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Tatiana Berringer; Bruna Belasques 151
As relações Brasil-China nos
governos Lula e Dilma: burguesia
interna e subordinação conflitiva
Brazil-China relations in Lula and
Dilma’s governments: internal
bourgeois and conflictive subordination
DOI: 10.21530/ci.v15n3.2020.1078
Tatiana Berringer
1
Bruna Belasques
2
Resumo
Este trabalho analisa as relações entre os Estados brasileiro e chinês
durante os governos Lula e Dilma. Busca-se confrontar análises
acadêmicas que criticaram a política externa dos governos Dilma,
tendo em vista o perfil da presidenta ou o impacto da diminuição do
preço das commodities. Nossa hipótese é a de que houve continuidade
da estratégia da inserção internacional do Estado brasileiro dos dois
governos do PT, apesar dos resultados econômicos e da projeção
política terem sido menores. Investigamos a posição da grande
burguesia interna brasileira em relação à política externa. Concluímos
que a crise da política doméstica e a nova dinâmica da economia
política internacional acabaram produzindo efeitos pertinentes na
composição da frente política neodesenvolvimentista, e, especialmente,
para a perda de apoio da burguesia interna pelo governo Dilma. No
entanto, é possível identificar que as relações com o Estado chinês
1 Doutora em Ciência Política pela Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP;
Professora Adjunta 1 de Relações Internacionais da Universidade Federal do ABC
— UFABC, São Paulo, Brasil.
(berringer.tatiana@gmail.com). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1839-914X
2 Graduada em Relações Internacionais e em Ciências e Humanidades pela Universidade
Federal do ABC — UFABC, São Paulo, Brasil.
(bbelasquess@gmail.com). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1070-5245
Artigo submetido em 01/05/2020 e aprovado em 08/10/2020.
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não representam uma contradição latente no interior dessa fração de classe, apesar do
aumento das importações chinesas para o Brasil desde 2008, isso porque há um relativo
consenso entre o agronegócio e a indústria sobre a recepção dos investimentos chineses
em setores estratégicos como energia e infraestrutura.
Palavras-chave: Dilma; Política Externa; Brasil-China; Burguesia Interna.
Abstract
This paper analyzes the relations between the Brazilian and Chinese states during the
Lula and Dilma governments. It aims at confronting academic analyses that criticized the
foreign policy of Dilma’s governments due to the president’s profile or the impact of lower
commodities prices. Our hypothesis is that there was continuity of the two PT’s government
strategy for international insertion of the Brazilian State, although the economic results
and the political projection were smaller. We investigated the position of the great Brazilian
internal bourgeoisie about foreign policy. We conclude that the domestic policy crisis and
new dynamics of the international political economy, ended up producing relevant effects
for the maintenance of the neodevelopmentist political front, and, especially, for the loss
of support of the internal bourgeoisie to the Dilma government. However, it is possible to
identify that relations with the Chinese State do not represent a latent contradiction within
this class fraction, despite the increase in Chinese imports to Brazil since 2008, because
there is a relative consensus between agribusiness and industry on the reception of Chinese
investments in strategic sectors such as energy and infrastructure.
Keywords: Dilma; Foreign policy; Brazil-China; Internal Bourgeoisie.
Introdução
Este trabalho busca analisar as relações sino-brasileiras durante os governos
do PT — Lula (2003-2010) e Dilma (2011-2016) —, investigando se houve ou não
continuidade entre as duas administrações face às transformações na política
internacional, após a crise financeira internacional de 2008, especialmente,
com a ascensão econômica e política do Estado chinês. Buscamos confrontar as
análises que criticam a política externa dos governos Dilma tendo como base:
1) o perfil e as preferências da presidenta; 2) a falta de atenção ou interesse da
mandatária com essa temática diante da crise política nacional; 3) a ideia de que
teria ocorrido uma alteração da estratégia política da inserção internacional do
Estado brasileiro, se comparado com o seu antecessor. Discordamos de algumas
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dessas análises e apontamos que, apesar do menor protagonismo do Estado
brasileiro, a estratégia política foi a mesma que a dos governos Lula, sobretudo,
no que tange à aproximação com o Estado chinês. As diferenças nos resultados
políticos e econômicos decorreram da crise política nacional e das transformações
na política internacional.
