aproximação ocorreu em função da
serventia propiciada pela posição geográfica do país em um contexto de guerra
em território próximo. Ocorreu de forma circunstancial e não representou o
estabelecimento de laços duradouros. Posteriormente, outra guerra, a do Iraque,
propiciou novas oportunidades ao Cazaquistão. Por enviar tropas para as missões
de paz naquele país, o governo Nazarbaev logrou estreitar laços com a OTAN
através da assinatura de acordo de cooperação em defesa e a promessa de ajuda
na modernização das forças armadas (McDermott 2011). Tais acordos, entretanto,
possuíam alcance limitado e não representaram uma mudança significativa em
termos de parcerias militares. Ao longo dos cerca de trinta anos de existência
do Cazaquistão, o desenvolvimento de seus setores militares e securitários
mantiveram-se estreitamente dependentes da Rússia, havendo interesse mútuo
na manutenção dos laços (Rousseau 2011). Voltaremos a esse ponto mais adiante.
A geopolítica dos recursos naturais
Ao contrário da dimensão militar e securitária, o setor comercial representou um
elemento de fortalecimento das relações com os países ocidentais mais consistente
e propenso a sustentar interesses de longo prazo. Como se sabe, o Cazaquistão
é um país rico em recursos naturais extrativos como o petróleo, o gás, o carvão,
o urânio e as terras raras. Quanto ao mercado de hidrocarbonetos, o país está
entre os vinte maiores produtores do mundo e entre os dez maiores exportadores
(Boulègue 2015). Ao longo dos anos Nazarbaev, tais características tornaram-se
O Cazaquistão entre as potências: um balanço da política externa multivetorial [...]
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ativos responsáveis por conferir sustentação à política externa multivetorial, pois
foram capazes de atrair o interesse de diferentes países (e empresas multinacionais).
Houve resultados expressivos. A forte atração de investimento estrangeiro direto,
a partir dos anos 2000, por exemplo, permitiu à indústria petrolífera nacional
triplicar sua produção desde a independência (Boulègue 2015).
Economicamente impactado pelo colapso da União Soviética, durante os
primeiros anos de independência, o Cazaquistão dependia da Rússia tanto para
processar petróleo quanto para escoá-lo para os mercados europeus (Sullivan
2019; Kassen 2018). Por tal razão, ao longo da década de 1990, o governo
cazaque buscou reduzir a influência russa dos setores de produção de energia
mobilizando investimentos de países da Europa e Estados Unidos, além de
organizações financeiras internacionais (Koch 2013). Como resultado, obteve
acordos para programas de financiamentos em infraestrutura e cooperação técnica
(Pasinetti, Boulègue e Pavlova 2014). Em particular, a atração de investimentos
estrangeiros para o desenvolvimento do setor de hidrocarbonetos adquiriu um
papel central, pois representava tanto um alicerce para a construção de laços
duradouros com o capital privado internacional quanto um meio de assegurar,
por parte do governo, uma fonte de renda autônoma. Para viabilizar a exploração
do setor, o Cazaquistão dependia crucialmente da importação de equipamentos,
tecnologias, infraestruturas e serviços. Dessa forma, a política multivetorial
buscava multiplicar parceiros comerciais no plano exterior, ao mesmo tempo em
que integrava-se, no plano doméstico, a uma economia rentista, alicerçada na
exploração de recursos extrativistas realizados, majoritariamente, por empresas
estrangeiras (Boulègue 2015).
Dentre os países da União Europeia, Alemanha e Itália destacam-se entre os
principais parceiros (Pomfret 2005; Sorbello 2019). A Alemanha capitaneou, em
2007, a aprovação da iniciativa “New Partnership with Central Asia”. Embora
a iniciativa tratasse de temas amplos como Estado de direito, meio ambiente,
educação e democracia, seus maiores esforços eram dedicados a reformar o setor
de produção energética em países da Ásia Central, além de promover a criação
de rotas alternativas para escoamento de gás e petróleo que não passassem por
território russo (Collins e Bekenova 2016). Tais acordos, quando concretizados,
irão impactar diretamente sobre a geopolítica do abastecimento de energia
aos mercados europeus, posto que, desde 1992, a maior parte da provisão de
hidrocarbonetos oriundos da Ásia Central vem sendo realizada pelo Caspian
Pipeline Cosortium (CPC). Este inclui a participação de companhias como Chevron,
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Mobil, LUKoil, Royal Dutch Shell, Rosneft e British Petroleum, além de utilizar
canais de escoamento através do Mar Negro que atravessam o território russo
até o porto de Novorossiysk (Genté 2010).
