Diego Pautasso; Tiago Soares Nogara; Carlos Renato Ungaretti; Ana Maria Prestes Rabelo
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 2, e1122, 2021
1-23
As três dimensões da guerra
comercial entre China e EUA
The three dimensions of the trade
war between China and the USA
Las tres dimensiones de la guerra
comercial entre China y EEUU
DOI: 10.21530/ci.v16n2.2021.1122
Diego Pautasso
1
Tiago Soares Nogara
2
Carlos Renato Ungaretti
3
Ana Maria Prestes Rabelo
4
Resumo
O artigo argumenta que a Guerra Comercial entre EUA e China
engloba três dimensões: num nível mais superficial, representa
o recrudescimento do protecionismo estadunidense voltado à
base eleitoral de Trump e à consequente barganha em relação à
China para diminuir os déficits comerciais; no nível intermediário,
a disputa pela liderança de importantes segmentos tecnológicos-
produtivos; e no nível mais profundo, a própria contenda
pela liderança do sistema internacional. Consequentemente,
1 Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul
(UFRGS). Professor do Colégio Militar de Porto Alegre. Rio Grande do Sul, Brasil.
(dgpautasso@gmail.com). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-2393-1903.
2 Doutorando em Ciência Política na Universidade de São Paulo (USP). Mestre
em Relações Internacionas pela Universidade de Brasília (UnB).
(tiagosnogara@gmail.com). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-1560-8150.
3 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais
(PPGEEI), da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
(renato.ungaretti94@gmail.com). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1599-2941.
4 Doutora em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Assessora Técnica na Câmara dos Deputados. Brasília, Distrito Federal, Brasil.
(anamprestes@gmail.com). ORCID: https://orcid.org/0000-0003-0521-035X.
Artigo submetido em 21/09/2020 e aprovado em 25/04/2021.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ISSN 2526-9038
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As três dimensões da guerra comercial entre China e EUA
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demonstramos que a disputa tecnológica sino-estadunidense no setor da infraestrutura
5G da empresa chinesa Huawei reflete uma competição mais abrangente pela própria
liderança do sistema internacional.
Palavras-chave: Guerra Comercial; Estados Unidos; China; Hegemonia; 5G.
Abstract
The article argues that the US-China Trade War encompasses three dimensions: on a superficial
level, it represents the resurgence of US protectionism aimed at Trump’s electoral base and
the consequent bargain in relation to China to reduce trade deficits; at the intermediate level,
the dispute for the leadership of important technological-productive segments; and at the
deepest level, the contention for the leadership of the international system. Consequently,
we demonstrate that the dispute in the 5G infrastructure sector of the Chinese company
Huawei reflects a deepest competition for the leadership of the international system.
Keywords: Trade War; United States of America; China; Hegemony; 5G.
Resumen
El artículo sostiene que la Guerra Comercial entre Estados Unidos y China abarca tres
dimensiones: en un nivel más superficial, representa el resurgimiento del proteccionismo
estadounidense dirigido a la base electoral de Trump y el consecuente pacto en relación
con China para reducir los déficits comerciales; en el nivel intermedio, la disputa por el
liderazgo de importantes segmentos tecnológico-productivos; y en el nivel más profundo, la
misma contienda por el liderazgo del sistema internacional. En consecuencia, demostramos
que la disputa tecnológica chino-estadounidense en el sector de infraestructura 5G de la
empresa china Huawei refleja una competencia por el liderazgo del sistema internacional.
Palabras clave: Guerra comercial; Estados Unidos; China; Hegemonía; 5G.
Introdução
A Guerra Comercial entre EUA e China engloba três dimensões. Num nível
mais superficial, representa o recrudescimento do protecionismo estadunidense
voltado à base eleitoral de Trump e à consequente barganha em relação à
China para diminuir os déficits comerciais. Contudo, pretendemos argumentar,
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neste artigo, que esse tensionamento bilateral encerra disputas mais profundas:
no nível intermediário, pela liderança de importantes segmentos tecnológicos-
produtivos e, no nível mais profundo, pela liderança do sistema internacional.
O problema de pesquisa em questão é, pois, compreender como as disputas
tarifárias obscurecem a rivalidade sino-americana e, com efeito, a liderança
técnico-produtiva e sistêmica em jogo. Para lançar luz sobre essa problemática,
buscamos enfatizar a questão do padrão tecnológico 5G e da empresa chinesa
líder no setor, a Huawei, como referente empírico.
Nesse sentido, situamos as contradições no seio das relações sino-
estadunidenses como parte de uma complexa transição sistêmica. Trata-se de
uma premissa teórica ancorada na obra de Arrighi e Silver (2001), que indica o
acirramento das competições interestatais e interempresariais nas conjunturas de
reorganização das bases técnico-produtivas globais. Desde a década de 1970, as
reorganizações geoeconômica e geopolítica têm envolvido processos complexos
e entrelaçados, tais como a reação neoconservadora e neoliberal, a emergência
de novos paradigmas produtivos, o final da Guerra Fria, a projeção de poder dos
EUA e, com a virada para o século XXI, a crescente multipolarização. Está cada
vez mais perceptível a intensificação da competição político-econômica entre
os países mais poderosos, com a redução da capacidade arbitral (unilateral) dos
EUA, a rápida fragmentação do sistema mundial, falência e esvaziamento de
organismos multilaterais, a volta da luta pelas supremacias regionais e, como
efeito, o aumento do grau de incerteza no mundo (Fiori 2007). Nesse sentido,
a pandemia parece ter precipitado tanto inovações quanto tendências disruptivas,
acelerando dinâmicas sistêmicas e recrudescendo as contradições entre EUA
e China.
Para dar conta desse tema, o artigo está organizado da seguinte forma.
A primeira parte aborda a ascensão chinesa após a política de Reforma e Abertura,
num quadro de reorganização sistêmica. A segunda, trata da Guerra Comercial,
relatando sua cronologia, bem como suas três dimensões entrelaçadas. Por fim,
a última seção discute como a disputa tecnológica sino-estadunidense no setor
da infraestrutura 5G da empresa chinesa Huawei reflete uma competição mais
abrangente.
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A ascensão chinesa num quadro de transição sistêmica e a
reação estadunidense
A ascensão da China tem coincidido com o processo de reorganização do
sistema internacional. A política de Reforma e Abertura, de Deng Xiaoping,
foi desencadeada, na década de 1970, de modo a inaugurar um novo ciclo de
desenvolvimento e inserção global para o país asiático. Como destaca Pinto
(2011), a construção do eixo sino-americano articulou a globalização financeira
estadunidense ao embrionário milagre econômico chinês, impulsionando mudanças
significativas na divisão internacional do trabalho e, consequentemente, nas
configurações de poder no mundo. O irrefreável desenvolvimento da China, a
partir do século XXI, passou a tensionar as estruturas hegemônicas de poder
centradas nos EUA e nos seus aliados.
