Brasil e Estados Unidos: cooperação em defesa e busca de autonomia (2003-2010)
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1091, 2021
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Por essas razões, “temos que trabalhar com ele e não queremos fazer nada
que coloque em risco nossa relação”, afirmou Amorim. Amorim disse que o
GOB gostaria de intensificar seu diálogo político com os EUA sobre Chávez,
mas não tem interesse em compartilhar informações [...]. Descrevendo a
relação do Brasil com a Venezuela como “sensível”, Amorim disse que o
GOB precisava tomar cuidado para não dar passos (por exemplo, atividade
de inteligência com USG) que poderiam minar sua credibilidade com
Chávez e a capacidade do governo brasileiro de influenciá-lo positivamente.
Amorim disse que não queria exagerar a importância do papel do Brasil
em conter os comportamentos mais extremos de Chávez, mas, como
exemplos, citou o trabalho do Brasil na formulação do Grupo de Amigos
[...], mencionou uma recente sugestão dada a Chávez em uma reunião no
Uruguai para acalmar sua retórica e também contou como Lula persuadiu
pessoalmente Chávez a não nadar em uma praia chilena onde Chávez
pretendia proclamar à imprensa que estava tomando banho em um ponto
que deveria ser a costa da Bolívia no Pacífico (Embassy Brazil 2005 a)
5
.
Lógica semelhante aparece no que se refere à Bolívia, sendo que o governo
brasileiro buscava mostrar-se como fonte de moderação e o governo dos EUA
buscava que o país adotasse uma posição mais dura. No contexto da campanha
eleitoral que levou à eleição de Evo Morales, em 2005, um relato de diálogo
entre o então vice-secretário de Estado, Robert Zoellick, e Celso Amorim, mostra
as diferenças de percepção e a posição do Brasil enquanto moderador de tais
governos:
Em relação a Morales, [o ministro] Amorim disse que, por meio do
envolvimento brasileiro, Morales parece estar mudando um pouco e tende
a moderação [...]. O ministro das Relações Exteriores acrescentou que o
5 No original: “Ambassador outlined [...] the USG's growing concern about Chavez's rhetoric and actions,
and stressed that the USG increasingly sees Chavez as a threat [...] he asked that FM Amorim consider
institutionalizing a more intensive political engagement between the USG and GOB on Chavez, and standing
up a dedicated intelligence-sharing arrangement […]. Amorim said that Chavez has been democratically
elected […]. For those reasons, "we have to work with him and do not want to do anything that would
jeopardize our relationship with him," Amorim affirmed. Amorim said the GOB would welcome intensifying
its political dialogue with the U.S. on Chavez, but has no interest in intelligence sharing […]. Describing
Brazil's relationship with Venezuela as "sensitive," Amorim said the GOB needed to take care not to take steps
(e.g., intelligence activity with the USG) that could undermine its credibility with Chavez and undercut the
GOB's ability to influence him in a more positive direction. Amorim said that he did not want to exaggerate
the importance of Brazil's role in curbing Chavez's more extreme behaviors, but in example Amorim noted
Brazil's work with the Friends Group […], Lula's recent suggestion to Chavez in a meeting in Uruguay that
he tone down his rhetoric, and also told a story of how Lula had personally persuaded Chavez not to go
swimming at a Chilean beach where Chavez intended to proclaim to gathered press that he was bathing in a
spot which should be Bolivia's coastline on the Pacific.”