Pedro Henrique Batista Barbosa
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 2, e1156, 2021
1-22
O pensamento chinês e a
teoria de Relações Internacionais:
uma Escola Chinesa de RI?
Chinese thought and International
Relations theory: a Chinese School of IR?
El pensamiento chino y la teoría
de las Relaciones Internacionales:
¿una Escuela China de RI?
DOI: 10.21530/ci.v16n2.2021.1156
Pedro Henrique Batista Barbosa
1
Resumo
O estudo de relações internacionais na China tem avançado
nos últimos anos com a crescente importância do país no
cenário mundial. Cresceram esforços para criar um corpo
teórico essencialmente chinês e que reflita sua cultura e filosofia
tradicionais, dando forma ao Movimento Escola Chinesa. Há
consenso sobre as proveis origens históricas dessa nova teoria
chinesa de relações internacionais e proposições como realismo
moral, teoria relacional e sistema “tianxia” atraem crescente
atenção, mas não oferecerem ainda modelo alternativo e
inovador. A superação desses obstáculos passa pela correção de
limitações organizacionais, acadêmicas e teóricas que persistem
nas universidades locais.
Palavras-chave: Teoria de Relações Internacionais. Movimento
Escola Chinesa. Realismo Moral. Teoria Relacional. Tianxia.
1 Doutorando em Políticas Internacionais na Renmin University of China
(Universidade do Povo da China). (pedrohenriquebbarbosa@gmail.com).
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-3424-3153. As opiniões expressas pelo
autor neste artigo não refletem as das instituições das quais ele faz parte.
Artigo submetido em 13/12/2020 e aprovado em 12/04/2021.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ISSN 2526-9038
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O pensamento chinês e a teoria de Relações Internacionais: uma escola chinesa de RI?
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 2, e1156, 2021
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Abstract
The study of international relations in China has advanced in recent years with the country’s
growing importance on the world stage. Efforts have appeared to create an essentially Chinese
theoretical body that reflects its traditional culture and philosophy, which is being called
the Chinese School Movement. There is consensus on the probable historical origins of
this new Chinese theory of international relations and propositions such as moral realism,
relational theory, and the “tianxia” system attract increasing attention, but do not yet
offer an alternative and innovative model. Overcoming these obstacles involves correcting
organizational, academic, and theoretical limitations that persist in local universities.
Keywords: Theory of International Relations. Chinese School Movement. Moral Realism.
Relational Theory. Tianxia.
Resumen
El estudio de las relaciones internacionales en China ha avanzado en los últimos años con
la creciente importancia del país en el escenario mundial. Han aparecido esfuerzos para
crear un cuerpo teórico esencialmente chino que refleje su cultura y filosofía tradicionales,
lo que se denomina Movimiento Escuela China. Hay consenso sobre los probables orígenes
históricos de esta nueva teoría china de las relaciones internacionales y proposiciones
como el realismo moral, la teoría relacional y el sistema de “tianxia” atraen cada vez más
atención, pero aún no ofrecen un modelo alternativo e innovador. Superar estos obstáculos
implica corregir las limitaciones organizativas, académicas y teóricas que persisten en las
universidades locales.
Palabras clave: Teoria de Relaciones Internacionales. Movimiento Escuela China. Realismo
Moral. Teoria Relacional. Tianxia.
Introdução
Em tempos de guerra comercial e crescente animosidade geopolítica entre
EUA e China, cresceram discussões sobre transição de poder, ascensão e queda
de potências, “armadilha de Tucídides” (Allison, 2017), entre outras, algumas
das quais prevendo que um conflito em larga escala entre os dois países seria
não apenas iminente, mas certo. A lógica por trás dessa visão prevê que o poder
dominante vê na ascensão de novo concorrente uma ameaça aos seus interesses
e hegemonia e toma medidas para conter tal avanço. O atual debate sobre as
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relações sino-americanas, nos EUA, tem sido dominado por uma visão realista
da política internacional, perspectiva surgida e com muita receptividade nas
instituições acadêmicas ocidentais.
Não é assim que todos os pensadores chineses explicam as relações
interestatais e a emergência de seu país ao patamar de grande potência. O interesse
em corrigir percepções e interpretações, a seu ver, erradas sobre a China e em
identificar anomalias em teorias ocidentais, aliado ao fortalecimento do país no
sistema de estados, foram algumas razões para autores chineses desenvolver
teorias próprias sobre história e política entre nações (Lu 2018) (Qin 2006) (Zhang
2012), assim como fizeram Estados Unidos e Europa décadas atrás (Acharya
2019). Dessa tentativa epistemológica de construir um arcabouço teórico original
de relações internacionais (RI) surgiu o Movimento Escola Chinesa.
2, 3
Esse artigo traz reflexões sobre o debate de teoria de RI do ponto de vista
chinês. Almeja-se aqui discutir se ideias, valores e princípios frequentemente usados
por teóricos locais poderiam vir a criar uma escola chinesa de RI. Questiona-se
se poderiam organizar-se em torno de um corpo teórico independente, original e
distinto, a partir do qual se possa analisar diversos padrões de comportamento,
sobretudo em contextos outros que o originário, o que lhe conferiria reconhecimento
e aceitação universais.
Entende-se aqui teoria como um mecanismo simplificador da realidade,
capaz de interpretar e explicar fenômenos e que estabelece um conjunto rigoroso
e coerente de conceitos e categorias que pode atender a dois objetivos. De um
lado, pode ser usado como subsídio para o pensamento político-estratégico e o
processo de tomada de decisão de qualquer país — orientação para a ação — e,
de outro lado, pode criar uma visão para interpretar o mundo, com hipóteses
e generalizações que ajudam a tornar este inteligível — orientação para o
conhecimento (Qin 2007).
Será demonstrado que se avançou bastante na definição das possíveis origens
de nova construção teórica essencialmente chinesa, mas ainda não se alcançou
o objetivo de se estabelecer teoria inovadora, com apelo e aplicação universais,
2 Há vários nomes que caracterizam esse conjunto de formulações chinesas de RI. Alguns falam em Teoria de
RI Chinesa; outros, em Escola Chinesa de RI. O autor optou pelo termo Movimento Escola Chinesa, pois dá
a ideia de processo em construção, o que é um dos pontos defendidos neste artigo.