O desenvolvimento chinês se desdobrou em três processos fundamentais,
no âmbito do seu comércio exterior, nas últimas décadas do século XX:
1) expansão dos fluxos de comércio e participação chinesa no comércio global;
2) sofisticação da pauta do comércio externo do país, que resultou na consolidação
de um setor exportador dinâmico e com crescente intensidade tecnológica;
3) e redirecionamento dos fluxos de comércio, em especial das exportações,
no qual os EUA se constituíram no principal mercado consumidor e as nações
asiáticas se tornaram as principais fornecedoras para a produção desses bens
exportados (Chernavsky e Leão 2011).
Vamos aos dados. Segundo o Atlas da Complexidade Econômica, a China
possuía índice de complexidade econômica de 0,143 em 1995 e 1,16 em 2016,
passando de 50º para 18º no ranking mundial – no mesmo período, os Estados
Unidos passaram de 1,86 para 1,55, ou da 7ª para a 10ª posição. Em 1992, pouco
mais de 6% das exportações chinesas eram formados por bens de alto valor
agregado (high-technology), chegando a mais de 25% em 2016 – enquanto os
EUA, no mesmo período, viram despencar de 32,5% para 19,9% a participação
dos bens com alto valor agregado na sua pauta de exportações. Em 2017, as
exportações chinesas totalizaram US$ 1,95 trilhões e os principais destinos
dessas exportações foram: EUA (US$ 425 bilhões), Japão (US$ 136 bilhões),
Alemanha (US$ 71 bilhões) e Coréia do Sul (US$ 100 bilhões) (OEC, 2018).
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Em relação à composição das exportações, 49% são classificadas como máquinas
5
,
ao passo que os principais produtos exportados, em 2016, foram: 1) ferramentas
de transmissão de radiotelefonia; 2) circuitos integrados eletrônicos; 3) máquinas
automáticas de processamento de dados; 4) aparelhos elétricos de telefonia
(OMC, 2020). Depreende-se, nesse sentido, que a evolução das exportações
chinesas transitaram de um padrão exportador de commodities e de produtos
de baixo valor agregado (Chernavsky e Leão 2011) para um padrão exportador
esmagadoramente composto por produtos manufaturados
6
, sendo mais de 90%
de suas exportações em produtos manufaturados.
Não obstante, as dificuldades de mensuração de dados variáveis, como
controle acionário e perfil das empresas, trata-se de uma ascensão significativa
de 18 empresas chinesas, em 2005, para 124 listadas (133 se contar Taiwan)
entre as 500 maiores do mundo, em 2020, segundo a Fortune – enquanto, nesse
mesmo período, os EUA passaram de 176 para 121 no primeiro ano em que foram
superados pelo país asiático (Murray e Meyer, 2020). É evidente que as estratégias
Going Global e Made in China 2025 são a expressão dessa nova etapa qualitativa
do desenvolvimento chinês e aprofundam a concorrência interempresarial da
qual falava Arrighi (1996). E com a crise de 2008 e a liderança de Xi Jinping
(2012), nota-se um aprofundamento dessa postura mais assertiva da China,
especialmente no campo da diplomacia econômica (Daojiong 2015). Os textos
oficiais de Xi Jinping tratam da Diplomacia de Grande País em consonância
com a grande revitalização nacional, enquanto ensejam a retórica do benefício
mútuo, da cooperação ganha-ganha e do desenvolvimento compartilhado, mas
sem deixar de lado o crescente protagonismo na governança global através do
multilateralismo, visando a reforma do sistema internacional (Jinping, 2018).
A China atua de maneira cada vez mais assertiva no atual sistema de
governança, como no G20 (comercial e financeiro), ou mesmo fazendo gestões
para reformá-lo, como no Fundo Monetário Internacional (FMI). Ao mesmo
tempo, a China lidera diversas iniciativas para criar estruturas de governança
paralelas: no âmbito financeiro, Banco Asiático de Investimentos em Infraestrutura
5 De acordo com o OEC (2018), os principais produtos computados dentro dessa categoria foram: equipamento
de transmissão (US$ 231 bilhões), computadores (US$ 146 bilhões), peças de máquinas de escritório (US$
90,8 bilhões), circuitos integrados (US$ 80,1 bilhões) e telefones (US$ 62 bilhões).
6 Segundo a OMC (2020), em 2018, cerca de 93% das exportações chinesas foram de produtos manufaturados,
ao passo que os outros 7% restantes se dividem em produtos agrícolas e combustíveis e produtos minerais,
sobretudo.
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(AIIB), Novo Banco de Desenvolvimento dos BRICS (NDB/BRICS), Sistema de
Pagamento Internacional da China, China UnionPay, Grupo de Avaliação de Crédito
Universal; no âmbito integrativo (comercial e securitário), Parceria Econômica
Regional Abrangente, Organização para Cooperação de Xangai, BRICS, Fórum
Boao para a Ásia; no âmbito infraestrutural, a Nova Rota da Seda ou Iniciativa
Cinturão e Rota (Stuenkel 2018).
Mas sem dúvida, a mais audaciosa ação diplomática da China tem sido a
Nova Rota da Seda (Belt and Road Initiative-BRI). A iniciativa de Beijing representa
a etapa regional do projeto chinês de globalização e, com efeito, tensiona com
a primazia global estadunidense. A BRI é um evidente transbordamento do
desenvolvimento da China e cumpre diversos objetivos articulados: 1) cria demanda
para a supercapacidade ociosa da indústria nacional; 2) amplia a segurança em
recursos naturais, energéticos e alimentares; 3) impulsiona a internacionalização
das empresas chinesas e a exportação de serviços (de engenharia, especialmente);
4) fortalece o comércio regional e o papel gravitacional da China na recriação do
sistema sinocêntrico; 5) contribui para securitizar a partir do desenvolvimento e da
integração regionais; 6) e fomenta a conversibilidade do renmimbi (RMB), tornando
a moeda chinesa reserva de valor e meio de comércio corrente
7
. A simbiose entre
seu desenvolvimento e seu poder global
8
demonstra o entrelaçamento entre a
BRI e o Made in China 2025 – e deixa claro o papel do país de agente ativo na
reconfiguração do sistema internacional (Yiwei 2016). Está posto, pois, que a
crescente vantagem chinesa na competição interempresarial, e o enlace de suas
corporações com o Estado chinês, tem influenciado o deslocamento de processos
decisórios e produtivos e a emergência de novas configurações de poder no
mundo, quiçá, sinocentradas como colocava Arrighi (1996; 2008).
