
A presença da ONU em Timor-Leste e as transformações das operações de paz
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 2, e1126, 2021
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estudar a presença da ONU em Timor
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, indagamos quais foram as estratégias
operacionais adotadas pela Organização para monitorar e administrar o processo de
independência do país e responder aos ciclos de violência no território timorense.
Tomando como base documentos e bibliografia especializada, apresentamos
inicialmente um panorama sobre a expansão e a diversificação das operações de paz
da ONU nos anos 1990 e 2000, assim como os principais fatores que ocasionaram
o movimento de revisão desses mecanismos. Corroboramos a interpretação de que,
nesse período, as diretrizes para a operacionalização dessas missões distanciaram-
se da tríade convencional estipulada nos anos 1950 quando da mobilização de
tropas internacionais para o monitoramento da Crise do Canal de Suez.
No segundo momento, resgatamos o histórico de instabilidade vivenciado por
Timor-Leste desde o período colonial até o reconhecimento de sua independência.
Nesse ínterim, enfatizamos o papel dos colonizadores e as influências de atores
internacionais no processo de independência timorense. Adicionalmente,
analisamos as resoluções do CSNU que instauraram as operações de paz no
território e os relatórios do Secretário-Geral das Nações Unidas (SGNU) sobre
o andamento de cada uma delas. Optamos por um estudo mais detalhado da
missão de administração transitória pela qual a ONU assumiu a autoridade
executiva e legislativa de Timor (UNTAET) e das duas operações implementadas
a seguir. A primeira, UNMISET, estruturada para apoiar mecanismos de garantia
da estabilidade política e da segurança do país entre 2002 e 2005; e a segunda,
UNMIT, autorizada, em 2006, a partir do novo conceito de missão integrada,
incorporando tarefas nas áreas de reconciliação nacional, processo político-
eleitoral, governança democrática, segurança e direitos humanos.
Verificamos, neste trabalho, que, ao longo do processo de revisão das operações
de paz, a ONU dotou tais missões de mecanismos mais complexos, que expandiram
as funções de monitorar a violência nos territórios afetados pelos conflitos. Ademais,
argumentamos que as operações desenvolvidas em Timor-Leste acompanharam
esse movimento de expansão das responsabilidades atribuídas às missões, uma
vez que abordaram questões além da esfera tradicional de segurança militar e
confluíram para o modelo de missão integrada, concebido a partir de um escopo
multidimensional e operacionalizado sob numeroso componente policial.
7 Entre 1999 e 2012, a ONU instalou as seguintes missões de paz em Timor-Leste: Missão das Nações Unidas
no Timor-Leste (UNAMET), em 1999; Força Internacional para o Timor-Leste (INTERFET), também em 1999;
Administração Transitória das Nações Unidas no Timor-Leste (UNTAET), de 1999 a 2002; Missão de Apoio
das Nações Unidas no Timor-Leste (UNMISET), entre 2002 e 2005; e Missão Integrada das Nações Unidas no
Timor-Leste (UNMIT), de 2006 a 2012.