
As três dimensões da guerra comercial entre China e EUA
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 2, e1122, 2021
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A primeira e a segunda rodada de tarifas impuseram, respectivamente,
tarifas da ordem de US$ 34 bilhões e US$ 16 bilhões – totalizando US$ 50
bilhões. Na primeira rodada, foram incluídos 818 produtos chineses, enquanto
que, na segunda, foram incluídos mais 284 produtos. De acordo com o quadro,
percebe-se que, na primeira e na segunda rodada, as tarifas se concentraram em
mercadorias de setores industriais, sobretudo aqueles beneficiados pelo programa
Made in China 2025. Isto é, as tarifas focaram em produtos oriundos de indústrias
como aeroespacial, informação e comunicação, robótica, maquinário industrial
e automobilística. Já as mercadorias objeto de taxação na terceira rodada, que
equivalem ao valor de US$ 200 bilhões, representam uma ampla variedade de
produtos, englobando bens de consumo como bonés, TVs e alimentos.
Após o anúncio de novas tarifas no valor de US$ 200 bilhões para exportações
chinesas, a China adotou medidas de retaliação contra os produtos estadunidenses.
No dia 18 de setembro, o ministro do Comércio da China anunciou que elevaria
as tarifas de 5% a 10% em US$ 60 bilhões de produtos, englobando mais
de 5.000 bens exportados pelos EUA. As tarifas entraram em vigor no dia 24
de setembro, na mesma data em que as tarifas estadunidenses para produtos
chineses começaram a valer. A retaliação chinesa à terceira rodada de tarifas
dos EUA colocou um adicional de 5% sobre produtos como pequenas aeronaves,
computadores e têxteis, ao passo em que fixou tarifas adicionais de 10% em
produtos químicos, carne, trigo e vinho. Além desses, houve adição tarifária
– entre 5 e 10% – para produtos como soja, laticínios, suco de laranja, carros
elétricos, petróleo, gás natural e equipamentos médicos.
Apesar da trégua estabelecida entre dezembro de 2018 e março de 2019,
as escaramuças foram retomadas em seguida. Após ser aventada possibilidade
de acordo ao longo de abril de 2019, Trump anunciou, no começo de maio, a
elevação das tarifas de 10% para 25% sobre os US$ 200 bilhões de importações
já afetadas. Além do mais, também indicou futura expansão das taxações para
produtos chineses ainda não alvejados, como brinquedos, calçados, roupas e
eletrônicos. Os chineses responderam anunciando que elevariam as tarifas sobre
os US$ 60 bilhões de importações estadunidenses, medida que se confirmou no
dia primeiro de junho com a elevação de tarifas sobre US$ 36 bilhões do total
designado em setembro de 2018.
As ameaças e imposição de taxações seguiram ocorrendo mês após mês,
com destaque para as retaliações anunciadas pelos EUA em agosto, atingindo
praticamente todos os produtos chineses não incluídos nas medidas anteriores,