Nesse sentido, alguns dados podem ajudar a iluminar as novas capacidades
do país asiático, bem como as contradições que encerram com as potências
consolidadas (EUA, Alemanha, Japão, etc.). Em termos de riqueza absoluta, a
China se tornou o maior PIB mundial em poder de paridade de compra já em
2014, enquanto em dólares, seu PIB (US$ 13,5 trilhões em 2018) é equivalente ao
dos próximos quatro países juntos (Japão, Alemanha, Reino Unido e França). Em
termos comerciais, o país se tornou o maior exportador, em 2009, e é responsável
por 40% do tráfego de contêineres, tendo 7 dos 10 maiores portos do mundo;
7 Ver Pautasso (2019a).
8 Ver Pautasso (2019b).
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é o principal parceiro comercial de 130 países; tem 42% do e-commerce mundial.
Em termos produtivos, a produção manufatureira da China já é o dobro da dos
EUA, tem contribuído com cerca de 28% do crescimento global; considerando
Taiwan, é o país com mais empresas entre as 500 maiores da Global Fortune,
marcas chinesas detêm 40% do mercado mundial de smartphones; em pouco mais
de duas décadas, construiu mais de 30 mil km de ferrovias de alta velocidade.
Para ilustrar: em três anos (2012-2015), a China usou mais cimento do que os
EUA em todo o século XX. Em termos de inovação, o país oriental forma quatro
vezes mais graduados em ciências, tecnologia, engenharia e matemática (STEM)
do que os EUA; tem 40% das patentes nas tecnologias 5G. Em termos sociais,
retirou 800 milhões de pessoas da pobreza extrema desde o início das reformas.
Se, por um lado, os dados são surpreendentes, por outro, é inegável que os
desafios também são proporcionais.
Ora, essa ascensão da China produz um profundo tensionamento global,
na medida em que pressiona as estruturas hegemônicas de poder lideradas por
Washington. Durante o governo Obama, a então secretária de Estado Hillary
Clinton, escreveu, na Foreign Policy, artigo intitulado America’s Pacific Century
(out/2011). Nele, a Ásia Oriental passava a ser considerada uma região pivô – após
o governo dos EUA ter dado mais ênfase ao Oriente Médio na primeira década do
século XXI. As prioridades seriam a proliferação imprevisível e instável de armas
nucleares da Coréia do Norte, as disputas territoriais no mar do Sul da China, e a
ascensão do gigante asiático. Para tanto, os EUA deveriam fortalecer as relações
com aliados históricos, como Japão, Coréia do Sul, Filipinas, Austrália e Tailândia;
aprofundar as parcerias com Indonésia, Malásia, Cingapura, Vietnã e Índia e
fortalecer o relacionamento não oficial com o povo de Taiwan. Naquele contexto,
uma das estratégias para a região era aumentar o comércio e o investimento
através do Acordo Parceria Transpacífica (TPP).
Desde a normalização das relações comerciais entre EUA e China, no ano 2000,
sob a presidência de Bill Clinton, o que inclusive abriu as portas para a entrada
da China na OMC (2001), a vitória de Trump foi a mudança que representou
maiores alterações na política externa de Washington, sobretudo na sua interação
com a China. A primeira evidência disso foi o fato de que, em seu terceiro dia
no cargo, Trump assinou uma ordem executiva retirando os EUA do TPP. Além
da retirada do acordo, houve um tensionamento nas relações com a China,
que desde a campanha eleitoral já era alvo preferencial de críticas. A narrativa
eleitoral de Trump enfatizou três temas envolvendo o comércio internacional: 1)
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balança comercial deficitária; 2) manipulação cambial – especialmente da China;
3) e acordos comerciais “desastrosos” para os EUA (Noland, 2018). Durante
seu mandato, Trump perseguiu essa agenda com afinco: o país utilizou todos
os mecanismos de defesa comercial a seu alcance – como é o caso do uso de
leis antidumping e de direitos compensatórios e, inclusive, da invocação de leis
internas para realização de atos unilaterais –, contribuindo tanto para a revisão
de acordos bilaterais e regionais quanto para o desapreço dos procedimentos
e das regras na esfera da OMC. De acordo com McBride (2018), o desinteresse
em tratar as disputas comerciais no âmbito multilateral, somado às medidas
unilaterais adotadas contra a China e outros países, vem suscitando dúvidas
inclusive sobre o futuro da OMC.
Sob o comando de Trump, os EUA abandonariam a OMC e outros organismos
multilaterais à própria sorte, enquanto intensificaram a disputa bilateral com
a China e a autossuficiência na resolução de outras situações conflituosas,
como com o Irã e a Coreia do Norte. Mais recentemente, com a pandemia, até
a OMS sofreu as consequências dessa política liquidacionista dos mecanismos
multilaterais de convivência internacional e de resolução de conflitos.
Em um documento elaborado pelo Congresso, em 2018, Morisson (2018)
estabelece as principais preocupações dos EUA em relação às relações comerciais
com a China. Além das críticas à manipulação cambial, o relatório observa as
seguintes questões: a) infrações em relação à propriedade intelectual estadunidense
(incluindo roubo cibernético de segredos industriais); b) crescente o uso de
políticas industriais para promover e proteger indústrias domésticas chinesas;
c) extensivas restrições ao investimento estrangeiro e ao comércio exterior;
d) ausência de transparências nas regras e nos regulamentos comerciais; e)
distorcivas políticas econômicas que tem levado à formação de capacidades
ociosas em diversas indústrias; f) e elevado superávit comercial no comércio de
bens com os Estados Unidos.
O fato é que o governo Trump, especialmente com a crise pandêmica,
recrudesceu seus gestos. Em um de seus últimos pronunciamentos, na Comissão
de Relações Exteriores do Senado americano, em julho de 2020, o Secretário
de Estado, Mike Pompeo, disse que o Partido Comunista Chinês é “a principal
ameaça dos nossos tempos” e que “a corrente está virando”, pois o mundo estaria
“despertando para isso” sob a liderança dos EUA. Como fator demonstrativo, ele
citou o fato de vários países estarem “rejeitando” a Huawei em seus projetos de
implantação da tecnologia de comunicação 5G. Ele defendeu ainda o fechamento
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do consulado chinês em Houston, no Texas, por se tratar de um “covil de espiões”.