3 Autores chineses divergem sobre se existe e se deve haver uma Escola Chinesa de RI. Entre os que serão
abordados neste artigo, Qin Yaqing é a favor de se ter uma escola chinesa e expressa isso em vários
textos, enquanto Yan Xuetong é contra e dedica um anexo de um de seus livros para explicar suas razões
(Yan 2011, 252-259).
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apesar dos esforços que vêm sendo empreendidos nos últimos anos. Muito
do que se obteve até então seriam mais adaptações das principais escolas de
pensamento de RI, especificamente realismo, liberalismo e construtivismo, aos
cenários políticos, históricos e filosóficos chineses e vice-versa. Essas teorias
tradicionais continuam sendo as principais referências para teóricos e práticos de
RI dentro e fora da China. O tamanho desse desafio está muito ligado a limitações
organizacionais, acadêmicas e teóricas que persistem no meio universitário do
país, sem esquecer de barreiras externas à difusão de teorias não ocidentais.
Movimento Escola Chinesa de Relações Internacionais:
fases, motivações e conceitos-base
A progressiva emergência da China ao patamar de grande potência tem
ensejado discussões acerca de como os chineses enxergam sua relação com o
mundo e se o pensamento chinês poderia se tornar uma nova e independente
escola teórica de relações internacionais. Nas últimas quatro décadas, esforços
contínuos de vários pensadores locais buscaram contestar a hegemonia ocidental
na produção teórica em RI e apresentar um contraponto, um conhecimento novo
e essencialmente chinês. Esse empenho individual de vários acadêmicos, mas
com um objetivo coletivo de tentar criar uma teoria não ocidental de RI, é o que
se convencionou chamar Movimento Escola Chinesa.
Seu marco inicial foi a Conferência de Xangai sobre Teoria de RI, em 1987.
Embora as preocupações em desenvolver uma alternativa viável ao domínio do
Ocidente na produção acadêmica de RI já fossem anteriores, o evento marcou
uma tentativa oficial, impulsionada pelo Partido Comunista Chinês, de contestar a
autoridade do pensamento então vigente. Acreditava-se que as teorias ocidentais
de RI se baseavam na experiência capitalista, incompatível com a realidade
chinesa, devendo então ser substituída por teses calcadas na prática socialista
da China (Lu 2018). Os pensamentos de Marx, Lênin e Mao Zedong deveriam
ser o eixo da construção de um sistema de conhecimentos “com características
chinesas”. Alguns autores dessa fase são Li Shisheng (Li 1999), He Fang (He
1992) e Liang Shoude (Liang 1994).
A segunda fase começou no início dos anos 2000 e almejou desenvolver um
arcabouço teórico mais sólido, tendo como contrapartida principal a experiência
histórico-cultural-linguística da China. A experiência socialista seria um dos
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pontos de partida, mas não o único. Essa fase se beneficiou da tradução de
obras clássicas de RI para o chinês feita nos anos anteriores e a publicação de
artigos de autores chineses em língua inglesa, além de produções binacionais.
Expoentes dessa fase são Yan Xuetong (Yan 2006) (Yan 2011), Qin Yaqing (Qin
2005) (Qin 2018), Zhao Tingyang (Zhao 2005) (Zhao 2016), Ren Xiao (Ren 2000)
e Mei Ran (Mei 2000).
Por trás dessas duas fases, há motivações em comum. Em primeiro lugar,
busca-se criar um contraponto entre as teorias dominantes de RI, que refletiriam
realidades e interesses dos países ocidentais, e a especificidade do pensamento
tradicional chinês. Tais teorias falharam em não levar em conta a experiência
chinesa, pois seus autores possuíam parcos conhecimentos sobre as peculiaridades
culturais, históricas e filosóficas da China e do Oriente em geral (Wang 2002) (Qin
2006). Com essa lacuna, a produção acadêmica do Ocidente atende sobremodo aos
interesses nacionais desses países, sendo vistos como “sistemas de conhecimento
exóticos com aplicabilidade limitada ao caso chinês” (Lu 2018 p. 8).
Em segundo lugar, há o interesse em alterar a dinâmica de construção teórica
em RI, marcadamente unidirecional, sendo o Ocidente fonte irradiadora única.
Entende-se que o estímulo ao desenvolvimento de modelos teóricos não ocidentais
ou que fundam, em uma só base, conhecimentos produzidos nos dois lados do
globo enriquece e complementa a pesquisa científica como um todo. Lu Peng
recorda que acadêmicos como Hedley Bull e Onuf já expressaram a relevância de
se ter intelectuais de formações socioculturais distintas cooperando (Lu 2018).
Amitav Acharya vê com bons olhos a emergência de novas escolas, algumas
de base nacional ou regional, como é o caso da chinesa, para o surgimento
da disciplina “relações internacionais globais”, que albergue teorias das mais
diversas matrizes (Acharya 2019, 468).
Em terceiro lugar, havia o interesse em difundir pensamentos e práticas
internacionais da China ao longo da história. Nesse processo, seriam levantados
questionamentos teóricos ignorados pela tradição existente em RI, como a relevância
do sistema tributário existente na China até o século XIX para criar harmonia
entre países, em oposição ao conceito de anarquia prevalente no Ocidente (Lu
2018). A experiência do processo de reforma e abertura e o legado comunista
também mereceriam atenção (Acharya 2019).
Por fim, haveria o entendimento de que existe uma janela de oportunidade
a partir da consolidação do país como ator importante no sistema global. Sua
crescente participação em diversos tabuleiros mundiais tem atraído interesse
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em pensadores e ideias chinesas, o que abriria uma porta para difundir o modo
de pensar local e para adequar conceitos e procedimentos de organizações
internacionais criadas sob forte influência da tradição ocidental a uma nova
realidade em que a região asiática e a China terão função de destaque (Wang
2002). Essa chance também ajudaria a corrigir percepções e interpretações erradas
sobre o país e a identificar anomalias em teorias ocidentais, desenvolvendo
bases teóricas próprias, assim como fizeram Estados Unidos e Europa décadas
atrás (Buzan 2018).