Já a Itália tornou-se, com o passar dos anos, um mercado importador
importante para a produção cazaque. A Itália tem sido a maior receptora única
das exportações cazaques de forma contínua, desde 2006, com a grande maioria
dessas exportações sendo de petróleo e ficando em segundo lugar somente
entre os anos de 2010 e 2012, durante os quais a China foi a principal receptora
de exportações do Cazaquistão (Sorbello 2019; Frappi 2012). A participação
italiana na região ocorre através da ENI, estatal petrolífera, e de companhias
prestadoras de serviços, como as construtoras Bonatti, Sicim e Rosetti Marino. Estas
formam parcerias com as empresas cazaques, mantendo as atenções totalmente
dedicadas, direta ou indiretamente, aos processos e projetos de extração e ao
transporte de hidrocarbonetos (Sorbello 2019). Desde a década de 1990, Itália e
Cazaquistão mantêm vigentes consórcios para explorar e desenvolver os campos
de Karachaganak e de Kashagan.
A intensa participação italiana tanto na indústria petrolífera quanto nas
exportações cazaques resultou em diversos benefícios, entre eles a abertura
de opções comerciais e técnicas menos dependentes da Rússia (Sorbello 2011).
Há investimento tecnológico e financeiro realizado pelas empresas italianas na
extração, em parceria com empresas cazaques (como a KazMunaiGas). Além
disso, as empresas estrangeiras se comprometem a contratar uma quantidade
mínima de trabalhadores locais (Frappi 2012). Entretanto, a escolha dos canais de
escoamento do gás e do petróleo do Cáspio para o mercado italiano (e europeu,
de modo geral) não ocorre livre de pressões. Em respeito à parceria estratégica
com a Rússia e buscando evitar a criação de um novo foco de tensão, o governo
Nazarbaev tem privilegiado escoar sua produção através do Caspian Pipeline
Consortium, mesmo havendo como opção alternativa o oleoduto Baku-Tiblíssi-
Ceyhan (BTC) (Winrow, 2006; Laruelle 2010).
O vetor chinês
Acordos de cooperação em segurança e tarifas comerciais entre Cazaquistão e
China remontam ao primeiro ano após a independência em 1991. Posteriormente,
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em 1995, a relação entre os países foi reforçada com a construção de rotas
ferroviárias entre as regiões de Xinjiang e a fronteira cazaque (Chen e Fazilov
2018). Tratada historicamente como uma “porta de trás” do império chinês, a
região onde hoje se encontra o Cazaquistão adquiriu relevo conforme o crescimento
econômico da China a induziu a buscar fontes seguras de energia e novos canais
de comunicação terrestre com outras regiões do continente. Para o governo
cazaque, tais canais de comunicação contribuem para fortalecer o acesso ao
mercado chinês e aos portos do oceano Pacífico.
As Novas Rotas da Seda, lançadas pelo governo chinês, em 2013, vieram
incrementar programas de integração física e produtiva pré-existentes, inserindo
o Cazaquistão em um amplo projeto de financiamento de redes de infraestrutura
para facilitar o comércio terrestre entre os extremos da Eurásia (Chen e Fazilov
2018). Para que pudesse ser efetivado, a implementação do projeto demandou
adaptações em programas de infraestrutura pré-existentes ou o redirecionamento
do planejamento estatal cazaque.
Da perspectiva do planejamento estatal chinês, os programas de investimentos,
no Cazaquistão, estariam relacionados à expansão do Grande Programa de
Desenvolvimento do Oeste e à estratégia Xijin, “Marcha para o Oeste”. Dito
de forma breve, a estratégia Xijin implicou em um plano de desenvolvimento
da região ocidental chinesa, impulsionando o crescimento de megacidades do
interior como Chongqing e Chengdu a partir de grandes projetos para a criação
de parques industriais conectados à rede ferroviária transcontinental (Chen e
Fazilov 2018).
Já do lado do cazaque, a participação nas Novas Rotas da Seda implicou a
criação do projeto Nurly Zhol (“Caminho Radiante”). Concebido com o objetivo
específico de acompanhar o desenvolvimento da Nova Rota da Seda, o Nurly
Zhol buscou articular as redes de infraestrutura dos dois países e estabelecer
condições para a cooperação industrial entre ambos nos ramos de metalurgia,
indústria química e manufaturas. Ainda em andamento, o projeto conta com
investimentos previstos em cerca de US$5 bilhões (Vielmini 2019).