O consulado foi fechado sob acusações de espionagem e roubo de propriedade
intelectual. A China reagiu fechando o consulado de Chengdu, no sudeste do
país. Na época, autoridades chinesas disseram que “os EUA violaram seriamente
o direito internacional e os termos da Convenção Consular China-EUA.
A “crise dos consulados” faz parte da mais séria crise diplomática entre os
dois países desde 1979; some-se a isso, as expulsões recíprocas de jornalistas,
o envio de bombardeiros para a base naval norte-americana, no oceano Índico,
no contexto da tensão sino-indiana no Himalaia, o congelamento de bens das
autoridades de Hong Kong, a elevação da tensão no Mar do Sul da China, a
perseguição ao aplicativo TikTok, que possui uma milionária rede de usuários nos
EUA, a promoção do encontro diplomático de mais alto nível com as autoridades
de Taiwan em 40 anos, os ataques ao novo Centro de Controle de Doenças da
União Africana, em Adis Abeba, construído pelos chineses, a retórica do “vírus
chinês” ao longo da pandemia e, por fim, o abandono do posto de Embaixador
dos EUA na China, por Terry Branstad, velho conhecido de Xi Jinping desde os
anos 80.
Assim como a disputa tarifária, rusgas diplomáticas e confrontos acerca
da governança global (em organismos internacionais) refletem a ofensiva de
Washington em face da emergência da China. Isso, por sua vez, é típico da mudança
de centros produtivos e decisórios a partir de novas dinâmicas entrelaçadas
entre territorialidade estatal e processos globais de acumulação. Como destacou
Arrighi (1996), tais dinâmicas estão no cerne das mudanças sistêmicas e das
novas configurações (hierárquicas) de poder no mundo.
As três dimensões da Guerra Comercial
Como sugerimos, a Guerra Comercial tem três dimensões. Para além da
tarifária, a questão tecnológica parece ser a mais sensível, pois trata-se da
liderança sobre os novos paradigmas produtivos, com impactos no longo prazo
para a própria transição sistêmica. O caso da infraestrutura de comunicação
5G, tendo como epicentro a empresa chinesa Huawei, talvez seja ilustrativo das
disputas em questão e de seus efeitos sobre a ordem mundial em conformação.
Para compreender essas disputas tecnológicas, cabe recapitular o quadro geral
da Guerra Comercial. Antes de qualquer coisa, o crescente déficit comercial dos
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EUA com a China foi se tornando complicado. Dessa forma, a eleição de Trump,
em 2016, se nutriu justamente da retórica antichinesa, pois convergia tanto com
sua base eleitoral mais conservadora quanto com setores produtivos nacionais,
ambos interessados no protecionismo e nos empregos. Assim, sob a bandeira
do America First, as ações do governo estadunidense foram desencadeadas a
partir de 6 de julho de 2018, quando entrou em vigor tarifas sobre 818 produtos
exportados pela China, contabilizando um valor de US$ 34 bilhões (Quadro 1).
O resultado foi que o déficit comercial bilateral anual caiu pela primeira vez
em tempos recentes, no ano de 2019, chegando a US$ 345,6 bilhões, ante os
US$ 418,9 bilhões de 2018. O ano de 2020 corrobora a tendência, apontando
perspectivas para nova redução: entre janeiro e maio, o déficit com a China ficou
em US$ 103,3 bilhões, bem abaixo dos US$ 136,4 bilhões do mesmo período do
ano passado.
Quadro 1 – Cronologia da guerra comercial
Data Acontecimento
06/07/2018 EUA impõem tarifas sobre importações chinesas no valor de US$ 34 bilhões.
11/07/2018 A Representação Comercial dos EUA (USTR) divulga uma lista de US$ 200
bilhões de produtos chineses que podem ser alvo de tarifas extras de 10%.
20/07/2018 Trump diz que “está pronto” para prosseguir com tarifas sobre importações
chinesas no valor de US$ 500 bilhões.
31/07/2018 China e EUA sinalizam para um reinício das conversações.
02/08/2018
A Representação Comercial dos EUA (USTR) confirma que o presidente Trump
considera aumentar as tarifas de 10% para 25%, totalizando um incremento
de US$ 200 bilhões.
03/08/2018
China anuncia uma lista de US$ 60 bilhões em importações dos EUA e planeja
aplicar tarifas caso a administração Trump siga com tarifas mais altas de US$
200 bilhões.
23/08/2018
Segunda rodada de tarifas, que complementa os US$ 34 bilhões anteriormente
tarifados e culmina em um total de US$ 50 bilhões.
17/09/2018 EUA anunciam que tarifas de 10% sobre US$ 200 bilhões de exportações
chinesas iniciam em 24 de setembro e permanecem até o final de 2018.
18/09/2018 China anuncia retaliação de US$ 60 bilhões de bens dos EUA.
22/09/2018 China cancela negociações comerciais com os EUA, que visavam a impedir a
implementação de tarifas de US$ 200 bilhões sobre produtos chineses.
24/09/2018 Os EUA implementam tarifas de US$ 200 bilhões sobre produtos chineses,
elevando o total de tarifas para US$ 250 bilhões. A China aplica tarifas de US$ 60
bilhões sobre produtos dos EUA conforme lista divulgada no dia 3 de agosto.
continua...
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Data Acontecimento
25/10/2018
Autoridades chinesas e estadunidenses retomam contato. As autoridades estão
se preparando para que Trump e Xi Jinping se encontrem à margem das reuniões
do G20, em novembro, em Buenos Aires.
30/10/2018 Os EUA estão preparados para anunciar tarifas sobre os produtos chineses
remanescentes até o início de dezembro, caso as negociações entre Trump e
Xi Jinping não resultem em um acordo.
09/11/2018 China e EUA retomam negociações comerciais.
19/11/2018
EUA divulga lista de controles de exportação para tecnologias emergentes. O Bureau
de Indústria e Segurança dos EUA (BIS) publica regras de controle de exportação
para tecnologias como Inteligência Artificial (IA), robótica e computação quântica.
02/12/2018
China e EUA concordam com uma trégua temporária. Essa trégua visa a reduzir
as tensões comerciais, após um jantar de trabalho, na cúpula do G20, em
Buenos Aires.
24/02/2019 Trump anuncia adiamento do aumento de tarifas sobre os US$ 200 bilhões de
importações chinesas, até então marcado para o dia 01/05/2019. No caso, as
tarifas aumentariam de 10% para 25%.
04/2019 Expectativa gerada por possibilidade de acordo.
05/05/2019 Reversão nas negociações, com Trump confirmando aumento das tarifas para
25%, sobre os US$ 200 bilhões de importações chinesas, para o dia 10/05.
