Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
1-24
A Geoeconomia Híbrida da China na
América do Sul – o uso de instrumentos
econômicos duais para fins geopolíticos
China’s Hybrid Geoeconomics in South
America – the use of dual economic
instruments for geopolitical purposes
Geoeconomía híbrida de China en
América del Sur: el uso de instrumentos
económicos duales con fines geopolíticos
DOI: 10.21530/ci.v16n1.2021.1085
Bernardo Salgado Rodrigues
1
Resumo
A participação ativa da China na América do Sul se inicia com a
sua entrada na OMC, em 2001, modificando o tabuleiro geopolítico
tanto na região quanto nas relações internacionais em geral. Esse
reequilíbrio das relações de poder, suplantando a outrora breve
unipolaridade, permitiu sua atuação mais enfática. Dessa forma,
essa expansão chinesa é crescentemente constatada principalmente
em termos econômico-financeiros. Entretanto, é visualizado que
tal participação mais ativa vem apresentando uma dualidade
que gera, concomitantemente, benefícios e malefícios para as
economias sul-americanas. O presente artigo busca debater essa
característica específica, apresentando a hipótese de instauração
de uma Geoeconomia Híbrida, definida como a utilização de
instrumentos econômicos através de um dualismo multifário e
assimétrico. Desse modo, a partir de uma metodologia empírico-
1 Doutor em Economia Política Internacional pela Universidade Federal do Rio de
Janeiro, UFRJ-PEPI. Professor substituto do Instituto de Relações Internacionais
e Defesa da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IRID/UFRJ), Rio de Janeiro,
Brasil (bernardosalgado90@gmail.com),
ORCID: https://orcid.org/0000-0002-6439-8359
Artigo submetido em 12/05/2020 e aprovado em 13/09/2020.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
RELAÇÕES INTERNACIONAIS
ISSN 2526-9038
Copyright:
• This is an open-access
article distributed under
the terms of a Creative
Commons Attribution
License, which permits
unrestricted use,
distribution, and
reproduction in any
medium, provided that
the original author and
source are credited.
• Este é um artigo
publicado em acesso aberto
e distribuído sob os termos
da Licença de Atribuição
Creative Commons,
que permite uso irrestrito,
distribuição e reprodução
em qualquer meio, desde
que o autor e a fonte
originais sejam creditados.
A Geoeconomia Híbrida da China na América do Sul [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
2-24
dedutiva baseada em dados quantitativos e qualitativos, objetiva-se evidenciar que, ainda
que os instrumentos geoeconômicos chineses sejam um direcionamento estratégico não
impositivo, podem acarretar em externalidades negativas para as estruturas produtivas
sul-americanas e fluxos intrarregionais no longo prazo.
Palavras-chave: Geoeconomia Híbrida; China; América do Sul; Geoeconomia; Geopolítica.
Abstract
China’s active participation in South America begins with its entry into the WTO in 2001,
changing the geopolitical board both in the region and in international relations in general.
This rebalancing of power relations, supplanting the once brief unipolarity, allowed it to act
more emphatically. Thus, this Chinese expansion is increasingly seen mainly in economic
and financial terms. However, it is seen that such a more active participation has been
presenting a duality that generates, simultaneously, benefits and harms for the South
American economies. This article seeks to discuss this specific characteristic, presenting the
hypothesis of the establishment of a Hybrid Geoeconomy, defined as the use of economic
instruments through a multifarious and asymmetric dualism. Thus, based on an empirical-
deductive methodology based on quantitative and qualitative data, the objective is to show
that, even though the Chinese geoeconomic instruments are a non-imposing strategy,
they can result in negative externalities for the South American productive structures and
intraregional flows in the long run.
Keywords: Hybrid Geoeconomics; China; South America; Geoeconomics; Geopolitics.
Resumen
La participación activa de China en América del Sur comienza con su ingreso a la OMC
en 2001, cambiando el tablero geopolítico tanto en la región como en las relaciones
internacionales en general. Este reequilibrio de las relaciones de poder, que sustituyó a
la otrora breve unipolaridad, le permitió actuar de manera más enfática. De esta forma,
esta expansión china se visualiza cada vez más principalmente en términos económicos y
financieros. Sin embargo, su participación tan activa ha venido presentando una dualidad
que genera, simultáneamente, beneficios y perjuicios para las economías sudamericanas.
Este artículo busca discutir esta característica específica, presentando la hipótesis del
establecimiento de una Geoeconomía Híbrida, definida como el uso de instrumentos
económicos a través de un dualismo múltiple y asimétrico. Así, con base en una metodología
empírico-deductiva basada en datos cuantitativos y cualitativos, el objetivo es mostrar que,
si bien los instrumentos geoeconómicos chinos son una dirección estratégica no imponente,
pueden resultar en externalidades negativas para la estructura productiva sudamericana y
flujos intrarregionales a largo plazo.
Palabras clave: Geoeconomía híbrida; China; América del Sur; Geoeconomía; Geopolítica.
Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
3-24
Introdução
A participação ativa da China na América do Sul se inicia com a sua entrada
na OMC, em 2001, após longas negociações e adaptações a determinadas regras
do mercado internacional. Alinhada à estratégia de internacionalização das
empresas chinesas – conhecida na literatura como going global – e às visitas de
Estado na América do Sul no início da década de 2000, desde então a China vem
buscando transformar o tabuleiro geopolítico tanto na região quanto nas relações
internacionais em geral. Esse reequilíbrio das relações de poder, suplantando a
outrora breve unipolaridade, permitiu sua atuação mais enfática. Dessa forma,
essa expansão chinesa é crescentemente constatada principalmente em termos
econômico-financeiros. Entretanto, é visualizado que tal participação mais ativa
vem apresentando uma dualidade que gera, concomitantemente, benefícios e
malefícios para as economias sul-americanas.
O presente artigo busca debater essa característica específica, apresentando a
hipótese de instauração de uma Geoeconomia Híbrida, definida como a utilização
de instrumentos econômicos através de um dualismo multifário e assimétrico.
Desse modo, a partir de uma metodologia empírico-dedutiva baseada em dados
quantitativos e qualitativos, objetiva-se evidenciar que, ainda que os instrumentos
geoeconômicos chineses sejam um direcionamento estratégico não impositivo,
podem acarretar em externalidades negativas para as estruturas produtivas sul-
americanas e fluxos intrarregionais no longo prazo.
Este trabalho está dividido em três seções, ademais da presente introdução
e das considerações finais: primeiramente, será realizada a definição teórico-
conceitual do que se denomina Geoeconomia Híbrida a partir de uma discussão de
cunho geopolítico e geoeconômico. Ulteriormente, serão avaliados os instrumentos
econômicos chineses na América do Sul em termos quantitativos, basicamente
utilizando dados dos fluxos comerciais, dos investimentos externos diretos e de
acordos multilaterais, no horizonte temporal de 2001 a 2016. Na última seção,
pretende-se qualificar o debate da Geoeconomia Híbrida da China no território
sul-americano, demonstrando suas características intrínsecas, assim como seus
objetivos, contrapartidas, protagonistas e modelos. Logo, esta discussão se dispõe
a compreender os meios pelos quais a presença chinesa vem modificando o
mapa geopolítico e geoeconômico da América do Sul, com impactos positivos e
negativos, assim como delineia algumas possíveis capacidades de atuação dos
Estados sul-americanos.
A Geoeconomia Híbrida da China na América do Sul [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
4-24
Geoeconomia Híbrida – uma definição teórico-conceitual
A geografia é essencialmente um saber político, estratégico, um pensar o espaço
com a finalidade de agir eficazmente. Segundo Spykman (apud Kaplan 2013),
a geografia é o mais fundamental dos fatores da política externa dos Estados,
por ser o mais permanente”. E, dessa relação entre geografia e política, espaço
e poder, que distintos autores buscaram definir a geopolítica, diferenciando-a
da geografia política (Ugarte 1974) por ser uma teoria do poder e dinâmica
(Miyamoto 1981).
