Bernardo Salgado Rodrigues
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1085, 2021
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do Uruguai, todos os demais países sul-americanos assistiram a uma melhoria dos
termos de intercâmbio até 2008, com uma breve elevação em 2010/2011 em alguns
casos e, a partir de 2012 (World Bank 2016), uma tendência de queda flagrante, que
coincide com o declínio da economia chinesa, impactando os valores de bens de
exportação sul-americanos (International Monetary Fund 2018). Concomitantemente,
tal fato ocasionou um inédito superávit regional no balanço de pagamentos, em
grande medida, por conta da elevação do preço dos recursos primários devido
ao aumento da demanda chinesa (Economy e Levi 2014), denominado no jargão
acadêmico de boom das commodities. Entretanto, esse fenômeno desacelera
após 2008, ano da crise financeira global (Vadell 2011), e demonstra sinais
mais explícitos de enfraquecimento em meados da década de 2010, revertendo-
se tanto a elevação dos preços das commodities quanto os termos de troca.
A China praticamente triplicou sua participação no total de exportações do
continente na última década, mais do que triplicou as exportações de produtos
extrativos e dobrou o número de exportações agrícolas (Ray e Gallagher 2017).
Atualmente, o menor peso atribuído às exportações como impulsionador do
crescimento chinês também contribuiu para a queda no volume comercial
movimentado entre o país asiático e a região.
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Para a América do Sul, em alguns
casos, essa queda nas importações, nos últimos anos, contribuiu para reduzir o
déficit comercial ou até aumentar os superávits com a China, como nos casos de
Brasil, Chile, Peru e Uruguai (International Monetary Fund, 2018). Em suma, ao
se consolidar como o motor da expansão da indústria extrativa em todo o mundo
(Moreno 2015), a China estimulou uma alta demanda por recursos naturais, em
que tal fenômeno foi a força motriz do aumento dos preços das commodities e
gerou, concomitantemente, o imperativo de novas infraestruturas para garantir
o fluxo e a circulação dessas mercadorias.
Outro fator relevante é que o gigante asiático vem aumentando considera-
velmente seus investimentos externos diretos (IED) na América do Sul, tornando
a região o segundo maior destino em IED, depois da Ásia, no início dos anos 2010.
Tal evento se deve à sinergia entre a demanda chinesa e a oferta sul-americana
no que tange aos recursos naturais, surgindo um novo padrão econômico de
atuação chinesa na América do Sul, principalmente, a partir da década de 2010
(The China Global Investment Tracker, American Enterprise Institute, 2019).
4 Essa mudança, sob a perspectiva chinesa, visa a estabelecer uma cautelosa transição diante do modelo de
crescimento previamente estabelecido. Os desafios internos (limites estruturais inexoráveis de seu próprio
padrão de crescimento) e externos (demanda mundial reprimida após a recessão seguida pela crise) tornaram-
se imperativos para se adaptar a um novo paradigma da economia política global, o já citado "Novo Normal".