Quanto aos investimentos, a participação das empresas chinesas na
economia cazaque remonta ao ano de 1997, quando a Corporação Nacional
de Petróleo da China (CNPC) adquiriu 60,3% das ações da petrolífera cazaque
Aktobemunaigaz (posteriormente, a empresa tornou-se inteiramente chinesa).
Uma nova escala de investimentos tomou forma nos anos 2000. Em visita à
China, durante maio de 2004, Nazarbaev assinou um acordo para a construção do
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oleoduto Atasu-Alashankou. Tendo custado US$700 milhões, passou a operar já
em 2006, conectando 998km entre a porção ocidental do Cazaquistão e Xinjiang
(Koch 2013; Song 2016; Chen e Fazilov 2018). No âmbito dos investimentos no
setor de hidrocarbonetos, a CNPC comprou, em 2005, a empresa canadense
PetroKazakhstan por US$4,2 bilhões. Essa empresa representava, à época,
cerca de 12% da produção total de petróleo cazaque. No ano seguinte, a China
International Trust and Investment Corporation (Grupo CITIC) comprou, por
US$1,9 bilhão, ativos de petróleo, no Cazaquistão, de outra empresa canadense,
a Nations Energy Corporation. Em seguida, ocorreu a compra conjunta, por
US$3,3 bilhões, da empresa petrolífera MangistauMunaigaz pela CNPC e pela
KazMunaiGas, estatal petrolífera cazaque, resultando num controle de 49% das
ações da MangistauMunaigaz pela CNPC. Isso deu à China um controle sobre
15% da produção total de petróleo cazaque (Adrijauskas 2013). Em 2009, foi
finalizado o gasoduto China-Ásia Central, com o qual o Cazaquistão passou a
exportar gás para a China. Transportando um total de 40 bilhões de metros cúbicos
em seu primeiro ano de operação, o gasoduto China-Ásia Central conecta-se à
cidade chinesa de Horgos, em Xinjiang, por onde o gás é levado até Hong Kong
(Chen e Fazilov 2018). Em 2010, a corporação petroquímica chinesa Sinopec
construiu uma indústria de plásticos, no Cazaquistão, investindo uma soma
estimada em US$1,3 bilhão (Adrijaukas 2013). No total, entre 2005 e julho de
2013, o Cazaquistão recebeu US$ 14,1 bilhões em investimentos chineses, sendo
84,4% na área de energia (Adrijaukas 2013).
O “multivetorialismo” cazaque sob um regime de tutela partilhada
Como exposto ao longo do texto, a política externa multivetorial logrou
diversificar os parceiros comerciais e reduzir, em termos relativos, a excessiva
dependência do mercado russo existente após a fragmentação da URSS. No
aspecto securitário, entretanto, a influência do vizinho eslavo mantém-se decisiva,
embora o governo cazaque tenha gradativamente passado a incluir também as
demandas chinesas orientadas para a região da Ásia Central. A coabitação entre
os interesses de ordem securitária de Rússia e China, no Cazaquistão, impõe
a este uma orientação pelo equilíbrio, expresso tanto na forma de parcerias
institucionalizadas pelas organizações regionais quanto pelos temas associados às
questões de fronteira e aos projetos de integração física e produtiva. Circunscrito
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pelas limitações de um Estado-tampão e sem litoral, o Cazaquistão tem buscado
coadunar os interesses russos e chineses na região, evitando afrontar temas
sensíveis com ambos os países. Se a condição de “Estado-tampão” o induz a
adotar um comportamento neutro em relação às potências vizinhas, o recente
contexto de relativa aproximação em temas militares, técnicos e comerciais
entre Rússia e China distensiona o ambiente regional e amplia os espaços para
a experimentação dos limites da política multivetorial cazaque. A neutralidade
é garantida pelo reforço dos laços de cooperação e dependência em relação a
cada um. Para expor esse argumento de forma mais detida, examinaremos a
seguir o tema da cooperação internacional entre o Cazaquistão e seus vizinhos.
A cooperação militar entre a Rússia e o Cazaquistão ocorre em duas frentes,
isto é, através da Organização do Tratado de Segurança Coletiva (OTSC) e de mais
de 60 acordos bilaterais que regulam a cooperação técnica-militar e em defesa.
Por meio da OTSC, desenvolvem-se exercícios militares conjuntos, a produção
de armas e tecnologia bélica, o treinamento de militares (cerca de 15.000 entre
1992 e 2005), além do compartilhamento de facilidades e instalações (Rousseau
2011). A Rússia oferece ainda facilidades para o acesso a sua produção de armas
e equipamentos militares aos integrantes da OTSC, o que a torna o principal
fornecedor de materiais de tais setores ao Cazaquistão, muito à frente dos demais
(Rousseau 2011).