Enquanto os trabalhos da primeira fase do Movimento Escola Chinesa
receberam parca atenção de acadêmicos ocidentais, a segunda — e atual — fase
atraiu maior espectro de leitores, muito por causa de sua maior robustez acadêmica
e enquadramento conceitual. Segundo Qin Yaqing, para adquirir independência
e reconhecimento, assim como possuem as demais teorias vigentes, a escola
chinesa de RI deve ter duas características principais: originar-se do contexto
histórico, filosófico e geocultural chinês e adquirir significado e comprovação
universais (Qin 2006).
Por meio da leitura dos principais expoentes chineses de RI, é possível
concluir que foram obtidos grandes avanços no primeiro elemento, com as bases
e as origens de uma teoria chinesa já bem estudadas. No entanto, no segundo
ponto, ainda é preciso avançar, para que as novas propostas teóricas obtenham
receptividade e aplicabilidade em outros meios acadêmicos.
Em que pese o processo ainda em amadurecimento quanto ao segundo
ponto, já há amplo consenso sobre quais seriam as fontes do excepcionalismo
teórico chinês: (i) a herança político-filosófica chinesa, sobretudo o conceito
confuciano de “tianxia” (天下) e a tradição do sistema tributário, (ii) a visão
chinesa moderna sobre soberania e a experiência revolucionária e (iii) a política
de reforma e abertura e subsequente integração do país ao sistema mundial.
Herança político-filosófica
Dentro da tradição político-filosófica chinesa, um dos conceitos mais estudados
por internacionalistas locais é “tianxia”, assim como o sistema tributário decorrente
do primeiro, que vigorou no país por cerca de dois mil anos. Suas origens
remontam a até cinco mil anos atrás, mas foi na dinastia Zhou, há dois mil anos,
que atingiu seu auge e sofisticação (Zhao 2019).
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“Tianxia” denota, literalmente, todo o mundo geográfico que existe abaixo
do céu — ou o reino dos mortais. “O entendimento chinês do mundo é infinito
em espaço e tempo, com o palácio do imperador [Cidade Proibida] no centro”
(Qin 2007, 322). “Tianxia” estaria sob a área de influência do imperador chinês,
o qual possuía um mandato do céu para governar (天命 tianming). Os demais
seres abaixo do imperador deveriam subordinar-se e pagar tributos.
O objetivo maior da filosofia do “tianxia” é atingir a grande harmonia
(大同 datong), que reflete um mundo ideal de harmonia e ordem baseado na
moral e no altruísmo, inclusive entre o ser humano e a natureza (Qin 2007).
O agir moral seria a principal característica do imperador. Seu comportamento,
que serviria de exemplo a ser seguido por todos os cidadãos, envolveria cinco
virtudes principais: benevolência ( ren), senso do dever ( yi), adequação
ou comedimento ( li), sabedoria ( zhi) e confiabilidade (xin). Com base
nessas virtudes e nos ritos estabelecidos, o soberano teria legitimidade e, assim,
seria atingida a harmonia social. A ação política seria, antes de tudo, moral.
Política e moral andavam de mãos dadas, a primeira como continuação da
segunda, diferentemente da lógica realista, que as coloca em campos distintos
(Corrêa e Barbosa 2017).
Outro elemento do modelo de “tianxia” é a ordem da diferença (差序秩序
chaxu zhixu), que envolve hierarquia e desigualdade, lógica que foi incorporada
por pensadores confucianos mais tarde. A relação “não era entre animais na
selva hobbesiana, igualitária e hostil; não era entre humanos na sociedade
lockeana, igualitária e competitiva; não era ainda entre membros na cultura
kantiana, igualitária e amigável; mas era entre pais e filhos na família confuciana,
desigual, mas benigna”. O modelo tradicional chinês de governo calcava-se em
cinco formas de relacionamento — pai-filho, imperador-ministro, irmão mais
velho-irmão mais novo, marido-mulher e amigo-amigo —, em todas as quais
haveria diferenças de nível (Qin 2007).
Por causa desse modelo holístico, o sistema social existe e opera, é com base
nele que são regidas as relações entre governantes e governados. Não há, nem
é esperada, igualdade ou equidade entre súdito e soberano. É por meio dessa
ordem hierárquica que seria possível dar estabilidade e harmonia ao sistema,
garantindo sua manutenção no longo prazo (Corrêa e Barbosa 2017).
A partir das dinastias Qin (221-207 AC) e Han (206 AC-220 DC), esse modelo
foi transplantado para as relações com outros países. Surgiu o sistema tributário,
que perdurou por quase dois mil anos. Neste, o império celestial (天朝 tianchao),
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por meio do sistema de ritos (礼制 lizhi), se relacionava com estados vassalos,
que, por sua vez, pagavam tributos (朝贡 chaogong). Nessa lógica, o sistema
internacional possui uma ordem que é garantida pela hierarquia entre centro e
demais partes (Qin 2006). Não havia a ideia de soberania, que coloca os países
em situação de igualdade. A corte imperial chinesa era o centro, e os países em
sua volta, seus dependentes. Como a China era a civilização mais avançada da
região, responsabilizava-se pela estabilidade e desenvolvimento do sistema e do
comércio, agindo como fiel da balança sempre que conflitos eclodissem entre
estados vassalos (Qin 2007).
Esse modelo tradicional chinês, essencialmente sino-cêntrico, vai de encontro
com o sistema de estados que surgiu após Vestefália, em que países independentes
e soberanos coexistem numa estrutura descentralizada e não hierárquica. A partir
das duas Guerras do Ópio (18391842, 18561860) e a subsequente invasão e
ocupação de parte do território chinês, o modelo de “tianxia” colapsou (Lu 2018).