Cornetet (2014), por exemplo, propõe analisar os governos Dilma e Lula a
partir dos dados das viagens presidenciais de cada um dos mandatários. O autor
detalha que nos primeiros três anos do primeiro mandato de Dilma as viagens
internacionais presidenciais foram reduzidas em cerca de 31% face aos três anos
iniciais do primeiro mandato de Lula, e houve uma redução de aproximadamente
55% quando comparadas ao segundo mandato do mesmo ex-presidente. Isto é:
entre 2003 e 2005, Lula realizou 81 viagens internacionais e, entre 2007 e 2009,
124 viagens; por sua vez, Dilma fez 68 viagens internacionais entre 2011 e 2013.
Com base nesses dados, e ao considerar o perfil político e pessoal da presidente, o
autor aponta que haveria uma alteração da chamada “diplomacia presidencial”
3
.
Cervo e Lessa (2014) atribuem o declínio do Estado brasileiro nas relações
internacionais à dificuldade em “movimentar sociedade e Estado em torno de
estratégias de ação externa” (Cervo e Lessa 2014, 104). Isto teria decorrido das
características da própria presidenta que, segundo estes autores, teria reduzido os
diálogos com o empresariado industrial e com o agronegócio. Assim, os autores
atribuem grande peso ao cenário doméstico para justificar a redução do protagonismo
internacional do Estado. Em suas palavras: “a crise financeira e econômica
internacional apenas de leve afeta o declínio, cujas causas são eminentemente
internas” (Cervo e Lessa 2014, 149). Cervo e Lessa (2014) reconhecem a importância
do agrupamento BRICS na política internacional, da criação do Conselho de
Defesa da UNASUL e do papel do Estado brasileiro desempenhado na CELAC,
apesar disso, eles consideram não ter havido continuidade da política externa.
Outras autoras consideram que a política externa do governo Dilma deu
prosseguimento ao que vinha sendo desempenhado desde o governo Lula, ainda
que com menor intensidade (Saraiva 2014; Sousa 2016). Elas apontam que a
política externa desenvolvida durante o governo Dilma deu continuidade no caráter
altivo da política externa, ainda que tenha sido menos ativa. Segundo Saraiva
3 O termo diplomacia presidencial foi cunhado por Danese (2017) para indicar que o chefe de governo teria
se sobreposto ao Ministério das Relações Exteriores na formulação e execução da política externa. Parte-se
da premissa de que o Itamaraty tem o controle decisório desta área que é, portanto, neste caso, considerada
uma política de Estado.
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(2014), o perfil de Dilma e Lula podem também ter influenciado este processo.
Apesar disso, a autora acredita que a diminuição da taxa de crescimento do PIB
no primeiro governo Dilma deve ser atribuída, de algum modo, à desvalorização
internacional do preço das commodities.
Bastos e Hiratuka (2017), por seu turno, fazem um contraponto às perspectivas
que atribuem grande parte do declínio na cena política internacional ao perfil da
ex-presidenta. Os autores apontam que as características de Dilma teriam menor
peso diante da conjuntura internacional e da posição do Estado brasileiro como
um Estado dominado na estrutura de poder internacional, defendendo que
a bibliografia parece dar muita importância à postura pessoal da presidenta
e pouca ao próprio contexto internacional, o que não é recomendável para
a análise de um país que não é uma potência capaz de moldar o cenário
em que opera. Segundo, porque é questionável que, até o breve segundo
governo, Dilma tenha alterado profundamente os objetivos e as táticas da
política externa brasileira (Bastos e Hiratuka 2017, 03).
Assim, a expansão da economia mundial na primeira década do século
XXI teria privilegiado a inserção internacional brasileira via políticas Sul-Sul.
Por sua vez, a desaceleração da economia mundial após 2008 teria prejudicado
esse projeto (Bastos e Hiratuka 2017). Ainda segundo Bastos e Hiratuka (2017),
o governo Dilma teria mantido uma postura “altiva e ativa” no projeto de inserção
internacional do Brasil — exemplo disso seria a conduta do Estado brasileiro
no que diz respeito às relações com os Estados Unidos, especialmente, em
2013, no episódio em que a ex-presidenta descobriu ser pessoalmente vítima de
espionagem (bem como a Petrobras), resultando no cancelamento da viagem
da então presidenta aos Estados Unidos.