Tais ações representam um esforço deliberado das autoridades russas em
manter o Cazaquistão sob sua influência militar. Vielmini (2019) sintetizou os
motivos que explicam o interesse russo no país: 1) a interconexão do Cazaquistão
com uma série de territórios russos fronteiriços. Estes constituem a porta de
entrada terrestre da Rússia na Ásia Central; 2) a participação do Cazaquistão
nas duas principais organizações regionais patrocinadas pelo poder russo após o
fim da URSS, isto é, a União Econômica Eurasiática e a Organização do Tratado
de Segurança Coletiva; 3) a reivindicação de uma política externa multivetorial
reforçaria, no Cazaquistão, a posição de mediador diplomático neutro. Assim, o
Cazaquistão e, em particular, o presidente Nazarbaev, tornou-se um convidado
corrente do governo russo para a mediação diplomática de conflitos que envolvem
a Rússia com Estados terceiros. Nesse aspecto, observa-se um aparente paradoxo:
o propalado “multivetorialismo” cazaque também serve aos interesses de política
externa russa.
Da perspectiva cazaque, o engajamento do país em organizações multilaterais
reforça sua posição para o estabelecimento de parcerias vantajosas com Moscou
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nos campos diplomático, securitário e econômico. Além disso, produz, como
efeito secundário, o esvaziamento das potenciais ameaças de patrocínio russo a
processos de desestabilização do país através de grupos separatistas russófonos
situados em zonas fronteiriças (Vielmini, 2019).
Já a cooperação securitária e militar entre China e Cazaquistão tem
gradualmente adquirido relevo. Desde a criação da Organização de Cooperação
de Xangai (OCX)
11
, em 2001, atividades coordenadas de combate a movimentos
separatistas, terroristas e extremistas foram implementadas (Jin e Dehang 2019).
A primeira realização de exercícios antiterrorismo entre China e Cazaquistão
(Tianshan Mountain n.1) ocorreu em 2006 (Song 2016). Os anos seguintes
testemunharam a multiplicação dos acordos de cooperação militar, todos no
âmbito da OCX. Dentre estes, destacam-se o “Agreement over Military Exercise
(2007), o “Agreement of Cracking Down Smuggling Weapons, Explosives and
Ammunition”(2008) e o “Agreement over Cracking Down Drug Smuggling, Terrorism
and Organised Crimes”(2009), sendo os dois últimos responsáveis por incorporar
o tema do tráfico de drogas e armas à agenda securitária da OCX. Em 2010, o
Cazaquistão sediou um encontro com a participação de todos os membros da
OCX para realização de exercícios militares antiterrorismo coletivos (Song 2016;
Bitabarova 2018; Jin e Dehang 2019).
A crescente influência militar chinesa na Ásia Central, ainda que sob o manto
da OCX, é também geradora de receios por parte dos russos. Como observou
Song (2016), a Rússia demonstra preferir organizar acordos tanto nas áreas de
cooperação militar quanto econômica através das organizações por ela diretamente
controladas (como é o caso da OTSC e da UEE, respectivamente). Há relutância
russa em prestar apoio ao avanço da cooperação econômica e militar com Ásia
Central no âmbito da OCX, vista como veículo para a ampliação da presença
chinesa na Ásia Central em áreas antes hegemonizadas pelos russos (Song 2016).
A penetração militar chinesa foi também reforçada através de acordos de
cooperação técnica e financeira, propostas sempre no âmbito da OCX. Em 2004,
o então presidente chinês, Hu Jintao, ofereceu crédito preferencial de US$ 900
milhões aos membros da OCX que buscassem maior engajamento em programas
de cooperação econômica através da organização. Cazaquistão, Quirguistão e
11 O embrião da OCX foi o grupo "Shanghai Five” (criado em 1996), que contava com Cazaquistão, Tadjiquistão,
Quirguistão, Rússia e China. Com a criação da OCX, em 2001, ampliou-se tanto o número de membros (houve
a incorporação do Uzbequistão em 2001 e, posteriormente, Índia e Paquistão em 2017) quanto a agenda voltada
para questões de segurança.
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Tadjiquistão manifestaram interesse e o crédito foi providenciado através do
Banco de Exportação-Importação da China em 2006 (Song 2016). Estratégias
semelhantes foram realizadas pela China com empréstimos acordados em 2007
(US$ 1,2 bilhão) e em 2009 (US$10 bilhões), destinados ao financiamento em
setores como infraestrutura e energia (Song 2016).