Experiência revolucionária
O colapso do sistema tributário e do princípio de “tianxia” gerou momento
de perplexidade e reflexão sobre como se inserir no novo modelo de ordenamento
entre estados iguais e soberanos. Por dois mil anos, a China não precisou questionar
sua relação com o mundo, pois não existia um modelo alternativo ao sistema
tributário existente (Qin 2006). Esse processo foi interrompido com as Guerras
do Ópio e posterior ocupação do país por forças estrangeiras, cuja superioridade
militar forçou a China a entrar em um sistema de estados essencialmente ocidental
e baseado em tratados e costumes europeus. Diferentemente do modelo hierárquico
anterior, em que a China se encontrava no centro, o país se inseria em paradigma
alternativo em posição de igualdade soberana e formal diante de outras nações,
mas de inferioridade após derrota no campo de batalha, assinatura de tratados
desiguais e perdas territoriais, como Hong Kong.
Uma primeira tentativa de reinserção ocorreu com a experiência revolucionária
(Qin 2006). Da influência que a China recebeu do Ocidente veio também o
ideário revolucionário comunista, incluindo as teorias de Karl Marx sobre luta
de classes, de Lênin sobre imperialismo, entre outras. Novos conceitos passaram
a fazer parte do jargão teórico e diplomático do país, tais como hegemonia,
imperialismo, luta de libertação nacional, colonialismo, revolução proletária,
reforma agrária, coletivismo, estatismo, dependência, entre outros.
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Essas teorias originadas no exterior ganharam componentes originais chineses,
com o surgimento do maoísmo e com a experiência de revolução comunista a
partir do campo. A partir de então, cada geração de líderes chineses fez sua
contribuição teórica, que foi sendo incorporada no debate local: o Pensamento
de Mao Zedong, a Teoria de Deng Xiaoping, as Três Representações de Jiang
Zemin, o Conceito Científico de Desenvolvimento de Hu Jintao e a Nova Era de
Xi Jinping (Shi e Ye 1995).
Todas essas teorias fazem parte do quadro curricular das universidades
chinesas. Praticamente todas as instituições de ensino do país passaram a contar
com cursos de graduação, mestrado e doutorado em marxismo. Marxismo é
cadeira obrigatória tanto em cursos de ciências sociais quanto de exatas até hoje.
Contudo, para acadêmicos chineses, tal discurso combatente e revolucionário
somente permitiu admissão limitada e parcial do país no sistema de estados
marcado pela guerra fria e clivagem ideológica. Questionamentos sobre como
se inserir plenamente no novo modelo persistiram, o que só foi resolvido com o
início da política de reforma e abertura, quando a China encontrou uma maneira
pragmática de se integrar ao sistema mundial criado pelo Ocidente. Apesar disso,
os conceitos e as teorias socialistas seguem componentes importantes de uma
teoria eminentemente chinesa (Qin 2006).
Reforma e abertura
Acadêmicos locais destacam a política de reforma e abertura, processo que
se iniciou antes mesmo de 1979, como outro componente de uma teoria chinesa
de RI. Enfatizam que, a partir dela, houve três mudanças importantes (Qin 2007).
Ocorreu uma transformação institucional, em que o país se abriu para o mundo.
A China passou a fazer parte e ser aceita nos acordos multilaterais e nas
organizações internacionais, além de expandir sua rede de relacionamentos
diplomáticos. Em 1971, a China tornava-se membro pleno da ONU. O presidente
Nixon visitou Pequim no ano seguinte, e as relações com os EUA foram
restabelecidas em dezembro de 1978, dias antes da Terceira Sessão Plenária do
11º Comitê Central do Partido Comunista da China, marco do início das reformas
econômicas do país.
A política de reforma e abertura trouxe igualmente modificação social, na
identidade nacional do país. A China deixava de enxergar-se como uma nação
revolucionária e passou a defender o “status quo”, não mais sendo um forasteiro
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no sistema global (Qin 2007 p. 333). O objetivo passou a ser integrar-se e ser
aceito pela comunidade internacional.
Por fim, trouxe também alteração ideacional, em que revolução não mais
seria sinônimo de violência, contestação do sistema internacional e negação dos
valores tradicionais da cultura chinesa, como diversos movimentos revolucionários
chineses defenderam a partir do fim do século XIX. Esses valores tradicionais,
assim como a experiência socialista, não seriam descartados, muito menos
desvalorizados, mas poderiam coexistir com ideias ocidentais (Qin 2007).
Movimento Escola Chinesa e demais teorias de relações
internacionais: uma nova teoria em construção?
Da evolução do debate teórico sobre RI na China surgiram várias
contribuições, sendo que alguns acadêmicos locais ganharam maior atenção e
notoriedade, seja em função de sua densidade conceitual, seja por seu diálogo
fluido com contrapartes não chinesas. Entre eles, destacam-se Zhao Tingyang
e sua proposta de adaptação do conceito de “tianxia” ao campo de teoria de
RI, Qin Yaqing e sua teoria relacional de RI, e Yan Xuetong e seu modelo de
realismo moral.
Os três teóricos trazem em comum o objetivo de trazer contribuições
novas ao debate sobre teoria de RI, tendo como base a experiência política
chinesa. Todos recorrem a exemplos da história, cultura e filosofia do país
como ponto de partida para suas teses, as quais sugerem adaptações nos
cânones das principais correntes de RI, especificamente realismo, liberalismo e
construtivismo.
Em que pesem as novas abordagens trazidas por eles, persistem muitas
críticas sobre até que ponto essas contribuições poderiam, de fato, constituir
alternativa prática e viável às três correntes tradicionais, assim como se teriam
validade para além da experiência histórico-política chinesa tanto do passado
quanto da atualidade (Acharya 2019). Prevalece o entendimento de que, apesar de
trazerem à tona pontos de vista distintos sobre fenômenos político-diplomáticos,
ainda são de difícil aplicabilidade em contextos não chineses, como é o caso
do sistema “tianxia”, além de não se dissociarem das principais teorias atuais,
como mostram as similitudes entre o construtivismo e a teoria relacional e entre
o realismo clássico e o realismo moral.