Em suma, a bibliografia citada atribui o menor protagonismo brasileiro a
dois elementos: à crise doméstica e ao cenário externo, e, divergem sobre o
peso atribuído a cada um deles. Abordaremos esses aspectos com mais atenção
na segunda seção deste texto. Para nós, a política externa dos governos PT
caracteriza-se por uma subordinação conflitiva, isto porque as relações com o
imperialismo não foram rompidas, apesar de a postura política ter sido conflitiva.
As perguntas que o trabalho busca responder são: (i) qual a relação entre os
interesses da grande burguesia interna e a política externa dos dois governos?;
(ii) foi mantido um projeto de inserção internacional de subordinação conflitiva?
(iii) como isso se refletiu nas relações sino-brasileiras, considerando tanto a
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dinâmica e o conflito entre os dois Estados, e os interesses da grande burguesia
interna brasileira? Nossa hipótese é que houve continuidade na política externa
entre as duas administrações, refletindo assim em uma inserção de subordinação
conflitiva face ao imperialismo estadunidense. Este aspecto conflitivo seria
ainda reforçado pela aproximação do Estado brasileiro com o Estado chinês,
a despeito desta relação ter gerado também conflitos seletivos no interior da
grande burguesia interna brasileira, dada a sua composição multissetorial, que,
especialmente, reunia, segundo Boito Jr. (2018), a indústria da transformação,
o agronegócio, a mineração, as construtoras civis, entre outros segmentos.
Este artigo se insere no campo de análise da política externa (APEX), o qual
busca considerar as dimensões da política doméstica frente à dimensão da política
internacional. Esta área teve como um de seus principais autores Robert Putnam
(2010), por meio da abordagem conhecida como “jogos de dois níveis”, cuja
ideia é a de que setores internos (nível II, composto por grupos de interesse)
têm poder de influenciar decisões e negociações que serão tomadas em âmbito
internacional (nível I, formado por chefes de Estado e diplomatas). Concorda-
se aqui com a ideia trazida por Putnam (2010) de que há uma intersecção entre
os ambientes internos e externos. No entanto, tomamos como base a teoria
marxista, baseada na obra de Nicos Poulantzas.
Van Apeldoorn (2017) e Teschke e Win-jones (2017) apontam que ainda há
poucos estudos marxistas na área de análise de política externa. Teschke e Win-
jones (2017) consideram que a teoria do Estado de Poulantzas, especialmente a
ideia de autonomia relativa do Estado, pode ser um importante ponto de partida
para esse campo de estudos. Van Apeldoorn (2017), por sua vez, considera
fundamental a análise a partir das classes e frações de classe tanto no âmbito
doméstico como para compreender a inserção internacional do Estado. Tendo
isso em vista, este trabalho procura contribuir com as análises poulantzianas de
política externa (Berringer 2015), promovendo reflexões a partir da relação de
um Estado dependente, cuja história e posição política na cena internacional é
bastante subordinada aos Estados Unidos.
Além da introdução e das considerações finais, o artigo conta com outras
três seções. Na primeira, enunciamos dois conceitos elaborados pelo marxista
Nicos Poulantzas: bloco no poder e burguesia interna. Na segunda, expomos,
em linhas gerais, a política externa fomentada durante os governos Lula e Dilma.
Na terceira, apresentamos as relações sino-brasileiras a partir dos interesses
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e posições da grande burguesia interna brasileira. Assim, nesta última seção,
buscamos compreender como, a despeito das assimetrias existentes, as relações
entre o Estado brasileiro e o Estado chinês reforçam o caráter de subordinação
conflitiva face ao imperialismo estadunidense e representam os interesses dessa
fração de classe, apesar de existirem conflitos sociais no seu interior.
Classes sociais: burguesia interna e neodesenvolvimentismo
Nicos Poulantzas destaca em Poder político e Classes sociais (1977) e Classes
Sociais no Capitalismo de hoje (1978) a importância de considerar as dimensões
políticas e ideológicas para as análises de classes marxista, isto porque, segundo
o autor, não seriam apenas os aspectos econômicos que determinam a posição
das classes ou frações de classes. Julgamos importante para esse artigo discorrer
sobre dois conceitos trazidos pelo autor — bloco no poder e burguesia interna
— e apresentaremos como eles são utilizados para analisar a política brasileira
contemporânea.