Em nossa visão, a geopolítica é considerada um método de estudo dinâmico
da influência de fatores geográficos no desenvolvimento dos Estados com a
finalidade de orientar suas políticas internas e externas. Ou seja, como método que
estuda a política derivada de aspectos geográficos, é uma ferramenta de análise
de política externa que busca compreender, explicar e prever o comportamento
político internacional, principalmente, em termos de variáveis espaciais. Dessa
assertiva incorre-se que a geopolítica é dinâmica porque as variáveis temporal
e relacional modificam a importância da variável geográfica; é dinâmica na
medida em que é mutável a relevância dos Estados ou arranjos internacionais,
dos avanços científico-tecnológicos e das configurações econômico-militares em
determinados momentos específicos da humanidade.
Outro ponto de destaque é a diferenciação entre geopolítica e geoeconomia.
Edward N. Luttwak proclamou que as guerras militares foram substituídas pelos
conflitos econômicos; Lester Thrurow também desenvolveu a ideia de “guerras
econômicas” (Vesentini 2005); para outros autores, o foco seria o uso militar para
fins econômicos; outros definem de forma mais ampla, como o entrelaçamento
da economia internacional, geopolítica e estratégia. Neste trabalho, geoeconomia
se define como o uso de instrumentos econômicos para fins geopolíticos, tal qual
pontuado por Blackwill e Harris (2016): o uso de instrumentos econômicos para
promover e defender os interesses nacionais e produzir resultados geopolíticos
benéficos; e os efeitos das ações econômicas de outras nações nos objetivos
geopolíticos de um país. Assim, caso existam ganhos geopolíticos, o custo
econômico é secundário, podendo, até mesmo, haver gastos maiores que lucros;
o que importa é estabelecer áreas de influência ou impossibilitar caminhos
autônomos e independentes de outros países (Vesentini 1990). Em outros termos,
a lógica da busca pela riqueza consiste num jogo de soma positiva, em que a
Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
5-24
geoeconomia combina essencialmente a lógica da geopolítica com as ferramentas
da economia, vendo as ações e opções econômicas de um determinado estado
como incorporadas a realidades maiores do poder estatal (Blackwill e Harris 2016).
Concomitantemente, é imperativo afirmar que a geoeconomia é distinta
de qualquer prerrogativa do pensamento econômico liberal, haja vista que se
relaciona diretamente com finalidades geopolíticas que podem, a princípio,
diferenciar-se dos objetivos racionalizados propostos por tal ideologia. Salienta-
se ainda que a retomada dessa discussão é relacionada à dois fatos econômicos
recentes, que modificaram intensamente as estruturas da ordem internacional:
a crise financeira de 2008 e a ascensão chinesa (Blackwill e Harris 2016).
Dessa forma, uma vez ratificada a diferença fundamental entre geopolítica e
geoeconomia, as tentativas geoeconômicas de projeção de poder podem assumir
distintas formas, modalidades, escopos, valores e setores-alvo. E, assim como os
Estados possuem competências distintas de projetar poder geopolítico, existem
certas características estruturais – ou dotações geoeconômicas – que determinam
a eficácia de um país no uso de ferramentas geoeconômicas. Especificamente
para o caso da China, é interessante avaliar sua colossal capacidade de utilização
de instrumentos econômicos para fins geopolíticos no século XXI.
No estudo de caso dessa atuação na América do Sul, apesar da preconização
da confiança mútua no campo político, da colaboração na esfera econômica e da
estreita coordenação nos assuntos internacionais, que serão demonstradas nas
próximas seções, a atuação da China no subcontinente sul-americano apresenta
traços característicos de uma cooperação paradoxal, cujos benefícios político-
econômicos podem ser, simultaneamente, prejudiciais; uma relação que apresenta
dois lados distintos, caracterizada por “un arma de doble filo” ou uma “mixed
blessing”, denominada no presente artigo de Geoeconomia Híbrida.
A Geoeconomia Híbrida consiste na utilização de instrumentos econômicos
a partir de uma dualidade multiforme, contraditória e assimétrica que, quando
empregados em determinados países ou regiões, apresentam tanto vantagens
quanto desvantagens. É um processo de atuação econômica com finalidades
geopolíticas, realizado pela junção de elementos que trazem consigo tanto o
desenvolvimento quanto a dependência, o progresso e o atraso, o bônus e o
ônus, caracterizando-se, expressando-se ou manifestando-se pela composição de
elementos díspares, ambíguos e em diversas modalidades político-econômicas.
A Geoeconomia Híbrida da China na América do Sul [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
6-24
Ressalta-se que a utilização da Geoeconomia Híbrida como projeção de
poder pode assumir várias formas, de acordo com as dotações geoeconômicas de
cada país, que irão, em último caso, determinar a sua eficácia em alcançar seus
objetivos políticos e geopolíticos. Seja através da política comercial, da política
de investimento, das sanções econômicas e financeiras, dos ciberataques, dos
subsídios econômicos, da política financeiro-monetária, da energia e commodities,
que consistem nos principais instrumentos da geoeconomia, segundo Blackwill
e Harris (2016), o caráter inovador da proposição teórica é que a Geoeconomia
Híbrida possui uma lógica e um sentido diferenciados desses instrumentos
econômicos que, na sua execução, não necessariamente possuem como objetivo
uma política de ganhos múltiplos. Em outros termos, por conta da sua hibridez,
acarreta, concomitantemente, características negativas para as estruturas produtivas
dos países receptores, tornando-se, inclusive, distinta da Geoeconomia e da
política econômica externa.
Em outros termos, a originalidade na agregação do termo “híbrido” consiste
em explicitar que não se configura numa relação win-win pura e simplesmente,
uma geoeconomia de mutualismo econômico no sentido de alcançar os objetivos
de ambas as partes em proporções equivalentes. No caso específico da América
do Sul, concomitante aos resultados positivos, há perdas significativas tanto em
termos conjunturais quanto estruturais. Ou seja, enquanto a lógica da acumulação
de poder da geopolítica consiste num jogo de soma zero e a da acumulação de
riqueza da geoeconomia num jogo de soma positiva, a Geoeconomia Híbrida se
apresenta como uma contradição específica entre temporalidades, condicionantes
e resultados positivos e negativos, que não se anulam e nem consistem numa
harmonização econômica pura.
Logo, a raiz da questão do acréscimo do sufixo “híbrido” não está relacionada,
única e exclusivamente, às assimetrias presentes historicamente no sistema
internacional, e sim ao modus operandi ambíguo pelo qual a atuação dos
instrumentos econômicos da Geoeconomia agregados ao hibridismo (concatenado
às contradições duais que se manifestam na realidade empírica, neste caso
especificamente a sul-americana) perpassa tanto pelo ator ativo quanto pelo
passivo, e que, para este último, apresenta contraditórios na reverberação da
sua estrutura produtiva e incompatibilidades com um projeto de autonomia e
soberania econômica.
Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
7-24
Adicionalmente, ratifica-se que esse cenário não postula a existência de
uma relação mecânica, reducionista e unívoca dessa nova classificação. Esse
conceito não é hermético no sentido temporal (podendo coexistir características
da Geoeconomia Híbrida ao longo da história) e relacional (sendo passível de
utilização dessa nova conceituação em outros espaços territoriais, assim como
por outros países); é uma estrutura hipotética cambiante, que pode ajudar na
melhor compreensão das relações interestatais e nas configurações de poder que
se configuram no tempo e no espaço.
Desse modo, a Geoeconomia Híbrida chinesa auxilia à estabelecer cadeias de
suprimento de petróleo a longo prazo; promover as exportações chinesas; colocar
as reservas em dólar para um uso mais produtivo do que os títulos do Tesouro
com baixa taxa de juros dos Estados Unidos; expandir o uso internacional do
yuan; e ganhar favorecimentos com governos que tomam empréstimos (Gallagher
2016). O pragmatismo chinês em perseguir objetivos domésticos nas relações
internacionais “permite que o Estado crie um projeto dual (nacional-internacional)
como uma plataforma integrada para o seu desenvolvimento” (Vadell e Neves 2018,
219); logo, suas ações no exterior se encontram permeadas de um hibridismo na
medida em que beneficiam os países afetados de múltiplas formas, mas trazem
consigo inúmeros desafios a serem enfrentados pelos mesmos.