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Teoria Relacional de RI
Qin Yaqing é considerado por muitos como o idealizador do atual Movimento
Escola Chinesa. Ele defende que a produção de conhecimento em ciências sociais
não é imparcial, insere-se dentro de um contexto social, cultural, linguístico,
filosófico, religioso, histórico específico do qual o autor sofreu ou sofre influência.
A forma como o agente interpreta fenômenos sociais passa pelo filtro desses
valores, e seu ponto de vista refletirá princípios comumente vistos e aceitos na
comunidade à qual ele pertence. Nessa linha, acadêmicos produzem somente
conhecimento representacional”, no sentido de que “a cultura molda o caráter,
crenças, visão de mundo, maneira de pensar e fazer” (Qin 2018, 419). O modo
como esse conjunto social determina inconscientemente o campo de produção
intelectual é chamado de “permeação implícita” (Qin 2018, 421).
No campo de pesquisa de relações internacionais, não é diferente. O teórico
de RI enxerga acontecimentos históricos e fatos recentes pela ótica de suas
experiências passadas e de sua formação acadêmica. O conhecimento em ciências
sociais não passa de uma construção sociocultural e tem endereço marcado,
advém de determinada localidade, país ou nicho cultural em que se compartilham
certos valores e ideias. Logo, é natural que acadêmicos recorram à história de
seu país e região para tentar comprovar teses e hipóteses. O estudo de ciências
políticas no Ocidente reflete um substrato teórico que remete à Grécia antiga e
à civilização greco-romana que a sucedeu, e tal herança está presente na sua
produção de conhecimento até hoje.
Nessa linha, uma vez que as ciências sociais se desenvolveram primeiro no
Ocidente, tornou-se comum aceitar sua produção intelectual como universal e
aplicável a distintos contextos e áreas geográficas. Da mesma forma, surgiu certa
rejeição a opiniões que não decorram da corrente teórica principal. Contudo,
reforça o autor que o conhecimento em teorias sociais tem nome e local de
origem. É de se esperar que tenha ele maior aplicabilidade e comprovação em
contexto específico, mas dificilmente daria explicações completas sobre fenômenos
socioculturais de sociedades e realidades muito distintas.
A teoria relacional de Qin vai mais longe e apresenta um contraponto ao
predomínio da racionalidade nos estudos de RI. Os estados, de igual maneira aos
seres humanos, enxergam sua interação com suas contrapartes pela ótica de seus
valores, mas também constantemente definem sua identidade e seus interesses
no relacionamento com o outro, em um processo dinâmico. Um mesmo ato pode
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ser interpretado como uma ameaça por um país, mas não por outro. Os atores
agem racionalmente no sistema internacional, mas depois de interpretarem o
comportamento alheio e identificarem a natureza do relacionamento — amizade
ou inimizade, por exemplo. O autor chama isso de “racionalidade relacional”
(Qin 2018, 428).
Para embasar seus pontos, Qin recorre à filosofia tradicional chinesa.
Ao modelo hegeliano de teses, antíteses e sínteses, ele contrapõe a dialética
“zhongyong”, na qual “yin” e “yang” se complementam e sustentam uma
relação harmônica. “Yin-yang” seria o modelo para todos os relacionamentos
do universo. Não há dicotomia ou estrutura binária excludente, mas polaridades
que se complementam e de cuja interação se obtém harmonia. Aliás, a “Grande
Harmonia” (ou 大同 datong) seria a base epistemológica do estado de natureza
— diferentemente do estado de natureza anárquico do realismo — e foi sobre
ela que perdurou o modelo tributário chinês e o sistema “tianxia”. Nessa linha,
a lógica da relação entre homens e entre estados seria de constante aproximação
e não de estranhamento, conflito e dilemas de segurança (Qin 2018).
A valorização do contexto social e da dinâmica de ação e reação, não por
acaso, demonstra grande afinidade com o construtivismo em RI. Como se recorda,
Alexander Wendt discorda dos realistas e entende que a anarquia não é uma
situação estática, os agentes não definem suas ações unicamente com base em
um cálculo racional de recursos relativos de poder. O interesse estatal não é
fixo, sendo resultado de uma combinação de ideias, capacidades e modelos de
interação. É com base no processo de interação entre os membros do sistema e
nos valores e ideias predominantes em determinada época que as relações são
vistas como amistosas ou conflituosas. Da mesma forma, o próprio dinamismo
do processo permite mudanças de comportamento e interpretação, a depender
das escolhas de cada agente (Wendt 1992).
A teoria relacional de Qin Yaqing, por sua ênfase na prática e também na
cultura como substrato epistemológico e psicossocial de qualquer teoria política,
apresenta grande similitude com a corrente construtivista, e até então não
tem sido considerada novo paradigma teórico de RI. Entre as suas principais
inovações, estaria buscar, na herança filosófica chinesa, o embasamento
teórico para questionar o racionalismo dominante em meios acadêmicos
ocidentais.
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Realismo Moral
Yan Xuetong é o principal expoente do que se conhece como o “pensamento
de Tsinghua” (Zhang, 2012). Trata-se de um grupo de acadêmicos dessa prestigiosa
universidade chinesa, cujos trabalhos foram publicados, de forma inédita, por
editora ocidental, no livro “Ancient Chinese Thought, Modern Chinese Power” (Yan
2011). Boa parte dos textos são de Yan, que recorre à história e ao pensamento
clássicos chineses para propor sua teoria do realismo moral.
Como o próprio nome indica, Yan sugere um aperfeiçoamento das teorias
realistas de RI, as quais falham em não reconhecer a importância da moral como
componente do poder hegemônico. O autor concorda com as teses realistas
de que a causa da guerra está na natureza e no egoísmo humanos (Yan 2011).
A anarquia é característica constante do sistema internacional, no qual os estados
lutam por poder, prestígio e riquezas (Yan 2019). A estabilidade desse modelo
decorre de um esquema hierárquico em que o país hegemônico é o garante do
funcionamento do sistema e de suas instituições.