Segundo o autor marxista, entende-se como bloco no poder a relação de
unidade contraditória entre classes e frações de classes, organizadas pelo Estado
em determinada conjuntura histórica. O bloco no poder não é estático, e se
organiza através da hegemonia de uma classe ou fração de classe, que impõe
unidade entre as classes e frações de classe. A fração hegemônica tem os seus
interesses prioritariamente atendidos pela política do Estado (Poulantzas 1977).
Os fracionamentos de classe em formações sociais dependentes diante da
internacionalização produtiva sob a hegemonia dos Estados Unidos, que marca
a atual fase do imperialismo, é tratado por Poulantzas a partir de três clivagens:
a) a burguesia nacional, que é uma “[...]fração autóctone da burguesia que, a partir
de certo tipo e grau de contradições com o capital imperialista estrangeiro, ocupa,
na estrutura ideológica e política, um lugar relativamente autônomo” (Poulantzas
1978, 76), podendo, em determinadas circunstâncias, construir alianças com as
massas populares, como, por exemplo, durante os processos de libertação nacional
de alguns Estados africanos e asiáticos; b) a burguesia interna que representa uma
posição intermediária entre a burguesia compradora e a burguesia nacional, isto
é, ela é “imbricada aos múltiplos elos de dependência aos processos de divisão
internacional do trabalho e de concentração internacional do capital”, por isso,
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ela possui um fundamento econômico e uma base de acumulação próprios ao
mesmo tempo não afetando a dominação do capital americano” (Poulantzas
1978, 77 e 78). Assim, apesar de dependente do capital imperialista, essa fração
reivindica uma postura conflitiva em determinados momentos para concorrer
e sobreviver diante daquele; c) a burguesia compradora, a qual “não tem base
própria de acumulação do capital (...), [é] do ponto de vista, econômico, político
e ideológico, enfeudada no capital estrangeiro” (Poulantzas 1978, 76), e, por
isso, acaba sendo mera agente do capital imperialista estrangeiro no seio da
formação social dependente.
Ao utilizar o aporte teórico poulantziano para interpretar os governos Lula
e Dilma, Boito Jr. (2012, 18) destaca que essas administrações foram marcadas
pela grande burguesia interna brasileira dirigindo o bloco no poder, deslocando o
poder inconteste do capital financeiro nacional e internacional, cuja configuração
era de burguesia compradora (Boito Jr. 2018). Para o professor, a grande burguesia
interna no Brasil seria composta por setores do agronegócio, estatais, indústria,
bancos e construção civil, sendo que esta aglutinação decorria da “reivindicação
de favorecimento e de proteção do Estado na concorrência que elas empreendem
com o capital estrangeiro” (Boito Jr 2012, 07). Durante as gestões de Lula e
Dilma, o Estado contou ainda com o apoio do proletariado, do campesinato
e da massa marginal, constituindo a “frente neodesenvolvimentista”
4
.
No que diz respeito à política externa executada durante os governos Lula e
Dilma, apontamos que esta promoveu grandes mudanças face àquela realizada
durante os governos de FHC, determinadas pelas mudanças no bloco no poder
(Berringer 2015). Ao refletir os interesses da burguesia interna, a posição do Estado
na cena política internacional transitou de subordinação passiva para subordinação
conflitiva em relação ao imperialismo. Isso porque a política externa deve ser
analisada a partir dos interesses e da hegemonia do bloco no poder; se a fração
hegemônica é a burguesia compradora, a posição política do Estado na cena política
internacional é de subordinação passiva, mas se a burguesia interna assume a
direção das políticas estatais, o Estado assume uma postura de subordinação
conflitiva, e se há a constituição de uma burguesia nacional em aliança com os
setores populares, pode-se assumir uma postura anti-imperialista, que implica
em rupturas políticas, o que acontece em processos de transição revolucionária
4 Boito Jr. (2018) usa o termo frente, ao invés de aliança ou coalizão, pois, segundo ele, o projeto neodesenvolvimentista
carregaria em si certa instabilidade associada ao conflito social da distribuição de renda.
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As relações Brasil-China nos governos Lula e Dilma: burguesia interna e subordinação conflitiva
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(Berringer 2015). Vejamos, na próxima seção, como se caracterizou a política
externa brasileira nos governos Lula para então analisarmos os governos Dilma.
