Segurança cibernética em Moçambique: conceitos, infraestrutura e desafios de implementação
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 3, e1130, 2021
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Como destaca Kizza (2020), vulnerabilidades cibernéticas são agravadas por
fragilidades na governança de equipamentos, redes, sistemas, ativos informacionais
e pessoas que desenvolvem e utilizam os recursos cibernéticos. Para Marcelino
(2014), a obsolescência tecnológica de parte da infraestrutura, a escassez de pessoal
com conhecimento técnico especializado e a ausência de políticas, doutrinas e
regras de gestão de riscos e resposta a incidentes dificultam o amadurecimento
da segurança cibernética no país. Em 2015, foi criado o primeiro centro nacional
de resposta a emergências cibernéticas, chamado CERT-MZ, subordinado ao
MCTESTP. Entretanto, em setembro de 2020, a equipe do centro era formada
por apenas seis especialistas (Moçambique CERT-MZ 2020b).
Atualmente, a governança do ciberespaço moçambicano é dividida entre
dois órgãos principais. O Instituto Nacional das Comunicações de Moçambique
(INCM), vinculado ao Ministério dos Transportes e Comunicações (MTC), regula o
acesso, a interligação e a interoperabilidade das redes dos diferentes operadores.
Por sua vez, o Instituto Nacional de Tecnologias de Informação e Comunicação
(INTIC), subordinado ao Ministério da Ciência e Tecnologia, Ensino Superior e
Técnico-Profissional (MCTESTP), é responsável pelo regime jurídico das transações
eletrônicas e do comércio digital. A implementação da Rede Electrónica do Governo
(GovNET) e prestação de serviços digitais, anteriormente sob a responsabilidade
do INTIC, passaram para a alçada do Instituto Nacional de Governo Electrónico
(INAGE). Criado em dezembro de 2017, o INAGE também é subordinado ao
MCTESTP. Dentre as atribuições do órgão, se inclui a de garantir a segurança
cibernética dos recursos de TI do governo central e dos governos provinciais.
Conforme Zaballos e Jeun (2016), nos países em desenvolvimento, os
prejuízos causados pelos incidentes cibernéticos são difíceis de estimar por
falta de mapeamento e proteção das infraestruturas críticas (IC). A proposta
inicial de Estratégia Nacional de Cibersegurança, apresentada pelo governo
moçambicano em 2016, mesmo definindo como um dos seus objetivos a proteção
da infraestrutura informacional, não apresentava critérios para a classificação
das infraestruturas em termos de sua criticidade e vulnerabilidade diante de
incidentes, crimes e ataques militares.
Para o caso de Moçambique, poderiam ser adaptadas as metodologias já
desenvolvidas pela União Europeia e África do Sul, as quais, por sua vez, foram
moldadas segundo as diretrizes da ITU. No caso da metodologia europeia, por
exemplo, as infraestruturas são agrupadas por afinidades funcionais e a criticidade é
avaliada conforme os impactos sofridos afetem um ou mais setores simultaneamente