Conjuntamente, indica a pretensão de impor tarifas de 25% ao restante dos
produtos chineses não afetados pelas medidas anteriores, atingindo brinquedos,
calçados, roupas e eletrônicos.
10/05/2019 Confirmando ameaça, importações chinesas taxadas em 10%, em setembro
de 2018, têm tarifas aumentadas para 25%.
13/05/2019 China anuncia intenção de aumentar tarifas sobre parte dos US$ 60 bilhões
de importações americanas designados em setembro.
01/06/2019 China aumenta tarifas sobre US$ 36 bilhões do montante de US$ 60 bilhões
da lista de importações americanas designadas em setembro de 2018.
01/08/2019
Imediatamente após nova rodada de negociações, Trump anuncia pretensão de
impor tarifas de 10% – e não de 25%, como antes ameaçado – sobre produtos
chineses não listados nos anteriores US$ 300 bilhões em importações.
13/08/2019
EUA planejam impor novas taxações em duas etapas: a primeira, em setembro,
taxando em 10% cerca de US$ 112 bilhões das importações chinesas; a segunda,
em dezembro, atingindo outros US$ 160 bilhões.
23/08/2019
China divulga plano de retaliação sobre US$ 75 bilhões em importações
estadunidenses, a serem implementados em setembro e dezembro, respondendo
às taxações americanas. Tarifas sobre os automóveis provenientes dos EUA
aumentariam de 12,6% para 42,6%. No mesmo dia, Trump anuncia subida nas
taxações planejadas para setembro e dezembro, de 10% para 15%, além da
alta das tarifas relativas a US$ 250 bilhões de importações chinesas, passando
de 25% para 30% a partir do dia 1º de outubro.
continua...
continuação...
As três dimensões da guerra comercial entre China e EUA
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 2, e1122, 2021
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Data Acontecimento
11/09/2019
China anuncia retirada de 16 produtos – menos de US$ 2 bilhões das exportações
americanas – da lista de retaliações imposta em 2018. Trump planeja retardar
o aumento de tarifas sobre os US$ 250 bilhões em importações chinesas,
transferindo-o para o dia 15 de outubro.
11/10/2019 Trump cancela subida de tarifas prevista para outubro, anunciando que as
negociações avançaram para a composição de um futuro acordo.
13/12/2019
Trump anuncia cancelamento das tarifas programadas para o dia 15 de dezembro,
indicando acordo com a China a ser concluído em janeiro de 2020.
15/01/2020
Finalizada a primeira fase do acordo, China concorda em comprar um montante
adicional de US$ 200 bilhões em produtos americanos. A maioria das tarifas se
mantém, e não são negociadas questões vinculadas aos subsídios e empresas
estatais.
03/2020
No contexto da crise global desencadeada pela Covid-19, Trump anuncia redução
das taxações sobre produtos chineses vinculados às políticas de contenção à
pandemia.
Fonte: Wong e Koty (2018) e Bown (2020).
O Quadro 1 nos mostra que, desde julho de 2018, já houve três rodadas
de tarifas entre os dois países. Até o momento, os EUA já impuseram tarifas
sobre produtos chineses no valor de US$ 250 bilhões e ameaçam impor novas
tarifas no valor de US$ 237 bilhões – o que, por sua vez, colocaria sob taxação
praticamente todas as exportações chinesas. A China, por sua vez, fixou tarifas
de US$ 110 bilhões em produtos dos EUA e está ameaçando impor medidas que
afetariam empresas dos EUA que operam na China (Wong e Koty 2018). Já a
Quadro 2 busca ilustrar os principais produtos de exportação da China que vem
sendo afetados pelas tarifas de importação nos EUA.
continuação...
Diego Pautasso; Tiago Soares Nogara; Carlos Renato Ungaretti; Ana Maria Prestes Rabelo
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 2, e1122, 2021
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Quadro 2 – Exportações chinesas afetadas pela guerra comercial
PRIMEIRA E SEGUNDA RODADA (julho e agosto de 2018) TERCEIRA RODADA (setembro de 2018)
Pneus para aeronaves
Reatores nucleares
Motores de barco
Motores de aeronaves e peças de motor
Compressores de ar e gás
Equipamento de aquecimento industrial
Balanças, principalmente para pesagem de equipamentos
industriais de grande porte
Guindastes e equipamentos de elevação
Veículos de construção de grande porte
Peças de perfuração de petróleo e gás
Veículos agrícolas
Equipamentos para criação de gado
Máquinas para processamento de alimentos
Máquinas para fabricação de papel cartão
Peças de impressoras e copiadoras
Máquinas para processamento e moldagem de metais ou
cimento e suas partes
Máquinas para fabricação de produtos de vidro
Máquinas para fabricação de artigos de borracha ou plástico
Rolamentos de esferas
Geradores DC e AC
Transformadores de eletricidade
Ímãs industriais
Baterias de lítio e outras baterias
Fornos e Fornos Industriais
Radar e equipamento de rádio
Peças para televisores
Equipamento de gravação de vídeo
Sinais de tráfico eletrônico
Equipamentos elétricos (resistores/disjuntores
LEDs
Trens e peças de trilhos
Veículos de grande porte
Alguns carros e caminhões, motocicletas, helicópteros,
aviões e espaçonaves
Microscópios e telescópios
Lasers
Equipamento de imagem e navegação
Equipamentos médicos (raios-X/marcapassos)
Equipamentos científicos, como medidores de pressão e
espectrômetros.
Carne
Peixe e frutos do mar
Produtos animais sem carne
Legumes
Frutas e nozes
Cereais
Moinho produtos
Sementes oleaginosas
Açúcares e doces
Pães e Massas
Legumes e frutas preparados
Outros itens alimentares
Bebidas e vinagres
Resíduos de processamento de alimentos e ração animal
Produtos de tabaco
Sais e Minerais
Minérios, escórias e cinzas
Combustíveis minerais e óleos
Produtos químicos orgânicos
Fertilizantes
Extratos de curtimento e secagem, corantes e tintas
Óleos essenciais, perfumes
Sabonetes e produtos de limpeza
Colas, adesivos e enzimas
Fluido de isqueiro
Bens fotográficos
Vários produtos químicos
Plásticos
Borracha
Couros crus e couro
Madeira
Produtos de polpa de madeira
Papel
Seda
Produtos de cabelo de lã ou animal
Algodão
Linho
Têxteis artificiais
Outros produtos têxteis
Tecidos
Chapelaria
Pedra, gesso, cimento, amianto
Cerâmica
Vidro e vidro
Pedras preciosas e pérolas
Ferro e aço e produtos derivados de metais
Cobre
Níquel
Alumínio
Vários produtos de metal, ferramentas, talheres
Máquinas industriais e de varejo
Eletrônicos
Veículos e peças
Paraquedas
Navios e barcos
Instrumentos para fins científicos ou médicos
Relógios
Móveis, roupas de cama, colchões
Itens sortidos
Fonte: Martin e Bryan (2018).