Adicionalmente, deve-se notar que não há a presença de imposição ideológica
e/ou condicionalidades econômicas por parte da China, mas única e exclusivamente
prerrogativas lastreadas no próprio desenvolvimento econômico-político chinês.
Assim, ratifica-se seu caráter híbrido, haja vista que existe determinada margem
de manobra para os países aceitarem ou não as condições chinesas: “as escolhas
políticas e econômicas têm sido realizadas pelos países locais de forma autônoma
e não a partir de pressões chinesas” (Pecequilo 2013, 111), ou seja, depende dos
caminhos político-econômicos dos países geoeconomicamente afetados pela
presença de Pequim.
No caso específico das relações sino-sul-americanas, perpetua-se como uma
lógica cooperativa e deletéria de assimetria estrutural criada entre as duas regiões
(Katz 2016). Assim, a Geoeconomia Híbrida se manifesta na dualidade entre
os benefícios econômicos imediatos – principalmente no setor comercial e de
investimentos conforme será visualizado a seguir – e, por outro lado, na preterição
dos desafios para o desenvolvimento de médio-longo prazo, minimizando-se a
percepção das vulnerabilidades domésticas e da geração de uma relação assimétrica.
A Geoeconomia Híbrida da China na América do Sul [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
8-24
Os instrumentos econômicos chineses na América do Sul
(2001-2016)
2
A América do Sul é considerada uma região geoestratégica para a China no
começo do século XXI. Como salientam Tsai e Liu (2012), desde iniciativas como
a visita do Ministro das Relações Exteriores chinês, Tang Jiaxuan, em 2001, no
Chile, e as duas visitas do presidente Hu Jintao ao continente, em 2004 e 2008
(Pecequilo 2013,), a China vem apregoando a cooperação Sul-Sul e preparando
terreno para o fortalecimento das trocas inter-regionais: “em pouco mais de uma
década a China migra da quase ausência para a posição principal nas relações
econômicas com a ALC.” (Vadell e Neves 2018, 208). Em outros termos, tais fatos
colocaram a América do Sul como um dos espaços geopolíticos fundamentais
para as forças políticas chinesas.
Ainda em 1999, o governo chinês lançou uma estratégia, em conjunto com
o Conselho Chinês para Promoção do Comércio Internacional (China Council for
the Promotion of International Trade – CCPIT), denominada “Going Out” (走出去)
ou “Going Global” (走向世界) (Shambaugh 2013, 174). Em geral, vem consistindo
numa política de investimentos externos, incentivada e realizada pelo Estado,
voltada para a expansão e a intensificação do processo de internacionalização
das empresas chinesas (Economy e Levi 2014), tornando-as competitivas para
operacionalizar e alcançar os mercados globais. Assim, a peça-chave da estratégia
Going Out consiste no apoio financeiro do CDB e do Banco de Exportação e
Importação da China (CHEXIM), pelo menos quando se trata de atividades de
grandes empresas estatais e apoiadas pelo Estado, que compõem a maior parte
do investimento estrangeiro direto (IDE) da China. (Gallagher 2016).
Outro caráter determinante é que essa trajetória de reformas, somada ao
aumento das cadeias de valor e à crescente atualização tecnológica, finalmente
permite que a China seja admitida na OMC, no final de 2001, após anos de intensas
negociações, tendo que se adaptar a algumas regras do mercado privado com
2 É importante ressaltar a escolha do marco temporal utilizado no presente trabalho. Temporalmente, inicia-se com
o ano de 2001 pela sua singularidade e por apresentar fatos históricos que modificaram o tabuleiro geopolítico
nas relações internacionais. Como exemplos, podem-se citar a queda das Torres Gêmeas nos Estados Unidos,
a entrada da China na Organização Mundial do Comércio (OMC) e o início do ciclo de governos progressistas
contrários às políticas neoliberais na América do Sul. Por fim, encerra-se o recorte temporal em 2016, no qual
são percebidos indícios de transformações globais significativas, emblemáticas e complexas, com a eleição
de Donald Trump, nos Estados Unidos, e a incerteza das suas políticas, uma nova estratégia chinesa para a
América do Sul e o mundo, assim como o fim de um ciclo político-econômico sul-americano. Além de todos
esses fatores, o período analisado consiste na transição da unipolaridade para a multipolaridade.
Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
9-24
uma abertura comercial inédita, ainda que com forte controle sobre o câmbio
(Vadell 2011). Como contrapartida, se beneficiaria de um amplo acesso aos mercados
ocidentais (Sevares 2015). Portanto, tal evento causou um salto gigantesco no
volume do comércio exterior chinês, estendendo sua integração à globalização
e contribuindo decisivamente para um ciclo expansivo da economia mundial
que duraria até 2008.
Da mesma forma, as relações econômicas sino-sul-americanas vêm se
intensificando desde 2001. Conforme dito anteriormente, tanto a entrada na
OMC quanto as visitas de Estado em 2004 e 2005 ensejaram a assinatura de
acordos de comércio, de investimento e de cooperação em distintas áreas (Vadell,
Ramos e Neves 2016: Leite e Ramos 2016). Além disso, o 11º Plano Quinquenal
(2006-2010) estabeleceu como imperativo o incremento da ajuda a outros países
em desenvolvimento, inclusive como forma de colaborar com a estratégia Going
Global: nesse sentido, é importante ter em mente que a cooperação chinesa é
governada pela norma de benefício mútuo e ganho compartilhado para com os
beneficiários da ajuda. (Brutto 2018, 115).
Com o ponto de inflexão ocasionado pela crise financeira de 2008, tanto
a política interna quanto a externa da China sofrem consideráveis mudanças,
desencadeando uma nova etapa após o longo ciclo de globalização benéfico
desde os anos 1970. Em certo sentido, tais mutações são percebidas como uma
oportunidade para a economia doméstica chinesa, uma vez que a vulnerabilidade
dos distúrbios internacionais alertou o Estado chinês para a necessidade de
construir um mercado consumidor doméstico mais robusto (Niu, 2013), além
de fornecer vigorosa política fiscal anticíclica, sustentando o nível de atividade
econômica (Naughton 2017) baseado, principalmente, no uso intensivo de mão
de obra, na medida em que o país se aproxima do status de “renda média”
(Jaguaribe 2011: Perkins, 2013).
Entre 2008 e 2016, a China vem sofrendo mudanças substanciais, com
menores taxas de expansão econômica somadas às políticas e diretrizes que
visam a um crescimento mais “sustentável”. Isso explica, em certo sentido, o
menor ritmo chinês, com um novo paradigma denominado de “Novo Normal”
(Naughton 2017, p.21: Perkins, 2013: Pereira e Ribeiro 2016), onde as exportações
e o mercado externo perdem relativa centralidade nas diretrizes do governo diante
da expansão do consumo e da demanda doméstica. Tal direcionamento para o
mercado doméstico, presente inclusive no 12º Plano Quinquenal (2011-2015)
(Sevares 2015), auxilia na compreensão do drástico resfriamento do preço das
A Geoeconomia Híbrida da China na América do Sul [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
10-24
commodities (Naughton, 2017), gerando consequências para a dinâmica global e
regional ao fechar um ciclo exógeno benigno para os termos de troca da América
do Sul (Pereira e Ribeiro 2016).