Contudo, Yan vai mais longe e afirma que o exercício da hegemonia não
depende somente de poder material, mas também de um agir moral. O grau de
moralidade do estado hegemônico vai definir a duração de sua supremacia e a
estabilidade de todo o sistema. Segundo o autor, teorias realistas falharam ao não
identificar que a ascensão e a queda de potências está diretamente relacionada
à conjunção de dois fatores: poder e autoridade. O primeiro refere-se ao aspecto
objetivo, ao uso da força, seja ela militar, seja econômica, ao passo que o segundo
remete a elementos imateriais, que seria a legitimidade desse poder, até que
ponto ele gera confiança, credibilidade e exemplo aos outros membros do sistema.
Ambos são componentes indispensáveis do exercício de hegemonia (Yan 2011).
Recorrendo aos escritos de sete pensadores chineses anteriores à dinastia Qin,
Yan apresenta o conceito de “autoridade humana” (王道wangdao) em oposição
ao de hegemonia (霸道 badao) (Yan 2019, 48). Trata-se basicamente de adicionar
uma camada ideacional de moralidade ao conceito de poder hegemônico. Por
meio da autoridade humana, é possível inspirar o comportamento dos demais
estados, influenciar mudanças nas normas internacionais e, mais importante,
ter o status quo aceito pela comunidade global.
Yan faz uso de vários exemplos da história ocidental, tanto a antiga quanto a
mais recente, para ilustrar sua tese e destaca sua utilidade para as atuais relações
internacionais. Com base nesses, adverte que a China deve concomitantemente
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aumentar tanto seu poder material quanto político e moral como forma de ser
vista como país responsável na comunidade global.
Em que pese o fato de o princípio de autoridade humana ajudar a melhor
entender e prever mudanças no sistema internacional contemporâneo, não há
consenso, no meio acadêmico, de que o realismo moral de Yan poderia ser
visto como paradigma novo e alternativo de teoria de RI a ponto de ser posto
ao lado das principais correntes em voga. Sua inovação teórica está em trazer
nova perspectiva para adaptar e melhorar o realismo e, assim, possivelmente
torná-lo aplicável a diversas realidades e fenômenos sociais.
Sistema Tianxia
Zhao Tingyang é atualmente o principal defensor de se aplicar o conceito de
“tianxia” à teoria de RI. Segundo ele, há duas origens para as teorias políticas
no mundo: o modelo de “polis” da Grécia antiga e o sistema de “tianxia” da
China clássica. Trata-se de duas formas de enxergar o mundo que coexistiram no
tempo, mas não no espaço, sem pontos de conexão. Zhao estuda principalmente
o sistema “tianxia” que foi desenvolvido durante a dinastia Zhou (século XI
a.C.–256 d.C.), o qual estava em constante disputa com uma miríade de grupos
étnicos, muitos dos quais maiores e mais fortes, como os Shang, destronados
antes por uma coalizão liderada pelos primeiros. Incapaz de manter-se no poder
unicamente por meio da força militar, o regime Zhou desenvolveu um sistema em
que a cooperação de longo prazo seria maximizada e os conflitos, minimizados
(Zhao 2019).
O conceito de “tianxia” refletiria uma trindade, um mundo em três camadas.
Uma delas é o mundo físico abaixo do céu — ou “all under Heaven”. Em seguida,
uma existência psicológica e sociológica, referente à aceitação da autoridade
divina por suas partes. Por fim, um sistema político harmônico, completo e
inclusivo. A conjunção desses três universos configuraria um sistema político
essencialmente mundial, marcado pela coexistência de todos, um modelo de
mundo em si mesmo, que transcende o nível dos estados na concepção vestifaliana
(Zhao 2019).
Nessa estrutura, há direitos e deveres para o estado suserano — ou “Império
do Meio” — e os vassalos. Ao primeiro, caberia manter a ordem e a segurança
públicas e prover serviços comunitários, supervisionando todo o reino. Aos
demais, cumpriria pagar tributos e serviços, enquanto mantêm autonomia local.
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A legitimidade do poder está numa governança benevolente e virtuosa sob pena
de uma revolução destronar o suserano. O “Filho do Céu” recebe o “Mandato do
Céu” para governar, mas seu domínio se mantém enquanto há interesses comuns
e evidências tangíveis de que as aspirações de todos estão sendo satisfeitas
(Zhao 2019 p. 7).
Diferentemente de Qin Yaqing e Yan Xuetong, a formação de Zhao é em
filosofia, o que se reflete muito em seus escritos. Ao longo de suas obras, defende a
aplicabilidade do modelo de “tianxia” às relações internacionais contemporâneas,
mas, em círculos acadêmicos mais amplos, sua viabilidade ainda enseja mais
dúvidas do que respostas.
Por que ainda não há uma teoria chinesa de relações
internacionais?
Nesse processo de criação de uma escola chinesa de RI, autores locais
identificaram obstáculos internos, cuja correção ajudaria a criar ambiente propício
ao crescimento e melhoramento dos estudos internacionalistas na China e à
expansão de teorias chinesas em meios acadêmicos ocidentais. A superação
desses entraves seria igualmente importante para enfrentar barreiras externas,
que advém da hegemonia ocidental no debate teórico de RI.
Em termos organizacionais, alguns autores chineses sublinham a relevância de
se ter e manter corpo docente estável de profissionais de relações internacionais
para a expansão do conhecimento sobre RI no país e o amadurecimento da
disciplina como ramo independente de ciência. Garantir recursos para pesquisa e
publicações seriam pontos relevantes, assim como estimular contínua produção
acadêmica por parte dos autores. Muitos destes somente publicaram uma única
vez e nem sempre conseguem dar continuidade à carreira acadêmica (Su 2005).
Em termos acadêmicos, autores chineses levantam vários pontos.
Primeiramente, seria preciso melhorar a qualidade dos artigos publicados.
