Fernanda Cristina Nanci Izidro Gonçalves; Nathan Oliveira dos Santos
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1163, 2021
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interesse anticastrista (Zeleny 2008; Ayerbe 2010; Estados Unidos 2009; Erikson
2011; Guevara 2019; Reis 2016).
Vale dizer que, mesmo que a maioria dos cubano-americanos não seja
registrada para votar, e os que são tendem a votar no Partido Republicano, ainda
assim representam 60% dos votos latinos na Flórida, que, sendo o quarto maior
estado dos EUA e um swing state, com 29 votos no Colégio Eleitoral, é de extrema
importância para os resultados das eleições (Morrone 2008; Guevara 2019). Com
a mudança de pensamento dentro da comunidade, advinda do surgimento de
novas gerações com interesses menos ideológicos e mais pragmáticos, a ideia de
revisar a estratégia estadunidense com Cuba foi ganhando mais adeptos devido
à percepção de sua ineficiência (Leogrande; Kornbluh 2015).
Curiosamente, o resultado pôde ser visto nas eleições de 2008. Mesmo tendo
vencido na Flórida, o candidato democrata recebeu apenas 35% dos votos da
comunidade cubano-americana em comparação ao candidato republicano John
McCain, que obteve 65% (Erikson 2011). À luz de Milner (1997), pode-se dizer
que o interesse de Obama ao fazer o discurso, durante a campanha, era de
captar os votos desses eleitores, a fim de ganhar o colégio eleitoral da Flórida,
visto que, nas eleições primárias de janeiro, o candidato estava atrás de Hilary
Clinton nesse estado (Estados Unidos 2009).
Poucos dias antes da chegada de Obama à Cúpula das Américas, em abril de
2009, o então presidente eleito se movimentou para cumprir com sua promessa
de campanha e contemplou os interesses da comunidade cubano-americana ao
retirar as restrições impostas por Bush. Além disso, Obama autorizou empresas
estadunidenses a oferecerem serviços de telecomunicação a Cuba. Seu interesse
era de que o contato dos cubanos com o mundo externo promoveria demandas
por mudanças democráticas internamente (Leogrande; Kornbluh 2015). Ou seja,
pode-se inferir que, segundo o conceito de interesse de Milner (1997), o interesse
de Obama de se aproximar de Cuba era de tentar uma nova abordagem com
a ilha cubana, mas que tinha como fim o mesmo ideal histórico americano de
promover mudanças democráticas em Cuba, mas de forma mais sutil.
Devido ao fato de que a sociedade estadunidense consegue pressionar o
governo através de grupos de interesse, organizados em lobbies
3
, de forma bastante
3 Segundo Gonçalves (2012), o lobby é “a prática de buscar acesso aos agentes políticos e fazer com que eles
saibam das demandas de determinados segmentos da sociedade, usando pessoas (lobistas) e seus canais
de contato junto aos órgãos de governos.” (p. 13). Nos EUA, onde a prática é muito comum, os grupos de
interesse da sociedade, muitas vezes, pagam ou influenciam lobistas, com acesso a estruturas decisórias
específicas, para advogarem por seus interesses (Gilens; Page 2014).