Portanto, ao passar pelas etapas de regionalização e globalização, a China
também desenvolveu sistematicamente relações comerciais, de investimentos e
diplomáticas mais profundas com a América do Sul
3
, no período de 2001 a 2016,
visualizando-se uma crescente interdependência política e econômica entre esses
países em relação à China. O comércio vem crescendo exponencialmente, tendo
a China se tornado majoritariamente o maior parceiro comercial dos países sul-
americanos, visualizada tanto a partir da participação da China como destino
das importações sul-americanas – ultrapassando 20% da participação total
de países como Chile e Peru em 2016 – quanto das exportações – chegando a
aproximadamente 20% dos fluxos na Venezuela, Brasil e Uruguai, e ultrapassando
um quarto no Chile e Peru (The Atlas of Economic Complexity, 2016). Inclusive, a
trajetória ascendente de tais fluxos comerciais atravessou as próprias oscilações
das economias sul-americanas, permanecendo relativamente intacta nos anos
de boom da primeira década do século, modificando-se somente após a crise
financeira de 2008, tornando-se um fator de relativa reconfiguração macroestrutural.
Um fator relevante para a compreensão desses fluxos comerciais diz respeito
à busca de mercadorias de natureza agrícola e mineral − nas quais o país
asiático é altamente dependente − e à procura de mercados para absorção de
suas exportações, concentrados em manufaturas e produtos com diferentes
proporções de valor agregado (Sutter 2012). Ao avaliar os quatro principais
produtos exportados por países selecionados da América do Sul para a China,
evidencia-se a ênfase obtida pelos setores agrícolas e extrativos, assim como ao
analisar os quatro principais produtos de importação sul-americana da China,
são compostos principalmente por produtos eletrônicos e mecânicos de maior
sofisticação tecnológica (The Atlas of Economic Complexity, 2016).
Dessa forma, apesar da manutenção da histórica relação comercial de exportação
de bens com baixo valor agregado e importação de bens com alto valor agregado, a
alta demanda chinesa desempenhou um papel de valorização geral para a maioria
das mercadorias sul-americanas durante o período, aumentando significativamente
os termos de troca em favor do continente (Ray e Gallagher 2017). Com exceção
3 Por razões de análise qualitativa e gráfica, optou-se pela utilização de um recorte dos países sul-americanos
que constituíam, em 2016, maior peso econômico na região em termos de PIB medido em dólares constantes
de 2010: Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Equador, Peru, Uruguai e Venezuela.
Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
11-24
do Uruguai, todos os demais países sul-americanos assistiram a uma melhoria dos
termos de intercâmbio até 2008, com uma breve elevação em 2010/2011 em alguns
casos e, a partir de 2012 (World Bank 2016), uma tendência de queda flagrante, que
coincide com o declínio da economia chinesa, impactando os valores de bens de
exportação sul-americanos (International Monetary Fund 2018). Concomitantemente,
tal fato ocasionou um inédito superávit regional no balanço de pagamentos, em
grande medida, por conta da elevação do preço dos recursos primários devido
ao aumento da demanda chinesa (Economy e Levi 2014), denominado no jargão
acadêmico de boom das commodities. Entretanto, esse fenômeno desacelera
após 2008, ano da crise financeira global (Vadell 2011), e demonstra sinais
mais explícitos de enfraquecimento em meados da década de 2010, revertendo-
se tanto a elevação dos preços das commodities quanto os termos de troca.
A China praticamente triplicou sua participação no total de exportações do
continente na última década, mais do que triplicou as exportações de produtos
extrativos e dobrou o número de exportações agrícolas (Ray e Gallagher 2017).
Atualmente, o menor peso atribuído às exportações como impulsionador do
crescimento chinês também contribuiu para a queda no volume comercial
movimentado entre o país asiático e a região.
4
Para a América do Sul, em alguns
casos, essa queda nas importações, nos últimos anos, contribuiu para reduzir o
déficit comercial ou até aumentar os superávits com a China, como nos casos de
Brasil, Chile, Peru e Uruguai (International Monetary Fund, 2018). Em suma, ao
se consolidar como o motor da expansão da indústria extrativa em todo o mundo
(Moreno 2015), a China estimulou uma alta demanda por recursos naturais, em
que tal fenômeno foi a força motriz do aumento dos preços das commodities e
gerou, concomitantemente, o imperativo de novas infraestruturas para garantir
o fluxo e a circulação dessas mercadorias.
Outro fator relevante é que o gigante asiático vem aumentando considera-
velmente seus investimentos externos diretos (IED) na América do Sul, tornando
a região o segundo maior destino em IED, depois da Ásia, no início dos anos 2010.
Tal evento se deve à sinergia entre a demanda chinesa e a oferta sul-americana
no que tange aos recursos naturais, surgindo um novo padrão econômico de
atuação chinesa na América do Sul, principalmente, a partir da década de 2010
(The China Global Investment Tracker, American Enterprise Institute, 2019).
4 Essa mudança, sob a perspectiva chinesa, visa a estabelecer uma cautelosa transição diante do modelo de
crescimento previamente estabelecido. Os desafios internos (limites estruturais inexoráveis de seu próprio
padrão de crescimento) e externos (demanda mundial reprimida após a recessão seguida pela crise) tornaram-
se imperativos para se adaptar a um novo paradigma da economia política global, o já citado "Novo Normal".
A Geoeconomia Híbrida da China na América do Sul [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
12-24
A perspectiva é que tais investimentos cresçam, nos países da região, tanto devido
à carência quanto ao ímpeto do investimento chinês” (Leite e Ramos 2016, 188),
haja vista que em 2000, a América Latina dificilmente registrava investimentos
chineses; em 2012, a China era o terceiro maior investidor da América Latina,
atrás dos Estados Unidos e da Holanda. (Gallagher 2016).
Os IED surgem como um importante motor para alcançar novos mercados,
novas tecnologias e recursos naturais estratégicos. Além disso, são possibilitados
“pela grande disponibilidade de divisas do país, pela necessidade de adquirir
ativos essenciais, entre eles os recursos naturais, e pelas políticas de incentivos às
Empresas de Propriedade do Estado (EPEs), como a intitulada ‘Atuação Global’.”
(Santos e Milan 2014, 458). Complementarmente, os IED também possuem um
papel de aprimorar as práticas das empresas chinesas a partir do aprendizado
com conglomerados líderes (Gallagher 2016) em determinados setores no exterior,
tendo como exemplo as tecnologias pioneiras em extração de petróleo em águas
profundas realizado pela Petrobras.
Na América do Sul, pode-se dizer que os IED possuem as seguintes caracte-
rísticas: orientação de longo prazo e segurança dos recursos; estabelecimento de
empresas chinesas com pouca ou nenhuma transferência de tecnologia para os
países de destino; ausência de condicionalidades políticas; ausência de promoção
de uma agenda específica pela RPC; e, finalmente, obras de infraestrutura (Leite
e Ramos 2016) que trazem consigo a obrigatoriedade da assinatura de empresas
do país asiático (Slipak 2014: Svampa e Slipak 2015). Portanto, esses fluxos
destinam-se à compra de matérias-primas, formação de joint ventures para
aquisição de licenças para exploração de recursos naturais, fusões e aquisições
de ativos por meio de grandes grupos estatais (Ray e Gallagher 2017) e, nos
casos de obras de infraestrutura, para o desempenho de empresas transnacionais
e estatais chinesas na construção de corredores de exportação para facilitar o
escoamento mais eficiente dos recursos naturais.
Gallagher (apud Vadell 2011) realiza uma interessante distinção acerca dos
diferentes focos de interesse na busca chinesa por recursos naturais. A resource
seeking seria uma forma de garantir fontes de matérias-primas, energia e alimentos;
market seeking teria o intuito de consolidar a indústria do país como altamente
competitiva e voltada para economias globais; e a efficiency seeking consiste
numa atuação visando à diversificação. Majoritariamente, o IED destinado à
região faz parte do primeiro tipo, destinado à exploração de setores estratégicos
no país asiático.
Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
13-24
Outro fator importante a ser levado em consideração é o papel político dos
IED, considerando-os “como possíveis instrumentos geopolíticos de projeção
internacional de um país” (Santos e Milan 2014, 465): independente dos ganhos
e perdas econômicas, a ampliação da esfera de influência política é fundamental.