Muitos destes se resumem a reproduzir o discurso oficial e a descrever fatos e
estatísticas, sem acrescentar uma análise qualitativa dos dados apresentados.
Pecariam em lógica e comprovação empírica, em argumentação e análise (Su
2005). Tal problema decorreria da falta de treinamento metodológico básico, o que
dificulta ter massa crítica para desenvolver modelos sistêmicos para fenômenos
internacionais (Yan 2011). Essa falta de rigor acadêmico e metodológico deveria
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ser combatida por meio da ênfase na capacidade de análise crítica do analista
e teórico de RI (Shi 2005).
Decorrente dessa falta de rigidez metodológica, acresce-se elevada oposição
de intelectuais chineses à perspectiva científica de RI, recorrendo majoritariamente
à corrente clássica. Como se recorda, enquanto esta tem como fontes a filosofia,
o direito e a história e caracteriza-se por explícita confiança no exercício do
julgamento do profissional de RI, que chega a suas conclusões com base em
um processo cientificamente imperfeito de percepção e intuição (Bull 1966),
a perspectiva científica alicerça-se na lógica e na matemática, em rigorosos
procedimentos de verificação empírica, buscando a precisão, concisão, certeza e
verificabilidade de eventos sociais (Shi 2005). Como ciência política, a corrente
clássica é naturalmente a mais recorrente nos estudos de RI, o que não exclui
eventual recurso a dados quantitativos para comprovar teses aventadas pela
experiência e pelo instinto do pesquisador.
Seria igualmente relevante melhorar o nível conceitual e de problematização
dos textos de RI. Seriam poucos os artigos que levantam questões, menos ainda
os que o fazem com impacto inovador. A pesquisa acadêmica local estaria
ainda muito concentrada e preocupada em copiar modelos teóricos, sobretudo
os vindos dos EUA (Su 2005). Por causa disso, há forte tendência em utilizar
o arcabouço realista em debates acadêmicos apesar da receptividade das teses
liberais e sobretudo construtivistas no discurso oficial. Temas de segurança são
onipresentes em sala de aula.
Essa dependência de modelos teóricos ocidentais já gerou grande esforço em
traduzir e discutir obras de autores ocidentais. No entanto, seria necessário dar um
segundo passo: estimular ainda mais reflexões, do ponto de vista da experiência
histórico-filosófica chinesa, sobre os desafios que a China enfrenta ao se relacionar
com o mundo, como as mudanças internas do país influenciam e influenciarão
as demais nações (Su 2005) — aliás, um dos objetivos do Movimento Escola
Chinesa. Em que pese essa necessidade e os escritos de vários autores locais,
ainda prevalece, nas salas de aula, a aplicação dos discursos realista, liberal e
construtivista — cujas matrizes e origens são ocidentais — ao contexto chinês
(Qin 2007). Para Yan, essa ênfase em teorias ocidentais decorre, em muitos casos,
da falta de aprendizado sobre pensamento político tradicional chinês. O melhor
caminho seria dominar teorias locais para, assim, estudar contribuições externas.
Seria necessário estimular debates exclusivamente teóricos nas universidades
(Yan 2011).
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Outro ponto a se ter em mente é, segundo autores, a falta de mecanismo
saudável de crítica acadêmica. “Por várias razões, as ciências sociais da China
dificilmente podem realizar críticas e debates acadêmicos ativos, algumas questões
não podem ser debatidas, e debates sobre alguns temas são interrompidos por
fatores não acadêmicos logo depois que começam” (Su 2005, 29). A realização
de pesquisas de opinião e de entrevistas também podem ter óbices.
Em que pese o aumento dos contatos entre acadêmicos chineses e de outros
países, ainda é comum a publicação de textos indiferentes a que outros teóricos
publicam fora ou até dentro da China. Falta, muitas vezes, revisão mínima de
literatura, que impeça a produção de artigos repetitivos e carentes de boas fontes.
A falta de um diálogo acadêmico fluido e transfronteiriço acaba gerando textos
centrados em si mesmos e que naturalmente carecem de rigor metodológico e
científico (Su 2005). Barreiras linguísticas contribuem para esse quadro. Apesar
do aumento do nível geral de inglês de professores e alunos, persistem lacunas
em outras línguas. Não é incomum encontrar acadêmicos que não falam a língua
e, por vezes, não conhecem pessoalmente os países e regiões sobre os quais se
especializaram.
Em termos teóricos, alguns pontos importantes limitam o reconhecimento
e aceitação ampla do Movimento Escola Chinesa. Em primeiro lugar, como vem
sendo discutido aqui, não surgiu, até o momento, alternativa viável aos conceitos
criados no Ocidente. Soberania segue sendo um dos princípios basilares, inclusive
da política externa chinesa. Muitas vezes, o que alguns acadêmicos chineses
chamam de descobertas inovadoras seriam, na verdade, reformulações dessas
teorias de RI já estabelecidas (Lu 2018).
O estudo de esquemas realistas, liberais e construtivistas seguem populares
na academia local e são usados como ponto de partida para se explicar a realidade
atual. Com suas exceções, teorias chinesas ainda não geraram uma agenda de
pesquisa vibrante, dentro do país, sobre a qual gerações novas e antigas se
debruçam para criar novas contribuições. Da mesma forma, casos de acadêmicos
estrangeiros estudando modelos chineses de RI ainda não são muitos (Acharya
2019).
Há críticas à essência sino-cêntrica da tradição intelectual chinesa e à
aplicabilidade restrita ao contexto local, o que dificultaria a fundação de teoria
original de RI cujos preceitos possuem validade e aceitação universais. Esse sino-
centrismo, muitas vezes, deixa teóricos chineses epistemologicamente inclinados
a ter como ponto de partida a superioridade da experiência cultural e histórica
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chinesa na produção de conhecimento acadêmico, o que seria um fenômeno
comum em civilizações com longa história, ricas práticas consolidadas e distintas
maneiras de vida (Qin 2018). Uma perspectiva holística, que albergue sabedoria
e exemplos vividos nos dois lados do globo, poderia ser uma solução viável ao
euro-centrismo das teorias atuais. Sem isso e sem sair da influência do sino-
centrismo, será difícil para o Movimento Escola Chinesa ser um empreendimento
científico no senso estrito (Lu 2018).