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A primeira e a segunda rodada de tarifas impuseram, respectivamente,
tarifas da ordem de US$ 34 bilhões e US$ 16 bilhões – totalizando US$ 50
bilhões. Na primeira rodada, foram incluídos 818 produtos chineses, enquanto
que, na segunda, foram incluídos mais 284 produtos. De acordo com o quadro,
percebe-se que, na primeira e na segunda rodada, as tarifas se concentraram em
mercadorias de setores industriais, sobretudo aqueles beneficiados pelo programa
Made in China 2025. Isto é, as tarifas focaram em produtos oriundos de indústrias
como aeroespacial, informação e comunicação, robótica, maquinário industrial
e automobilística. Já as mercadorias objeto de taxação na terceira rodada, que
equivalem ao valor de US$ 200 bilhões, representam uma ampla variedade de
produtos, englobando bens de consumo como bonés, TVs e alimentos.
Após o anúncio de novas tarifas no valor de US$ 200 bilhões para exportações
chinesas, a China adotou medidas de retaliação contra os produtos estadunidenses.
No dia 18 de setembro, o ministro do Comércio da China anunciou que elevaria
as tarifas de 5% a 10% em US$ 60 bilhões de produtos, englobando mais
de 5.000 bens exportados pelos EUA. As tarifas entraram em vigor no dia 24
de setembro, na mesma data em que as tarifas estadunidenses para produtos
chineses começaram a valer. A retaliação chinesa à terceira rodada de tarifas
dos EUA colocou um adicional de 5% sobre produtos como pequenas aeronaves,
computadores e têxteis, ao passo em que fixou tarifas adicionais de 10% em
produtos químicos, carne, trigo e vinho. Além desses, houve adição tarifária
– entre 5 e 10% – para produtos como soja, laticínios, suco de laranja, carros
elétricos, petróleo, gás natural e equipamentos médicos.
Apesar da trégua estabelecida entre dezembro de 2018 e março de 2019,
as escaramuças foram retomadas em seguida. Após ser aventada possibilidade
de acordo ao longo de abril de 2019, Trump anunciou, no começo de maio, a
elevação das tarifas de 10% para 25% sobre os US$ 200 bilhões de importações
já afetadas. Além do mais, também indicou futura expansão das taxações para
produtos chineses ainda não alvejados, como brinquedos, calçados, roupas e
eletrônicos. Os chineses responderam anunciando que elevariam as tarifas sobre
os US$ 60 bilhões de importações estadunidenses, medida que se confirmou no
dia primeiro de junho com a elevação de tarifas sobre US$ 36 bilhões do total
designado em setembro de 2018.
As ameaças e imposição de taxações seguiram ocorrendo mês após mês,
com destaque para as retaliações anunciadas pelos EUA em agosto, atingindo
praticamente todos os produtos chineses não incluídos nas medidas anteriores,
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a ser implementada em duas etapas, em setembro e dezembro (Bown e Kolb 2020).
A resposta chinesa foi incisiva (ver Quadro 1), e a escalada de tensões forçou a
retomada de negociações. Por fim, em dezembro, Trump anunciou o cancelamento
das imposições contra produtos chineses agendadas para o mês, devido ao
encaminhamento de acordo.
No dia 15 de janeiro de 2020, foi anunciada a primeira fase do acordo, a
partir da qual os chineses concordaram em estabelecer cerca de US$ 200 bilhões
em compras adicionais de produtos estadunidenses. Ainda assim, a maioria
das altas tarifas foi mantida, e questões vinculadas aos subsídios e às empresas
estatais chinesas não entraram nos encaminhamentos (Bown e Lovely 2020).
Ao fim da primeira fase do acordo, cabe mencionar que a média das taxações
estadunidenses aos produtos chineses se mantém mais de seis vezes superior
àquela estabelecida no período anterior ao começo das disputas comerciais, em
2018, ao mesmo tempo em que as imposições chinesas aos produtos americanos
também tiveram pequena margem de redução no período pós-acordo (Bown e
Lovely 2020).
No contexto da crise global desencadeada pela pandemia do Covid-19, os
efeitos da guerra comercial se fizeram sentir de forma mais aguda nos EUA.
Particularmente, cabe destacar que, dentre os produtos chineses afetados pelas
ondas tarifárias, estavam presentes instrumentos de proteção médica, além
de equipamentos de alta tecnologia voltados ao monitoramento de pacientes
(Bown 2020). Assim, as exportações chinesas desses produtos foram direcionadas
a terceiros mercados, ao mesmo tempo em que os EUA buscaram novos supridores
ou, em determinados casos, mantiveram as importações, ainda que os nacionais
viessem a pagar valores maiores.
Frente às necessidades inerentes ao panorama da crise, Trump anunciou,
nos dias 10 e 12 de março de 2020, a suspensão temporária de determinadas
tarifas impostas aos produtos chineses vinculados às atividades de combate
à pandemia. Apesar das medidas, cerca de US$ 1 bilhão em importações
potencialmente necessárias ao combate do Covid-19 se mantiveram sob a taxação
de 25% anteriormente imposta. Cabe mencionar que produtos como máscaras
hospitalares, roupas protetivas e demais equipamentos de proteção pessoal têm
sido exponencialmente demandados, situação que gerou reações de parte dos
países exportadores desses materiais (Bown 2020). Nesse sentido, foram impostas
restrições às exportações dos mesmos, de forma a assegurar o suprimento interno
em caso de necessidade especial. Entre janeiro e o começo de março, mais de
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vinte países tomaram medidas desse caráter, dentre os quais Alemanha, França,
Taiwan e Coreia do Sul.
Essa cronologia revela que as retaliações estadunidenses escalam para uma
dimensão não apenas restrita às questões comerciais bilaterais. A escolha dos
setores e as sanções contra a Huawei – e sua liderança no sistema de comunicação
5G – revelam que há protecionismo e competição em setores high tech. Ou seja,
as disputas tarifárias encobrem uma concorrência interempresarial e interestatal
pelo domínio dos mais avançados setores técnicos-produtivos entre China e EUA.