Peters (2015) afirma que os IED chineses são qualitativamente diferentes, uma
vez que sua estrutura de propriedade e seu processo de aprovação possuem
ligação direta com o Estado. Essa estratégia elucida a assertividade das empresas
chinesas de propriedade estatal, principalmente do governo central (Economy
e Levi 2014): o que também diferencia o investimento chinês na América
Latina é que ele é dominado por empresas estatais e não por multinacionais do
setor privado (Gallagher 2016). Segundo Rodrigues e Hendler (2018), mais de
90% das empresas que investiram na América do Sul são estatais, indicando o
papel geoestratégico do Estado chinês na “realização e direcionamento dos IED
de acordo com seus interesses nacionais” (Santos e Milan 2014, 468).
O principal interesse dos IED chineses na América do Sul está voltado
para a energia (mais especificamente para o setor de hidrocarbonetos, seguido
pela mineração e outras diversas atividades primárias). Do total acumulado de
US$ 130,33 bilhões de IED chinês na América do Sul, no período de 2005 a
2016, a concentração nesse setor foi de 60,06%, dos quais a maioria foi para o
segmento de petróleo em acordos feitos com Brasil, Equador e Venezuela. As
ações de outras áreas de atuação das empresas chinesas no continente foram:
19,31% em metais; 6,39% no setor de transportes (automóveis); 3,82% na
agricultura e 3,80% no setor imobiliário (The China Global Investment Tracker,
American Enterprise Institute, 2019).
Ao analisar os valores e o número de projetos de IED da China na América do
Sul, percebe-se um aumento exponencial na virada da década de 2010, saindo de
US$ 10 bilhões e cinco projetos, em 2009, para aproximadamente US$ 30 bilhões
e mais de 30 projetos, em 2010, mantendo-se uma média de US$ 17 bilhões e
24 projetos, por ano, entre 2010 e 2016. Da mesma forma, visualiza-se que, no
acumulado de 2005-2016, o Brasil desponta como maior receptor de IED na América
do Sul, com US$ 52.210 bilhões, seguido da Argentina, com US$ 27.460 bilhões,
Venezuela, com US$ 20.610 bilhões, Peru, com US$ 19.670 bilhões, Equador, com
US$ 14.730 bilhões, Bolívia, com US$ 4.100 bilhões, Chile, com US$ 2.860 bilhões, e
Colômbia, com US$ 2.170 bilhões (The China Global Investment Tracker, American
Enterprise Institute, 2019).
A Geoeconomia Híbrida da China na América do Sul [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
14-24
No âmbito multilateral, Pequim também atua em várias organizações da região.
Em 2008, a China tornou-se membro de pleno direito do Banco Interamericano
de Desenvolvimento, conserva status de observador permanente na OEA desde
2004 (Shambaugh 2013), assim como mantém um sistema de consultas com a
Comunidade Andina de Nações (Bolívia, Colômbia, Equador e Peru), bem como
com o Mercosul e com o Grupo Río (Sevares 2015). Contudo, a principal ação de
política externa chinesa concerne à criação do Fórum China-CELAC, representando
a inserção da região num modelo de cooperação em que “os projetos giram
em torno de ações que reforçam as vinculações das economias da região com
a China, o que acaba por resultar em consequências políticas e estratégicas
relevantes.” (Carmo e Pecequilo 2016, 66-67). Dessa forma, se apresenta
como uma iniciativa de diplomacia multilateral, cujo objetivo é promover a
cooperação em termos políticos, econômicos, sociais e culturais, trabalhando
para o desenvolvimento de seus povos e construindo um diálogo em torno de
interesses comuns (Ayala 2016).
Em janeiro de 2015, durante a I Reunião Ministerial do Foro China-CELAC,
em Pequim, foi aprovado o “Plano de Cooperação CELAC-China (2015-2019),
com metas de ampliar o comércio bilateral para US$ 500 bilhões e uma remessa
de investimentos diretos chineses na ordem de US$ 250 bilhões na próxima
década. Desse montante de investimentos, parte considerável seria direcionada
à infraestrutura regional, criando um novo conjunto de fundos de mais de US$
35 bilhões (Gallagher 2016). Também foram assinados dois documentos: o Plano
de Cooperação China-América Latina (2015-2019) e a Declaração de Pequim,
que estabelece o consenso político entre ambas as partes, o direcionamento e a
regulamentação da cooperação global (Brutto 2018).
Em meados de 2015, em visita à América do Sul, o premier chinês Li Keqiang
percorreu o Brasil, o Peru, a Colômbia e o Chile e, nesse ínterim, concedeu um
empréstimo de US$ 10 bilhões à Petrobras, facilitou um fundo de US$ 27 bilhões
para o desenvolvimento de infraestrutura no Brasil e um fundo de cooperação
China-América Latina de US$ 30 bilhões para promover a infraestrutura e a
capacidade industrial (Gallagher 2016). Conclui-se que, através de todos esses
mecanismos, a China está ampliando sua presença na região tanto bilateral
quanto multilateralmente.
Os fluxos de comércio exterior, o aumento dos investimentos externos diretos
e a cooperação multilateral entre as forças políticas da China e as forças políticas
da América do Sul vêm crescendo de forma exponencial, principalmente, a partir
Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
15-24
do ingresso da China na Organização Mundial do Comércio (OMC), no final de
2001, conforme dito anteriormente. Tal entrada vem desencadeando um novo
tipo de vínculo da região com a economia política global, assumindo cada vez
mais importância estratégica para a potência asiática.
5
A Geoeconomia Híbrida na América do Sul
Embora as relações comerciais, os fluxos de investimentos e o estabelecimento
de tratados multilaterais tenham crescido nos últimos anos, há fortes indícios para
contestar a retórica de que todos esses processos estejam única e exclusivamente
relacionados à uma nova configuração das relações “Sul-Sul”.
6
De tal modo,
agregando-se a perspectiva da Geoeconomia Híbrida, tem-se, por um lado,
elementos das históricas relações de dependência, assimetria de poder e
perpetuação do subdesenvolvimento da América do Sul, e por outro lado, a
presença de uma janela de oportunidade caso uma orientação estratégica seja
estabelecida.
No que tange às relações comerciais, desde os anos 2000, ao mesmo tempo
em que a China está adotando uma estratégia de diversificação multidimensional
que minimiza os riscos e garante suprimentos ininterruptos (León-Manriquez e
Alvarez 2014), as exportações sul-americanas para a China vem demonstrando uma
concentração de matérias-primas e commodities agrícolas (Shambaugh 2013), o
que intensifica a especialização regressiva da pauta exportadora, a reprimarização
das suas economias e o estabelecimento de rendimentos decrescentes de escala
na estrutura produtiva sul-americana. Para Padula e Brozoski, ao partir de uma
5 É importante ratificar que a compreensão dos movimentos chineses no sistema internacional não apresenta
um padrão temporal unidirecional, conformando-se em múltiplas e contraditórias temporalidades ao longo do
processo tanto externo quanto interno. Adicionalmente, no que se refere ao âmbito doméstico, é importante
frisar que, a despeito do pragmatismo apresentado, as classes políticas e o comportamento econômico endógeno
chinês são pontos fundamentais para compreender a sua atuação externa. Em outros termos, há uma relação
de influência mutualística, permeada pelos objetivos estratégicos de longo prazo estabelecidos, a priori, pelo
Partido Comunista Chinês.
6 Reitera-se a importância de estudos referentes à Cooperação Sul-Sul, compreendida como um processo de
promoção do desenvolvimento com articulação política e interação econômica, científica e cultural entre países
do Sul Global, ou seja, Estados que propõem lutas por projetos alternativos e emancipatórios de transformação
social e política. Inclusive, o presente artigo enseja uma reorganização de um pensamento sobre a reprodução
de determinadas características de dependência dentro do escopo da Cooperação Sul-Sul, uma vez que o
próprio conceito de Geoeconomia Híbrida pode ser replicado e compreendido em outros espaços geopolíticos
do sistema internacional.