Do lado da política multivetorial cazaque, a ampliação do interesse chinês
por parcerias militares e econômicas reduziu, em termos relativos, a dependência
do país em relação à Rússia, possibilitando uma política externa multivetorial que
reivindica independência apoiando-se no equilíbrio dos interesses regionais das
duas potências vizinhas. Em outras palavras, a liberdade de ação do Cazaquistão
ancora-se na margem aberta pela intersecção de uma dupla-dependência, possível
graças a um contexto regional relativamente estável, no qual China e Rússia
vivenciam uma aproximação em nível diplomático e estratégico inédito na
história das relações entre os dois países (Kaczmarski 2015; Vanderhill, Joirem
e Tolebayeva 2020). Sob o jugo de uma “tutela partilhada”, coordenada por
duas potências comprometidas a dirimir o conflito entre elas, o Cazaquistão
vê sua política externa circunscrita a um espaço de manobra pouco maleável.
Kaczmarski (2015) defende a existência de algo como uma divisão do trabalho
sino-russa, na qual a China avança sua influência econômica sobre a Ásia
Central, enquanto a Rússia mantém-se hegemônica nos domínios político,
cultural e militar. A divisão de tarefas, se existe, possivelmente não é tão clara,
tampouco tão pacífica. China e Rússia possuem estratégias de inserção geopolítica
próprias para a Ásia Central, e os interesses inevitavelmente se chocam em
diferentes pontos.
Da perspectiva cazaque, o fator decisivo para a redução da influência política,
econômica e militar russa em território cazaque derivou (sobretudo) do crescimento
dos interesses econômicos e securitários chineses na região da Ásia Central.
O progressivo engajamento chinês na região permitiu à política multivetorial
cazaque moldar sua melhor expressão na forma de uma dupla dependência
cruzada, operando na intersecção dos interesses regionais sobrepostos de Rússia e
China. Dessa forma, os limites da política externa cazaque mantêm-se fortemente
associados à sua condição de Estado-tampão e sem litoral. Em outras palavras, o
“multivetorialismo” tornou-se uma estratégia moldada, em primeiro lugar, para
estar em consonância com os temas sensíveis da agenda bilateral com ambas
as potências vizinhas que, por sua vez, têm tratado de acomodar de forma
concertada seus interesses geopolíticos sobrepostos no Cazaquistão.
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Considerações finais
Anunciada pouco após a independência do país, a política externa multivetorial
cazaque foi originalmente concebida para garantir maior autonomia externa
frente a um cenário de forte influência russa nas esferas econômica, política e
cultural. Após quase trinta anos de governo Nazarbaev, o Cazaquistão logrou
reduzir a dependência econômica da Rússia evitando, ao mesmo tempo, criar
atritos com esta. O comércio bilateral, ainda que relevante, perdeu peso relativo.
Entretanto, a Rússia permaneceu profundamente influente nas áreas cultural,
política e militar. A participação do país em organizações regionais capitaneadas
pelos russos, como a UEE e a OTSC, explicita as formas de acomodação efetivadas
pela política externa cazaque com relação aos interesses estratégicos regionais
do Kremlin.
A progressiva ascensão do poder chinês representou um real contrapeso à
influência russa. Gradualmente, Pequim incrementou o comércio, o volume de
investimentos diretos, integrou o Cazaquistão como parceiro importante para
o projeto das Novas Rotas da Seda e deu início a uma aproximação no campo
securitário e militar através da OCX. Tornou-se, com isso, um vetor consistente
para as relações internacionais cazaque, assumindo uma dimensão estratégica
que não possuía quando o país foi criado nos anos 1990.
Para além das relações estratégicas desenvolvidas com China e Rússia, o
Cazaquistão chegou a mobilizar seus recursos energéticos e instrumentalizar
sua posição geográfica para fomentar laços mais estreitos com o Ocidente e a
OTAN, obtendo resultados moderados. Feito um balanço dos quase trinta anos
de política externa do governo Nazarbaev, verifica-se a progressiva valorização
do papel do país para a política externa das duas potências vizinhas. Para estas,
as potencialidades geopolíticas do Cazaquistão, expressas tanto pela condição de
corredor terrestre entre os polos do continente quanto pelos recursos enérgicos,
revigoraram o interesse pelo país. O principal logro da política externa multivetorial
cazaque, com isso, foi conduzir suas relações com os vizinhos sendo capaz de
acomodar as estratégias expansionistas de ambos sem provocar crises disruptivas.
Como resultado, transformou o status de um país historicamente situado na
“porta de trás” de dois grandes impérios em um parceiro estratégico para a
realização dos interesses regionais de ambas as potências.
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