Inserção Regional em tempos de intolerância: imigração, xenofobia e os desafios à África do Sul
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1086, 2021
16-25
pós-Gaddafi, quando a atuação sul-africana foi marcada pela divergência com a
Nigéria, visto que Pretoria não havia aceitado o Conselho de Transição Nacional
(CTA) como legitimo representante do povo líbio, enquanto Abuja não apenas
considerou o CTA representante legitimo, como também buscou incentivar outros
países africanos a fazerem o mesmo (Landsberg 2012c).
Além dessa discordância, o distanciamento de dois protagonistas do African
Renaissance também foi motivado pela contínua dificuldade sul-africana em lidar
com a imigração, visto que, em 2012, o então ministro das Relações Exteriores
da Nigéria, Olugbenga Ashiru (2011-2013), acusou de xenofobia a deportação
de 125 nigerianos que estavam na África do Sul (Landsberg 2012c). Embora o
número tenha sido relativamente menor se comparado com o de outros países
vistos, por exemplo, durante a administração Mbeki, tal acusação impactava
na inserção regional desejada por Pretoria, pois sinalizava a continuidade do
descolamento entre a intenção da África do Sul em ser cada vez mais atuante
no continente africano e a efetivação desse objetivo.
De modo geral, a interação entre a imigração e a busca em resolver desafios
internos continuou presente ao longo da administração Zuma. Semelhantemente às
administrações anteriores, Zuma também se voltou a desafios como desemprego,
desigualdade social e acesso a serviços básicos. Inclusive, se o período Mandela
foi marcado pela criação da GEAR e Mbeki pela AsgiSA, a administração Zuma
seguiu o mesmo caminho ao criar o National Development Plan, em 2013,
iniciativa que se pauta no rompimento da pobreza e na redução da desigualdade
social existente no país (South Africa 2013). Por um lado, houve a melhora em
alguns índices, como no acesso à água potável, que passou de 58%, em 1994,
para 91%, em 2009, e na abrangência das políticas públicas, visto que, em 2015,
em torno de 17 milhões de sul-africanos eram apoiados, enquanto, em 1994,
eram 4 milhões (Cilliers e Aucoin 2016).
Por outro lado, alguns índices continuaram desafiadores para a administração
Zuma, por exemplo, a taxa da população que vivia abaixo da linha da pobreza,
pois, se, em 2011, 16,4% viviam com menos de US$ 1,9 por dia, em 2015, eram
18,9% (Gumede 2019). Tal desafio, direta ou indiretamente, relaciona-se ao PIB,
que, se entre 1994 e 2000, havia crescido, em média, 2,9% por ano e, entre 2001
e 2008, em torno de 4,2%, durante a administração Zuma, a média foi de 1,6%.
Além de influenciar na taxa da população que vivia abaixo da linha da pobreza,
o baixo crescimento da economia também refletia no desemprego, uma vez que,
entre 2011 e 2015, a taxa de desemprego variou entre 21 e 26% (World Bank 2018a).