A Geoeconomia Híbrida da China na América do Sul [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
16-24
perspectiva restrita “ao comercialismo, poucas possibilidades podemos enxergar
além de ampliar nossa condição de região primário-exportadora” (Padula e
Brozoski 2016).
Numa perspectiva da dualidade da Geoeconomia Híbrida, ainda que as
exportações primárias tenham contribuído para melhorar a situação fiscal dos
países da América do Sul – permitindo aumentar os investimentos sociais,
evitando o endividamento e/ou pagando dívidas pré-existentes e possibilitando
a criação de reservas cambiais –, igualmente aumentaram a dependência à
evolução dos preços das commodities, uma vulnerabilidade fiscal associada à
fragilidade comercial típica dos exportadores de bens primários (Sevares 2015).
Quando os preços dos produtos primários começaram a declinar a partir de
2012, os Estados sul-americanos passaram a sofrer um revés considerável em
suas economias nacionais: a desaceleração combinada da demanda chinesa e
os preços mais baixos das commodities realmente prejudicaram as economias
sul-americanas. (Gallagher 2016).
Complementarmente, a crescente atuação comercial chinesa na região vem
provocando o deslocamento interno de comércio, uma vez que as relações entre os
países da América do Sul se mantiveram constantes ou declinaram, enquanto que
o comércio de todos os países sul-americanos com a China aumentou, substituindo
inclusive os próprios parceiros regionais. Outros dois fatores determinantes
consistem na alta competitividade dos produtos chineses − que interfere, direta
ou indiretamente, em diversos níveis (Benatti 2011) no processo de integração
regional do MERCOSUL − e na atração e intensificação dos laços econômicos com
o Pacífico, sendo uma dessas manifestações a Aliança do Pacífico (Sevares 2015).
Logo, “a substituição dos fluxos intrarregionais de comércio e complementaridade
entre as nações sul-americanas também reduz a possibilidade de adensamento
político local via arranjos de integração ou alianças.” (Pecequilo 2013, 110).
Nesse cenário, os países sul-americanos tendem a tornarem-se menos
complexos e produtivamente sofisticados, cuja perda relativa do peso da indústria
permanece inequívoca. Os dados do Banco Mundial (World Bank 2016) apontam
para uma menor contribuição do setor manufatureiro tanto para o PIB quanto
em termos de volume de bens industriais em suas exportações. Nos primeiros
quinze anos do século XXI, visualiza-se que o setor manufatureiro como valor
agregado do PIB (%) é declinante no conjunto dos países na América do Sul,
saindo de aproximadamente 20% para 13% na Argentina e 9% no Equador,
assim como a participação de manufaturas nas exportações cai de mais de 50%
Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
17-24
para menos de 40% no Brasil, com tendência de queda para todos os demais
países no mesmo período.
Obviamente, esse processo de desindustrialização é complexo, relacionado a
múltiplos fatores e não se limitando apenas à América do Sul (Kim e Lee 2014).
No entanto, os países sul-americanos merecem ênfase especial porque constituem
casos de desindustrialização prematura: nações que perdem o momento de
transformação estrutural no setor secundário antes mesmo de atingir níveis de
renda e sofisticação produtiva das potências avançadas (Gallagher 2016: Palma
2010: Rodrik 2016: Castillo e Martins Neto 2016).
Uma vez que as possibilidades de desenvolvimento econômico estão fortemente
ligadas à transformação radical de estruturas produtivas para superar gargalos
e rigidez do subdesenvolvimento (Gala 2017), o processo de industrialização é
imperativo na promoção da produtividade sustentada, com a ulterior mudança
para uma estrutura produtiva complexificada tecnologicamente. Pecequilo (2013)
resume de forma didática alguns desses ônus da Geoeconomia Híbrida, tais
como os fenômenos da desindustrialização, a reprimarização da economia, a
relativização do setor de serviços, a saturação de mercados, desequilíbrios comerciais
e produtivos, aumento de desemprego interno, perda de competitividade em setores
industrializados, déficits comerciais e baixo investimento em ciência e tecnologia.
De acordo com Gala (2017), uma medição viável seria através do estudo
de estruturas e produtos de mercado revelados por dados comerciais globais,
utilizando-se o chamado Índice de Complexidade Econômica
7
(ICE ou ECI,
em inglês). Com ele, é possível medir o conhecimento e a diversificação
produtiva incorporada nas diferentes estruturas produtivas nacionais, mapeando
temporariamente as rotas dos países em direção à recuperação (alcançando ou
reduzindo o hiato em relação às grandes potências industriais) ou a reprimarização
das matrizes de suas economias (Hausmann et al. 2014). Analisando-se os dados,
é possível verificar como, até 2016, os países sul-americanos sofreram uma alta
deterioração em seus índices de complexidade, denotando a hegemonia assumida
pelos bens primários em seus padrões de exportação e estruturas produtivas
(The Atlas of Economic Complexity, 2016).
No que tange aos investimentos, apesar dos benefícios econômicos que os
IED trazem para os países sul-americanos em áreas sensíveis no curto-prazo,
7 A complexidade tecnológica e produtiva caminha lado a lado com a conectividade (correlação fortemente
positiva) e o progresso. O inverso também é verdadeiro: a capacidade de extrair e exportar produtos primários
de baixa complexidade possui baixa conectividade e ubiquidade.
A Geoeconomia Híbrida da China na América do Sul [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
18-24
não tendem a desenvolver capacidades industriais, ou atividades intensivas
em conhecimento tecnológico, reforçando barreiras econômicas e políticas ao
desenvolvimento de médio e longo prazo. Dessa forma, o direcionamento das
empresas chinesas para o setor de commodities fortalece e aprofunda as atividades
extrativistas de baixo valor agregado e reforça o caráter reprimarizador das
economias regionais. Além disso, em termos de investimentos em infraestrutura
em portos, estradas, ferrovias, é benévolo para a região diminuir custos, reduzir
gargalos logísticos e aprimorar a competitividade; no entanto, a estrutura dos
projetos é totalmente voltada para o favorecimento do desenvolvimento chinês
e não para o fortalecimento interno e integrado das economias sul-americanas,
facilitando a consecução de corredores de exportação ao invés de corredores de
integração.
Essa correlação de forças pode ser avaliada com base em critérios que
visualizam os efeitos colaterais, como a desintegração da própria América do
Sul (embora a falta de interesse estratégico de certas políticas dos governos sul-
americanos em um projeto de integração soberana seja cada vez mais relevante).
Da mesma forma, a aproximação e a negociação individual dos países sul-
americanos com a China acarretam problemas sensíveis, uma vez que tornam
mais complexos e intricados os projetos de integração regional, que geram
incentivos e facilidades para maiores ganhos através do poder de barganha diante
de negociações com potências econômicas (Sevares 2015). Entretanto, visualiza-
se que a presença da China não é um fatalismo; é uma oportunidade que deve
ser aproveitada, uma vez que a resposta que cada país (ou conjunto de países)
fornecerá a essa ascensão chinesa é o ponto central para o desenvolvimento de
suas economias, decidindo quais desafios a “resource quest” chinesa criaria e
quais respostas os países sul-americanos realizariam em todas essas dimensões.
Adicionalmente, como pontua Ferchen (2011), os impactos das relações entre
América do Sul e China se encontram numa dicotomia entre os benefícios de
longo prazo e o boom de curto prazo, uma vez que não há um consenso acerca
da sustentabilidade e das possibilidades desse relacionamento crescente em
commodity-based a partir, única e exclusivamente, da demanda chinesa. Logo,
ambos os lados necessitam realizar uma avaliação realista com a finalidade de
manter o desenvolvimento dessas relações econômicas nas próximas décadas.