A política externa brasileira nos governos Lula (2003-2010) e
Dilma (2011-2016)
Durante os governos Lula, o Estado brasileiro buscou uma inserção interna-
cional que ficou conhecida como “altiva e ativa”. Este termo, em alguma medida,
decorreu da grande participação propositiva, via formação de coalizões com Estados
dependentes, e “na postura crítica à assimetria de poder e das regras desiguais
nas organizações internacionais” (Berringer 2015, 163). Essa aproximação com
os Estados dependentes pautou-se por um discurso terceiro-mundista, utilizado
para promover o multilateralismo e investiu-se em iniciativas de Cooperação
Sul-Sul, cujo objetivo era o fomento de produção científica, tecnológica, o combate
à fome e defesa da saúde coletiva. Além disso, destaca-se a ênfase conferida
aos processos de integração sul-americanos, em especial, o fortalecimento do
Mercosul e a criação da Unasul (Berringer 2015).
Mas, cabe lembrar que o Estado brasileiro manteve relações com os EUA:
o presidente, inclusive, realizou 13 visitas ao país
5
. Defendemos que a PEB não
alterou a posição do Estado brasileiro na estrutura de poder internacional, pois,
não se tratava de uma política independente ou revolucionária e, a despeito de
contradições pontuais e importantes, não houve ruptura com o imperialismo.
Desse modo, cabe apontar as divergências entre o Estado brasileiro e os Estados
imperialistas, entre elas destacam-se: o arquivamento do Protocolo 505 da Base
de Alcântara no Maranhão, o “enterro” das negociações do acordo da Área de
Livre Comércio das Américas (ALCA), o adiamento das negociações entre o
Mercosul e a União Europeia e a criação do Conselho de Defesa Sul-americano.
Assim, a partir do arcabouço poulantziano, denominamos este fenômeno como
subordinação conflitiva (Berringer 2015).
A política externa dos governos Lula buscava refletir os interesses da frente
neodesenvolvimentista dirigida pela grande burguesia interna brasileira, evidentes
nas seguintes ações:
5 As viagens realizadas pelo ex-presidente Lula estão disponíveis em: <http://www.biblioteca.presidencia.
gov.br/presidencia/ex-presidentes/luiz-inacio-lula-da-silva/viagens/viagens-internacionais-1o-mandato/>;
<http://www.biblioteca.presidencia.gov.br/presidencia/ex-presidentes/luiz-inacio-lula-da-silva/viagens/
viagens-internacionais-2o-mandato>. Acesso em: 01 nov. 2019.
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(i) o apoio do Estado para a conquista de novos mercados para exportação
de seus produtos e para a realização de investimentos diretos no exterior;
(ii) a prioridade para os seus produtos e serviços nas compras do Estado e
das empresas estatais e (iii) uma maior proteção do Estado para o mercado
interno. Para nós, foi justamente por isso que os principais focos de atuação
internacional do Estado brasileiro foram: (i) a ênfase nas relações Sul-Sul;
(ii) a prioridade dada à América do Sul; (iii) a Rodada Doha da Organização
Mundial do Comércio (OMC) e (iv) as negociações e o arquivamento da
proposta da Área de Livre Comércio das Américas (ALCA) (Boito Jr e
Berringer 2013, 34 e 35).
Percebe-se, desse modo, que a PEB dos governos Lula buscou a aproximação
com os Estados dependentes a fim de beneficiar a grande burguesia interna
brasileira, a qual pôde expandir negócios com estas formações sociais
6
. Nesse
quadro, evidenciam-se as relações com o Estado chinês que detalharemos no
próximo tópico.
Assim, nos governos Dilma nota-se uma continuidade das políticas de
integração regional, de construção dos BRICS, e aproximação com o Estado chinês
que garantiram maior poder de barganha ao Estado brasileiro em negociações
internacionais, e aumentaram a margem de manobra do Estado em relação aos
EUA. A exemplo disso podemos citar a expansão do Mercosul, por meio da
entrada do Estado venezuelano em 2012 (após a suspensão do Estado paraguaio
em função do golpe de Estado que destituiu o presidente Fernando Lugo) e da
aprovação da entrada do Estado boliviano em 2015 (Bastos e Hiratuka 2017).