No limite, como vamos desenvolver na próxima seção, tal domínio é o pomo
da competição pela liderança do sistema num contexto de transição. Aí está o
entrelaçamento das três dimensões da Guerra Comercial.
A disputa tecnológica e o caso Huawei/5G
A disputa tecnológica em questão se refere à infraestrutura de comunicação
5G, liderada pela empresa chinesa Huawei. Trata-se de uma corporação fundada
em 1987, com quase 200 mil funcionários, operando em mais de 170 países e
atendendo mais de três bilhões de pessoas em todo o mundo. Cabe destacar que
é uma empresa de propriedade integral e exclusiva de seus funcionários, com
quase 100 mil acionistas.
As redes 5G representam um dos pilares das tecnologias high tech priorizadas
pela política chinesa do Made in China 2025, tais como segurança cibernética;
ferramentas de controle numérico e robótica de ponta; aeroespacial; engenharia
oceânica; equipamento ferroviário avançado; veículos de poupança de energia e
de nova energia; equipamento de energia; maquinário agrícola; novos materiais;
biomedicina e dispositivos médicos de alto desempenho. Como destaca Dodwell
(2018), são justamente esses produtos que têm levado o governo estadunidense
a adotar medidas protecionistas mais drásticas.
Aliás, diversos documentos oficiais do governo, Estado e instituições privadas
estadunidenses revelam suas preocupações. No relatório da Casa Branca de 2018,
How China’s Economic Aggression Threatens the Technologies and Intellectual
Property of the United States and the World, a China é acusada de usar diversas
categorias de agressão econômica: protege o mercado doméstico de importações;
expande sua projeção em mercados globais através de ferramentas de política
industrial e financeira, bem como do apoio às grandes empresas nacionais;
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busca ter acesso seguro aos principais recursos naturais que lhe são essenciais,
fortalecer o domínio sobre as indústrias de manufatura tradicionais e adquirir
tecnologias-chave e propriedade intelectual de outros países para promover suas
indústrias emergentes de alta tecnologia. No mesmo ano, o Office of the U.S.
Trade Representative (USTR) publicou o relatório China’s acts, policies, and
practices related to technology transfer, intellectual property, and innovation. Com
base nesse relatório, o USTR determinou que “ações chinesas são irracionais
ou discriminatórias” e, portanto, os EUA deveriam restringir o comércio com a
China. Entre as ações chinesas, incluem restrições de propriedade estrangeira,
requisitos de joint venture e transferência de tecnologia; direção governamental
para que empresas chinesas adquiram ativos estratégicos no exterior; realização
de inteligência tecnológica, engenharia reversa e roubo de informações sensíveis.
A US Chamber of Commerce vem fazendo relatórios recorrentes sobre a escalada
técnico-produtiva da China, como um dos mais recentes, intitulado Made in
China 2025: global ambitions build on local protections. Na mesma linha, o
U.S. Senate Committee on Small Business & Entrepreneurship publicou o Made
in China 2025 and the Future of American Industry exibindo preocupações e
prescrições de contramedidas.
O receio da perda de competitividade das indústrias dos EUA tem
proporcionado que o governo Trump venha buscando medidas para conter a
ascensão chinesa em indústrias avançadas. Não à toa, incluem medidas tarifárias
e até a imposição de restrições aos investimentos chineses nos EUA (ISDP, 2018).
Aliás, em 2017, o Pentágono alertou que investimentos chineses em empresas
estadunidenses que trabalham com software de reconhecimento facial, impressão
3-D, sistemas de realidade virtual e veículos autônomos constituem uma ameaça,
uma vez que tais produtos empregam tecnologias que podem ser utilizadas tanto
para uso civil quanto para uso militar (McBride, 2018). Além do mais, o Senado
dos EUA e o FBI alertaram, em novembro de 2019, os riscos à base industrial
do país relacionados às práticas, perpetradas pela China, de recrutar cientistas
americanos.
Um exemplo muito ilustrativo do grau de tensão em torno do tema é o
fato de que a Diretora Executiva Financeira da Huawei, Meng Wanzhou, filha
do fundador da empresa Ren Zhengfeis, encontra-se presa no Canadá, durante
uma conexão aérea, desde dezembro de 2018, a pedido da polícia dos EUA, por
supostamente violar sanções impostas pelos EUA ao Irã via transações bancárias
através do HSBC. A situação deixou o Canadá em uma situação delicada entre
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a pressão norte-americana de extradição e o histórico da relação com a China
iniciada por Trudeau (Pierre) pai antes ainda do estabelecimento da relação
chinesa com os EUA. Em outros casos semelhantes, a punição é aplicada às
empresas supostamente violadoras das sanções, através de multas milionárias,
mas não sobre seus diretores individualmente. A prisão de Meng é um típico caso
de lawfare com uma série de vícios processuais e violação de direitos, inclusive
à defesa, após a executiva ter sido mantida sob interrogatório, por horas, após
a prisão, sem nem mesmo saber do que estava sendo acusada. A executiva é
literalmente refém de um avançado grau de tensionamento bilateral entre EUA
e China e sua prisão funciona como mais um meio de pressão sobre Beijing.
Apesar da condição de superpotência, Washington sabe que Beijing tem
meios para resistir e reagir às pressões. Primeiro, há de considerar o lobby dos
empresários estadunidenses que exportam da China e daqueles que importam
do país asiático. Segundo, há notável interdependência financeira entre ambos
países. A China detém títulos do Tesouro dos EUA – US$ 1,2 trilhão –, financiando
os déficits comerciais e orçamentários dos EUA (Chapatta e Greifeld, 2018).
É claro que a China não tem interesse na desvalorização do dólar (e de seus ativos),
nem em impactar o país que proporciona seus maiores superávits comerciais.
De todo modo, a dollar trap trata-se de um instrumento de poder que Beijing
pode utilizar com alguma margem de manobra.
As relações bilaterais são complexas e envolvem o padrão tecnológico 5G,
ou seja, a infraestrutura para redes de internet móvel de quinta geração. Afinal,
o domínio do padrão técnico-produtivo de cada época (geoeconômico) está
relacionado com o poder interestatal (geopolítico). Como destacam Arrighi e
Silver (2001), os padrões produtivos, tecnológico e organizacional vertebram a
competição interempresarial e interestatal nos contextos de transição sistêmica.
O fato é que as políticas de ICT (industrial, comercial e tecnológicas) da China
replicam expedientes governamentais de outros países ricos em seus respectivos
contextos de desenvolvimento e take off industrial e tecnológico, como bem
historiciza Chang (2004).