A essência da Geoeconomia Híbrida não permite uma defesa enfática do
rompimento das estruturas históricas de dependência e subdesenvolvimento nas
relações sino-sul-americanas no século XXI. Entretanto, possibilita uma cooperação
Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
19-24
paradoxal: A ascensão da China coloca desafios reais ao desenvolvimento
econômico da América do Sul. No entanto, o momento pode ser visto como
uma oportunidade também (Gallagher e Porzecanski 2010), uma vez que “há um
risco no envolvimento econômico com a China, entretanto, na atualidade, este
envolvimento implica uma relação estratégica.” (Vadell e Neves 2018, 209). Essa é
a principal consequência da Geoeconomia Híbrida na América do Sul: contribuir
para a elevação de indicadores econômicos dos países (com superávits comerciais,
investimentos/financiamentos em áreas deficitárias e acordos multilaterais), mas,
em contrapartida, ser insuficiente para garantir trajetórias de desenvolvimento
de médio-longo prazo, apresentando riscos potenciais de desindustrialização e
reprimarização.
No entanto, apesar da constatação da Geoeconomia Híbrida, a nova
configuração das relações entre a China e a América do Sul ainda está em
construção e delimitação, levantando cada vez mais questões sobre a possibilidade
de estabelecer relações cooperativas Sul-Sul ou se reproduzirem assimetrias
e hierarquias Norte-Sul (Milani 2012). Como demonstram Carmo e Pecequilo
(2016), ainda que não haja condicionalidades como as tradicionalmente realizadas
pelas potências ocidentais ou pelo Banco Mundial, e o discurso chinês ressalte
a lógica horizontal da cooperação Sul-Sul, a relação é hierarquizada, uma vez
que o aporte de recursos chineses evidencia as desigualdades de poder político e
econômico. Em outros termos, ainda que a ascensão do poder asiático possibilite
uma alternativa aos limites impostos pela agenda neoliberal do Consenso de
Washington, o fato é que o padrão de relações entre a China e a América do
Sul é crescentemente de interdependência assimétrica, em que os governos sul-
americanos foram incapazes de formular estratégias políticas de longo prazo
para enfrentar desafios, principalmente, relevantes para a lógica da reintegração
internacional, exacerbando uma crescente inserção baseada em vantagens
comparativas tradicionais e desiguais (Slipak 2014).
Os países sul-americanos vêm enfrentando o desafio da Geoeconomia Híbrida
e, para isso, necessitam aproveitar as oportunidades da demanda chinesa para
transformar suas produções com políticas produtivas e comerciais adequadas e,
preferencialmente, articuladas regionalmente. Reitera-se ainda que as mudanças
macroeconômicas estruturais devam ser realizadas, única e exclusivamente, a partir
do planejamento estratégico de cada Estado ou conjunto de Estados da região;
a China pode ser um excelente parceiro nesse sentido, mas os países na região
necessitam visualizar sua condição periférica, subdesenvolvida e dependente para,
A Geoeconomia Híbrida da China na América do Sul [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
20-24
assim, estabelecer diretrizes visando a transformações no seu modelo produtivo.
Segundo Gallagher (2016), ainda há tempo para a América do Sul implementar
as reformas adequadas para finalmente sustentar um crescimento estável e
capitalizar a ascensão da China. Espera-se que essa janela de oportunidade ainda
não tenha sida fechada e que enseje futuros trabalhos acadêmicos que constatem
a reversão ou a redução dos efeitos negativos da Geoeconomia Híbrida.
Conclusão
O presente artigo buscou demonstrar uma abordagem original das atividades
econômicas chinesas na América do Sul, lastreadas pelo conceito teórico da
Geoeconomia Híbrida. Esta é definida como a utilização de instrumentos
econômicos através de um dualismo multifário, contraditório e dessimétrico, com
finalidades geopolíticas, que possibilita uma perpetuação do subdesenvolvimento
aos países atingidos, concomitantemente às possibilidades favoráveis à
concretização de projetos estratégicos. Em outros termos, a presença chinesa
vem apresentando uma tendência de reconfiguração do mapa geopolítico e
geoeconômico da América do Sul e que, apesar dos benefícios oriundos dessa
crescente participação, assevera-se um impacto negativo sobre a estrutura produtiva
dos países sul-americanos.
A Geoeconomia Híbrida demonstra a existência de externalidades negativas
para as estruturas produtivas dos países sul-americanos, uma vez que tal ponto
tende a agravar a concentração da pauta exportadora em produtos primários,
reforçando a especialização regressiva – o que perpetua a fatídica doença holandesa
– e acentuando a trajetória desindustrializante. Além disso, os investimentos
infraestruturais voltados para áreas de interesse imediato da China podem gerar
empecilhos para a integração física e energética intrarregional, uma vez que essa
infraestrutura se encontra subordinada ao centro de decisão de uma potência
extrarregional.
Adicionalmente, a partir da inclusão da região no escopo do projeto chinês
denominado de Belt and Road Initiative (BRI), constatado pela assinatura da
Declaração Especial sobre o Belt and Road Initiative, no Fórum Ministerial
China-CELAC, em 2018, pleiteia-se a hipótese – a ser desenvolvida em trabalhos
futuros – da configuração de uma modalidade suplementar de incorporação da
região na geometria de poder chinês através da Geoeconomia Híbrida.
Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
21-24
Nessa nova ordem mundial, é crucial compreender as características dos
vínculos das forças políticas na América do Sul com as forças políticas da
China, uma vez que a região atende aos objetivos geopolíticos da nova política
externa chinesa de transformação do sistema internacional em multicêntrico.
Portanto, é de extrema importância que os governos e os tomadores de decisão
sul-americanos estabeleçam condições e concertos institucionais mais rigorosos,
a fim de garantir que as relações comerciais, os IED e os acordos multilaterais
também incluam, em certa medida, transferências de tecnologias e conhecimento,
criação de incentivos para o escoamento de produtos manufaturados da região
para o mercado asiático e projetos estratégicos de interdependência simétrica
entre países emergentes.
Referências
Ayala, Lizeth e Ramírez, Javier. 2016. El rol de China en el proyecto de un orden regional
sudamericano. Revista Andina de Estudios Políticos, Vol. VI, N° 2, pp. 5-28.
Benatti, Adriana S. 2011. A presença da China no MERCOSUL: implicações sobre o
processo de integração regional.Oikos,Rio de Janeiro, v. 10, n. 2, p.215-242.
Blackwill, Robert e Harris, Jennifer. 2016. War by other means:geoeconomics and
statecraft. Cambridge, Massachusetts: The Belknap Press Of Harvard University
Press.
Brutto, Giuseppe Lo. 2018. El papel de China en el actual proceso de reconfiguración
geoeconómica y geopolítica en América Latina. Un análisis de sus implicaciones
en las dinámicas de la cooperación Sur-Sur. In: VADELL, Javier (Org.).A expansão
econômica e geopolítica da China no século XXI.Belo Horizonte: Editora Puc Minas,
Cap. 4. p. 103-138.
Carmo, Corival Alves do e Pecequilo, Cristina Soreanu. 2016. O Brasil e o vácuo de
liderança regional: o avanço sino-americano (2011/2016).Austral: Revista Brasileira
de Estratégia e Relações Internacionais,Porto Alegre, v. 5, n. 9, p.54-75, jan./jun.
Castillo, Mario e Martins Neto, Antonio. 2016. Premature deindustrialization in Latin
America. Digital Repository Economic Comission for Latin American and the
Caribbean. Serie Desarrollo Productivo No. 205.
China global investment tracker.2019. American Enterprise Institute.Disponível em:
<https://www.aei.org/china-global-investment-tracker/>. Acesso em: 10 nov. 2019.
Economy, Elizabeth e Levi, Michael.2014. By all means necessary:How China’s resource
quest is changing the world. New York: Oxford University Press.
A Geoeconomia Híbrida da China na América do Sul [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
22-24
Ferchen, Matt. 2011. China-Latin America Relations: Long-term Boon or Short-term
Boom? The Chinese Journal of International Politics, v. 4, n. 1, p. 55–86.
Gala, Paulo.2017. Complexidade econômica:uma nova perspectiva para entender a antiga
questão da riqueza das nações. Rio de Janeiro: Contraponto; Centro Internacional
Celso Furtado de Políticas Para O Desenvolvimento.