Portanto, em oposição ao que foi defendido por Cervo e Lessa (2014), naquilo
que concerne à relação com os empresários, Bastos e Hiratuka (2017) e Boito Jr.
e Berringer. (2013) apontam que a política econômica dos governos Dilma teria
dado continuidade à estratégia da inserção internacional iniciada nos governos
Lula. E, nesse sentido, a política externa buscava privilegiar os interesses da
burguesia interna brasileira, fração de classe que dirigia o bloco no poder do
período (Boito Jr e Berringer 2013).
Cabe lembrar que, com apoio das associações empresariais, o governo
Dilma buscou reduzir a taxa Selic (juro básico), o spread bancário e depreciar
o real frente ao dólar. Estas medidas teriam sido implementadas com objetivo
de estimular maior participação do setor industrial no PIB e elevar a exportação
6 Para interpretações distintas das nossas a respeito da política externa dos governos Lula sugerimos ler: Cervo
e Bueno (2008), Vigevani e Cepaluni (2011) e Spektor (2014).
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As relações Brasil-China nos governos Lula e Dilma: burguesia interna e subordinação conflitiva
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de manufaturados
7
, o que pode ser visto como a tentativa de aprofundar o
neodesenvolvimentismo. Bastos e Hiratuka (2017) enfatizam que:
O governo Dilma elevou barreiras comerciais e exigências de conteúdo
nacional como contrapartida de acesso a subsídios fiscais e encomendas
estatais, de modo a estimular o investimento direto externo em substituição
de exportações oriundas de outros elos da rede produtiva das corporações
transnacionais, na cadeia do petróleo, nos ramos de equipamentos militares,
de comunicação e hospitalares, eletrônicos e automobilística (Bastos 2012b
apud Bastos e Hiratuka 2017, 17).
É verdade que, a partir de 2012/2013, em meio a menores taxas de crescimento
globais, e, em especial, com a redução do preço internacional das commodities, a
economia brasileira, em posição dependente na divisão internacional do trabalho,
começou a sentir maiores impactos
8
. Assim, a economia brasileira passou a
apresentar menores taxas de crescimento, quando não um decréscimo no PIB
como ocorrido em 2015 e 2016. Mas, defendemos que foi a partir das manifestações
de 2013 que passou a ocorrer uma intersecção entre a crise econômica e política.
Em outras palavras, foi a partir desse momento que setores da grande burguesia
interna começaram a tecer críticas aos resultados da política econômica e da
política externa do governo Dilma (Berringer e Reis 2018). Foi a partir do Golpe
de 2016 que isso se tornou mais explícito: por exemplo a Confederação Nacional
da Indústria (CNI) e a Federação de Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP)
passaram a apoiar o acordo Mercosul-União Europeia e a Associação Brasileira da
Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) não (Berringer e Forlini 2018).
Sustentamos então que não houve uma mudança relevante no projeto de
inserção internacional brasileiro entre os governos Lula e Dilma, pois este não
deixou de guardar relação com os interesses de partes da grande burguesia interna
brasileira (Boito Jr e Berringer 2013; Bastos e Hiratuka 2017). Isto é, a estratégia
desempenhada na política econômica, social e externa continuou pautada pela
7 Carvalho (2018) reconhece que a implementação destas medidas buscava atender parte do que chamamos
de burguesia interna, referindo-se a estratégia como “Agenda FIESP”. A autora vê esta questão de modo
negativo, pois, segundo ela, isto não levaria a um crescimento sustentado da economia brasileira. Em linhas
gerais, o argumento da professora é o de que este crescimento teria como objetivo a exportação de produtos
brasileiros e não mais um crescimento com foco no mercado interno. Contudo, conforme argumenta, os bens
industrializados brasileiros não seriam capazes de competir com os provenientes de países asiáticos que têm
custos menores.
8 Carvalho (2018) traz um dado importante acerca da queda expressiva das exportações brasileiras, de 11% em
2010 para 0,3% em 2012.