Muito em função desse sino-centrismo, pairam dúvidas se as teorias chinesas
teriam aplicabilidade em outras culturas e contexto sociais para além do local e
de seu entorno imediato. O sistema “tianxia” da dinastia Zhou foi desenvolvido
numa época em que “as pessoas não sabiam o quão grande o mundo era”
(Zhao 2019, 11) e havia parcos contatos com outras culturas. O mundo que
conheciam era o chinês, logo o “mundo abaixo do Céu” seria “o mundo chinês
abaixo do Céu” (Acharya 2019, 475).
Questiona-se igualmente se as próprias teses defendidas por Yan e Zhao, por
exemplo, poderiam ser verificadas em outros momentos da história chinesa, visto
que construíram seu arcabouço teórico com base no período prévio à dinastia
Qin (Acharya 2019), que sucedeu a Zhou e descontinuou o sistema “tianxia”
tal como idealizado antes, em que pese à continuidade do sistema tributário no
tempo. E mais, pergunta-se se essas ideias e conceitos poderiam ser aplicados
hoje em dia. O próprio Zhao confessa que “a estrutura hierárquica [do “tianxia”]
não está de acordo com os valores da atualidade” (Zhao 2019, 14).
Por fim, alguns críticos advertem para o uso político de discursos teóricos.
Muitos autores salientam que muitos argumentos defendidos seriam motivados
muito mais por cálculo do que por efetiva crença. Amitav afirma que parte desse
ceticismo advém da estreita relação entre academia e política oficial chinesas
— fenômeno não exclusivo da China. Por exemplo, a ideia de harmonia, esteio
do sistema tributário, é comumente invocado por líderes do país. Adverte que
o conceito de “tianxia”, numa versão moderna, poderia servir para justificar a
liderança e a estabilidade do partido no poder na China, inclusive em contextos
mais amplos que o local (Acharya 2019).
Um último e relevante ponto seria a rejeição dos meios acadêmicos ocidentais
a quaisquer contribuições alheias, o que não se limita às chinesas. Amitav afirma
que há um “intrínseco e persistente paroquialismo” no debate de RI no Ocidente
(Acharya 2019, 482). Pelo fato de terem sido os primeiros a desenvolver esse ramo
de pesquisa e de suas ideias se manterem, até hoje, em posição de destaque, há
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pouca receptividade a aportes vindos de outras regiões.
Qin, por sua vez, afirma que, durante a longa tradição ocidental no estudo
de RI, foram definidos conceitos, padrões e modelos para definir o que é teoria
e o que é uma boa teoria social. Qualquer sugestão fora desses parâmetros é
automaticamente vista como não teoria ou carente de cientificidade. O autor
recorda que noções de superioridade, sejam expressões de euro-centrismo, sejam
de sino-centrismo, são maléficas ao estudo de RI (Qin 2018).
Por fim, Yan acrescenta o que ele chama de razão política para a ainda limitada
aceitação externa das teorias chinesas. Pelo fato de os Estados Unidos serem
a principal potência na atualidade, é natural que suas ideias e seus conceitos
atraiam mais atenção do que outras contribuições teóricas (Yan 2011).
Conclusão
A progressiva consolidação da China como potência relevante no cenário
mundial tem chamado a atenção não só de políticos, diplomatas e tomadores de
decisão, mas também de teóricos de RI, interessados em escutar o que acadêmicos
chineses têm a dizer sobre a posição do país no sistema de estados, a visão
chinesa de mundo e sua contribuição para o campo de relações internacionais.
Diante disso, cresceram vozes dentro da China que advogam o surgimento
de uma escola chinesa de RI, que, a partir da análise de aspectos históricos,
culturais e filosóficos próprios, edificaria um substrato teórico independente,
original e distinto das demais teorias tradicionais. Essa tentativa é conhecida
por Movimento Escola Chinesa.
O Movimento Escola Chinesa já alcançou consensos sobre as possíveis origens
dessa nova teoria, mas ainda não se estruturou em torno de normativas que
atraem reconhecimento e aceitação em teatros outros que o chinês ou o entorno
imediato do país. Críticos do realismo moral, da teoria relacional e do sistema
“tianxia” debatem até que ponto se poderia construir uma ordem mundial com
base nessas formulações.
Predomina o entendimento de que as contribuições teóricas chinesas
até então carecem de aplicabilidade prática em contextos recentes e não
chineses — como é o caso do “tianxia” — e seriam mais adaptações das
correntes tradicionais de RI do que paradigmas completamente inovadores.
A proximidade entre o realismo clássico e o realismo moral e entre a teoria
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relacional e o construtivismo seria um exemplo. A dificuldade em se alcançar
reconhecimento e atrair o interesse de meios acadêmicos ocidentais, para além do
refratarismo intrínseco destes, adviria de limitações organizacionais, acadêmicas
e teóricas do estudo de RI na China, em que pese os avanços obtidos nos
últimos anos.
Assim como qualquer processo em andamento, o debate sobre o Movimento
Escola Chinesa está ainda se desenrolando e, logo, possui final indefinido. Com
a globalização e o crescente fortalecimento de potências emergentes, é de se
esperar que propostas não ocidentais ganhem espaço no debate teórico de RI,
ajudando a criar o que muitos defendem como “Global International Relations”
(Acharya 2019). Como qualquer processo de criação de nova teoria, é natural
que autores recorram primeiro a paradigmas existentes para, num segundo
momento, apresentarem sugestões novas e inovadoras. É possível argumentar
que a academia chinesa se encontra nesse estágio. De qualquer maneira, para
além da discussão sobre a existência ou não de uma teoria de RI proveniente
da China, o Movimento Escola Chinesa por si só já é contribuição importante
para o debate e o enriquecimento das relações internacionais como ciência,
campo de estudo.
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