Gallagher, Kevin.2016. The China Triangle:Latin America’s China boom and the fate
of the Washington Consensus. New York: Oxford University Press.
Gallagher, Kevin e Porzecanski, Roberto.2010. The dragon in the room:China and the
future of Latin America industrialization. Stanford: Stanford University Press.
Hausmann, Ricardo et al. 2014. The Atlas of Economic Complexity: Mapping Paths to
Prosperity. Cambridge: The MIT Press. Disponível em: http://atlas.cid.harvard.edu/.
IMF – International Monetary Fund. 2018. Direction of Trade Statistics (DOTS). Disponível
em: http://data.imf.org/?sk=9D6028D4-F14A-464C-A2F2-59B2CD424B85.
Jaguaribe, Anna. 2011. China: estratégias de modernização alternativa. Revista
Desenvolvimento em Debate, vol.2, n.2, pp.39-49.
Kaplan, Robert D. 2013.A vingança da geografia:A construção do mundo geopolítico
a partir da perspectiva geográfica. Rio de Janeiro: Elsevier.
Katz, Claudio.2016. Neoliberalismo, Neodesarrollismo, Socialismo.Buenos Aires: Batalla
de Ideas.
Kim, Chong-Sup e Lee, Seungho. 2014. Different Paths of Deindustrialization: Latin
American and Southeast Asian Countries from a Comparative Perspective. Journal
of International and Area Studies, vol.21, n.2, pp.65-81.
Leite, Alexandre Cesar Cunha e Ramos, Lohana Gabriela Simões de Oliveira. 2016.
Investimentos chineses na América do Sul: um desenho das preferências de destino
e setores. In: LIMA, Marcos Costa (Org.).Perspectivas Asiáticas.Rio de Janeiro:
Folio Digital. pp.165-192.
León-Manríquez, Jose e Alvarez, Luis F. 2014. Mao’s steps in Monroe’s backyard: towards
a United States-China hegemonic struggle in Latin America?Revista Brasileira de
Política Internacional,Brasília, v. 57, p.9-27.
Milani, Carlos. 2012. Aprendendo com a história: críticas à experiência da Cooperação
Norte-Sul e atuais desafios à cooperação Sul-Sul. Caderno CRH, vol.25, n.65,
pp.211-231.
Miyamoto, Shiguenoli. 1981. Os estudos geopolíticos no Brasil: uma contribuição para
sua avaliação.Perspectivas,São Paulo, v. 4, p.75-92.
Moreno, Camila.2015. O Brasil Made in China:para pensar as reconfigurações do
capitalismo contemporâneo. São Paulo: Fundação Rosa Luxemburgo.
Naughton, Barry. 2017. Is China Socialist?Journal Of Economic Perspectives, Nashville,
v. 31, n. 1, p.3-24.
Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
23-24
Niu, Haibin. 2013. A Grande Estratégia Chinesa e os BRICS.Contexto Internacional,Rio
de Janeiro, v. 35, n. 1, p.197-229, jan./jun.
Padula, Raphael e Brozoski, Fernanda Pacheco de Campos. 2016. A geopolítica dos
mares como fator estratégico para a integração na América do Sul. Austral – Revista
Brasileira de Estratégia e Relações Internacionais,Porto Alegre, v. 5, n. 10, p.95-
113, jul./dez.
Palma, José Gabriel. 2010. Why has productivity growth stagnated in most Latin
American countries since the neo-liberal reforms? The economic consequences of a
rentier-dominated power structure and a narcissistic ideology. Cambridge Working
Papers in Economics (CWPE), 1030, pp.1-54.
Pecequilo, Cristina Soreanu. 2013. A América do Sul como espaço geopolítico e
geoeconômico: o Brasil, os Estados Unidos e a China.Carta Internacional,Belo
Horizonte, v. 8, n. 2, p.100-115, jul./dez.
Pereira, Luis Carlos Bresser e Ribeiro, Livio. 2016. A nova fase do modelo chinês e
as principais questões para o Brasil. In R. Bonelli, & F. Veloso (Orgs.). A Crise de
Crescimento do Brasil. (1ª ed.). Rio de Janeiro: Elsevier, pp.243-281.
Perkins, Dwight. 2013. East Asian Development: Foundations and Strategies. London:
Harvard University Press.
Peters, Enrique. 2015. China’s evolving role in Latin America: can it be a win-win?
Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).
Ray, Rebeca e Gallagher, Kevin. 2017. China-Latin America Economic Bulletin. GEGI
Discussion Paper.
Rodrigues, Bernardo Salgado e Hendler, Bruno. 2018. Investimento externo chinês na
América Latina e no Sudeste Asiático: uma análise de escopo, valores e setores-
alvo. Estudos Internacionais. Belo Horizonte, v. 6, n. 3, p.5-25.
Rodrik, Dani. 2016. Premature deindustrialization, Journal of Economic Growth, vol
21(1), pp. 1-33.
Santos, Leandro Teixeira dos e Milan, Marcelo. 2014. Determinantes dos Investimentos
Diretos Externos Chineses: Aspectos Econômicos e Geopolíticos. Contexto
Internacional,Rio de Janeiro, v. 36, n. 2, p.457-486, jul./dez.
Sevares, Julio.2015. China:un socio imperial para Argentina y América Latina. Ciudad
Autonoma de Buenos Aires: Edhasa.
Shambaugh, David. 2013. China goes global: the partial power. New York: Oxford
University Press.
Slipak, Ariel. 2014. América Latina y China: ¿cooperación Sur-Sur o ‘Consenso de
Beijing’?. Nueva Sociedad, n.250, pp.102-113.
Sutter, Robert. 2012. Chinese Foreign Relations: Power and Policy since the Cold War.
New York, Rowman and Littlefield Publishers.
A Geoeconomia Híbrida da China na América do Sul [...]
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
24-24
Svamp, Maristella e Slipak, Ariel. 2015. China en América Latina: Del Consenso de los
Commodities al Consenso de Beijing. Revista Ensambles, v.2, n.3, 34-63.
The atlas of economic complexity. 2016. Center for International Development (United
States). Harvard. Disponível em: https://atlas.cid.harvard.edu/what-is-the-atlas.
Acesso em: 15 nov. 2019.
Tsai, T-C e Liu, T. 2012. China’s Relations with Latin America. In E. Kavalsky (Ed.).
The Ashgate Research Companion to Chinese Foreign Policy (pp. 287-298). Surrey:
Ashgate.
Ugarte, Augusto Pinochet.1974. Geopolítica.2. ed. Santiago: Editorial Andres Bello.
Vadell, Javier. Rumo ao século chinês? A relação Estados Unidos-China pós 11/09.Carta
Internacional,Belo Horizonte, v. 6, n. 2, p.97-111, jul./dez. 2011.
Vadell, Javier e Neves, Pedro. 2018. O Brasil e a China na atualidade: perspectivas sobre
o aprofundamento da cooperação desigual a partir do comércio, dos investimentos
e do crédito. In: VADELL, Javier (Org.).A expansão econômica e geopolítica da
China no século XXI.Belo Horizonte: Editora Puc Minas. Cap. 7. p. 205-234.
Vadell, Javier, Ramos, Leonardo e Neves, Pedro. 2016. As implicações internacionais do
modelo chinês de desenvolvimento do Sul Global: Consenso Asiático como network
power. In: LIMA, Marcos Costa (Org.).Perspectivas Asiáticas.Rio de Janeiro: Folio
Digital. p. 67-90.
Vesentini, José William. 1990. Imperialismo e geopolítica global:espaço e dominação
em escala planetária. 2. ed. Campinas: Papirus, 1990.
Vesentini, José William. 2005. Novas geopolíticas.4. ed. São Paulo: Contexto.
World Bank.2016. World Development Indicators. Disponível em: http://datatopics.
worldbank.org/world-development-indicators/. Acesso em: 15 nov. 2019.