Hoyêdo Nunes Lins; Luísa Correia Filho
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1100, 2021
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Na esteira de Bandung, a China passou a representar para a África opção
ao Ocidente quanto às interações internacionais, apesar das controvérsias. As
questões econômicas têm prevalecido nesses vínculos, refletindo sobretudo o
interesse da China por recursos naturais: por exemplo, urânio no Níger, fosfatos
no Marrocos, petróleo em Angola, Sudão e Nigéria, ouro na Líbia e no Chade,
manganês e minério de ferro na Argélia. Esse interesse repercute em investimentos
chineses em infraestruturas, principalmente, no setor energético, como em
barragens e estações hidroelétricas.
Desde o final dos anos 1990, cresceram o comércio e os investimentos chineses
implicando países africanos, no contexto da política chinesa Going Global, que
exibe portfólio de muitos projetos de infraestruturas e incentivos para promover
a internacionalização das empresas daquele país. As ações correspondentes têm
incluído financiamentos e facilitação de processos administrativos, com apoio
fiscal e empréstimos para investimentos diretos no exterior.
Contudo, não faltam críticas ao que alguns veem como neocolonialismo na
África, mostrando-se variadas as posições dos autores, como se observa em Hodzi
(2018), Xu et al. (2016), Chen (2018), Dreher et al. (2017), Jin e Gallagher (2018).
De todo modo, para vários líderes políticos africanos, a China é um “parceiro
sincero”, representando “[...] alternativa mais confiável aos investimentos mais
tradicionais, comparativamente aos países ocidentais” (Xinhua News 2018, s/p).
Isso atrai tanto mais porque (a chamada) “tragédia africana”, amargada desde
os anos 1970, tem sido atribuída às ações ocidentais, mormente dos Estados
Unidos (Arrighi 2002).
A expressão “tragédia africana”, assinale-se, não é fortuita. Nos anos 1980
e 1990, prescrições de política equivocadas, notadamente por consultores e
instituições ocidentais com atuação internacional, praticamente nada representaram
para equacionar a vertiginosa associação entre turbulências políticas e regressão
socioeconômica (The Economist 1996). Assim, perto da virada do século, quase
1/3 dos países ao sul do Saara vivenciavam guerras civis ou com vizinhos (The
Economist 1998) em meio a uma espiral de devastação econômica, corrupção e
descrédito das instituições (The Economist 2000). Naquele contexto, a posição
dos povos africanos no mapa das desigualdades de desenvolvimento, em nível
mundial, só fez crescer (Brie 1997).
A cooperação China-África apresenta duas formas básicas: a multilateral, que
abrange o conjunto dos países envolvidos nos fóruns de cooperação, e a bilateral,
exibindo relações da China com cada país. Na primeira, as relações ocorrem