Além da vanguarda técnico-produtiva, o sistema 5G vai potencializar
novas formas de uso da força e do soft power, incluindo novos meios para
promover operações subterrâneas. Ou seja, os EUA correm o risco de perder
também o domínio sobre o controle da informação e seus consequentes
sistemas de inteligência. Como destaca Mazzucato (2014), é sabido que a
inovação da economia estadunidense combina o acúmulo de gastos públicos
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(sobretudo em setores de defesa do complexo industrial-militar) com o fomento
governamental da interação universidade-empresa, como ilustram os avanços
tecnológicos recentes nos setores de computação, jatos, energia nuclear, lasers,
biotecnologia e fármacos, bem como a própria conformação do Vale do Silício.
O próprio caso do Iphone decorreu de gastos governamentais que anteriormente
possibilitaram a criação da internet, dos microprocessadores, da bateria de
lítio, do GPS, das telas sensíveis ao toque e tecnologias de comunicação (HTTP
e HTML), dentre outras ferramentas – acontecimento não muito distinto do
caso do algoritmo que levou à criação do mecanismo de busca do Google
(Mazzucato 2014).
A ascensão da China se deu a partir de um projeto nacional com políticas de
ICT voltadas a desenvolver as forças produtivas, incluindo engenharia reversa,
espionagem, etc.. Todas as tecnologias da indústria 4.0 estarão ancoradas na
tecnologia 5G, de veículos autônomos a internet das coisas, que, por sua vez,
organizará todos os aspectos da vida social, da produção aos serviços públicos e
privados. Assim, além do domínio mercadológico sobre infraestrutura tecnológica
5G e seus equipamentos, tal paradigma tem uso dual – como ilustram as atuais
Guerras Híbridas. Com efeito, dada a interligação de toda a vida social ao
5G, é possível potencializar a sabotagem de um sistema bancário, de eleições
(Privacidade Hackeada) ou mesmo de uma fábrica – e tudo o mais organizado
pela internet das coisas e pela inteligência artificial. O gigantesco processamento
de informações pessoais permitirá influir como nunca no mapeamento dos
mercados ou na tomada de decisão política.
Os dados dão conta do crescimento das marcas chinesas em smartphones e
em infraestrutura de tecnologias 5G. Em smartphones, três das cinco maiores são
chinesas (Huawei, Xiaomi, Oppo), sendo que a Huawei caminha rapidamente
para a liderança global. No caso da tecnologia 5G, a China caminha para ter a
metade do mercado mundial (Huawei com 31% e ZTE com 11%).
Diante dessa projeção chinesa em áreas estratégicas, Washington intensifica
as pressões para que seus aliados não construam infraestrutura 5G da Huawei.
Para tanto, think tanks ocidentais intensificam a campanha antichinesa. Em
relatório recente, tal tecnologia foi colocada sob suspeição por colocar em risco
a segurança cibernética dos países, pois as empresas chinesas teriam vínculos
com o governo, considerado até um “Estado adversário” (Kaska, Beckvard e
Minárik 2019). Ora, conhecendo os sistemas de inteligência e funcionamento
do complexo industrial-militar, definitivamente tal argumento não se sustenta.
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Em suma, os conflitos comerciais e tecnológicos EUA-China têm feito o
primeiro recrudescer suas posições de força e abandonar espaços multilaterais.
Os riscos de crises econômicas e de confrontos geopolíticos colocam a ordem
internacional numa encruzilhada (Steinbock 2018). Tudo isso pode se precipitar
com a perda da histórica primazia dos EUA em setores de tecnologia de ponta,
como as infraestruturas 5G. Está claro, para Washington, que o sistema 5G chinês
não é apenas um desafio econômico, mas também uma ameaça geopolítica
(Mariani e Bertolini, 2019). Ironicamente, como destacou Arrighi (2008),
a expansão financeira do ciclo estadunidense impulsionou o deslocamento do
epicentro econômico global do Atlântico Norte para a Ásia Oriental, resultando
no renascimento asiático a partir da liderança da reemergente civilização chinesa
e da reconstituição do sistema sinocêntrico.
Conclusões
A batalha de tarifas comerciais é fundamental, pois envolve as duas
maiores economias do mundo e, consequentemente, tem múltiplos efeitos. Cada
retaliação de lado a lado impacta outros países e seus fluxos comerciais. Mas
como sugerimos, a Guerra Comercial pode e deve ser analisada em três níveis.
Esse primeiro é crucial, mas com desdobramentos mais imediatos. Contudo, é
no nível técnico-produtivo, incluindo as tecnologias da 3ª Revolução Industrial
e da Indústria 4.0, sobretudo as tecnologias informacionais 5G, que irão se
desdobrar as competições interempresariais lideradas por EUA e China. E, esse
é o argumento, vai determinar a conformação da competição interestatal e as
novas configurações de poder emergentes.
E parece que a estratégia de Washington recente é recrudescer a rivalidade.
O recente discurso de Mike Pompeo sobre A China Comunista e o Futuro do
Mundo Livre instou “uma luta entre o mundo livre e a tirania” e acusou o Partido
Comunista Chinês de ser um “opressor nacional” e um “agente internacional
desonesto”. Ou seja, há um intento de recriar uma Nova Guerra Fria, afinal a
China é o atual país desafiante da hegemonia estadunidense e comandado por
um Partido Comunista de tradições marxistas-leninistas. Ora, os EUA replicam a
lógica de contenção como forma de coesionar seus aliados e evitar a expansão
do rival, enquanto criam tensões através da Guerra Comercial, do apoio aos
movimentos separatistas na China, do cerco militar, etc.. Ironicamente, a ênfase
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da inserção internacional chinesa na atualidade recai exatamente no pragmatismo,
no respeito ao princípio da nãointervenção em assuntos domésticos de outras
nações, enquanto os EUA instrumentalizam conflitos internos de terceiros países,
as ações voltadas à mudança de regimes políticos e a obstrução das ferramentas
de concertação política multilaterais.
A Guerra Comercial é parte, pois, de uma encruzilhada e divergência globais.
De um lado, os EUA e suas estruturas hegemônicas, conduzidas pelo capital
rentista, têm amplificado as desigualdades, a erosão de direitos e o esgarçamento
do tecido social e político. De outro, a China se consolida como epicentro da
produção e do investimento, como bem ilustra seu projeto de globalização
consubstanciado na Nova Rota da Seda. Em outras palavras, a simbiose das
relações sino-estadunidenses entrelaça camadas de cooperação e competição,
podendo resultar em acomodação, mas também encerrando grande potencial
disruptivo, não somente pela divergência dos projetos de globalização, mas pelas
contradições típicas dos períodos de transição sistêmica.
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