A Aliança Brasil-Estados Unidos entre 1889-1942: uma aproximação construída
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1088, 2021
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Como exemplo disso, podemos citar a postura brasileira diante da Primeira
Guerra Mundial (1914-1918). O Brasil adotou completa neutralidade na maioria
do período que compreendeu o combate, mesmo diante das intimidações dos
alemães, no início de 1917, e da entrada dos EUA no combate, em abril do mesmo
ano. Dessa forma, enquanto as nações europeias sangravam nos campos de
batalha, no Brasil, acirravam-se os debates internos sobre a participação brasileira
no conflito. Dividindo, assim, as opiniões entre germanófilos e pró-aliados (Cervo
e Bueno 2002).
Mesmo com toda intimidação alemã proveniente da guerra submarina irrestrita
ao tráfego mercante, o Brasil tentou manter-se no estado de neutralidade o máximo
possível. Em fevereiro de 1917, o governo brasileiro foi notificado oficialmente pelo
governo imperial alemão do estabelecimento de um bloqueio naval ao comércio
marítimo da Grã-Bretanha, França, Itália e Mediterrâneo (Cervo e Bueno 2002).
Adicionalmente, a notificação revelava que o não cumprimento do bloqueio, por
qualquer tipo de navio, seria combatido com ataques sem restrições. Portanto,
estariam sujeitos aos ataques qualquer tipo de navio, não importando a carga,
nem tripulação que estariam sendo transportadas (Martins 1997).
O governo brasileiro não demorou em responder que não poderia cumprir o
bloqueio naval, pois afetava diretamente a economia agroexportadora brasileira.
Sendo assim, navios brasileiros começaram a ser torpedeados por submarinos
alemães, em abril de 1917, porém a declaração do estado de guerra com o Império
Alemão só ocorreu em outubro (Martins 1997). A atitude brasileira gerou uma
boa impressão nos países europeus e nos EUA, que se interessavam por esse
posicionamento, uma vez que poderiam influenciar os demais países sul-americanos.
Segundo Ricupero (2017), o Brasil saiu da Conferência de Paz do pós-guerra
em uma situação de prestígio, principalmente, quando se leva em conta o
tamanho da participação brasileira no conflito e a capacidade de influência
que o País possuía, à época, na arena internacional. O Brasil foi o único país
latino-americano, além de Cuba, que estava sob tutela dos EUA, a participar do
primeiro conflito mundial. A atuação brasileira, mesmo ocorrendo na fase final
do conflito, garantiu-lhe uma posição na Liga das Nações
14
e no seu Conselho
como membro eleito (Cervo e Bueno 2002).
14 A Liga das Nações (LN) foi a primeira organização internacional que englobaria todos os Estados soberanos
que escolhessem compor seus quadros, visando a superar os perigos da anarquia do sistema internacional. Seu
desenho institucional representou a intenção das grandes potências da época em dar continuidade ao status
quo adquirido, mantendo a lógica dos Estados soberanos, concomitantemente a um projeto de transformação
baseado no progresso, na razão e na democratização das relações internacionais.