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Tatiana Berringer; Bruna Belasques 161
plataforma neodesenvolvimentista
9
. Contudo, reconhecemos que, com a existência
dos impactos da crise doméstica e externa, parte desta fração de classe teria ficado
insatisfeita com os resultados proporcionados pelas políticas de Dilma, assumindo
uma posição crítica e se aliando à frente neoliberal ortodoxa que apoiou e se
beneficiou do golpe de 2016. Os principais motivos para a perda do apoio dessa
fração ao governo foram, como já apontado, o menor crescimento do PIB, reflexo
da crise financeira internacional, além do aumento do número de greves e dos
ganhos reais de salário dos trabalhadores. Isso levou, segundo Boito Jr. (2018),
à ruptura da frente neodesenvolvimentista, fazendo com que parte da burguesia
interna brasileira se aliasse à frente neoliberal ortodoxa, composta pela burguesia
compradora (especialmente, composta pelo capital financeiro e capital externo) e
pela alta classe média. Esses setores, que contaram ainda com o apoio da grande
imprensa e com a ação do imperialismo, formaram a frente que dirigiu o golpe.
Assim, defendemos que a política externa de Dilma deu continuidade a uma
estratégia de subordinação conflitiva presente desde o governo antecessor, através
das iniciativas de integração regional e do BRICS. Contudo, é válido ressaltar
que os resultados econômicos e políticos não foram tão expressivos quanto ao
do período precedente. Vejamos agora como as relações com a China também
favoreceram uma política externa conflitiva face ao imperialismo estadunidense
durante o mandato de Dilma e qual o posicionamento da grande burguesia
interna face às dinâmicas sino-brasileiras.
As relações sino-brasileiras nos governos PT
No início dos anos 2000 houve maior aproximação nas relações sino-brasileiras
tanto na perspectiva bilateral, quanto multilateral. Isso decorre das mudanças
da política doméstica e externa dos Estados. No início do século XXI, o Estado
chinês, com a ascensão de Hu Jintao ao cargo de presidente, deu continuidade
em sua retórica de busca pela paz, estabilidade e uma política externa que
teria como vetor o desenvolvimento, procurando se aproximar dos Estados
dependentes, dentre eles, o Brasil (Sousa 2016). O Estado brasileiro, por seu
turno, buscou uma inserção internacional que entendemos como “subordinação
9 Embora não tenha ocorrido grandes mudanças em termos de política externa entre os governos Lula e Dilma,
é preciso apontar que, a partir do segundo governo de Dilma, com a entrada de Joaquim Levy no Ministério
da Fazenda, há um gradativo desmonte da política econômica neodesenvolvimentista, via implementação do
ajuste fiscal (Carvalho 2018).
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As relações Brasil-China nos governos Lula e Dilma: burguesia interna e subordinação conflitiva
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conflitiva”. A política externa desse período permitiu que o Estado brasileiro
buscasse a diversificação de parceiros e foi um instrumento necessário para o
neodesenvolvimentismo.
Assim, em 2004, o Presidente Lula viajou à China ao lado de diversos
empresários, governadores e ministros. Em seguida, o Estado brasileiro reconheceu
a China como economia de mercado — esta decisão gerou e ainda gera muitas
críticas por parte das entidades empresariais brasileiras
10
(Becard 2011). A respeito
da viagem mencionada, Becard (2011) aponta que “acreditava o Brasil que a
China estava em condições de contribuir com seu progresso, sobretudo por meio
de investimentos na infraestrutura e da aquisição de produtos brasileiros” e “o
saldo final da visita foi nove atos bilaterais e 14 contratos empresariais assinados”
(Becard 2011, 37). Além disso, na ocasião, foi criada a Comissão Sino-Brasileira
de Alto Nível Concertação e Cooperação (COSBAN), objetivando a construção
de uma parceria de longo prazo que pudesse ser guiada pelos representantes de
alto nível dos Estados — figurados na presença da então vice Primeira Ministra
chinesa e do vice-Presidente brasileiro, José de Alencar. Este foi considerado um
dos principais meios de coordenação nas relações sino-brasileiras. Desse modo,
a partir do governo Lula, o Estado chinês passou a possuir caráter estratégico
11
para o Estado brasileiro, tanto do ponto de vista político (podendo ser, em
determinados momentos, importante aliado em fóruns internacionais), quanto
sob perspectiva econômica (uma vez que a China poderia ser um grande mercado
para exportação e fonte de investimentos).
Como apontado, o Estado chinês, durante os anos 2000, aproximou-se dos
Estados sul-americanos e africanos buscando matérias-primas e mercados para
manter o seu crescimento econômico (Becard 2011). Em relação ao Brasil, cabe
destacar alguns aspectos dos interesses chineses, os quais, segundo Becard,
estariam associados a:
i) explorar matérias-primas e recursos energéticos considerados necessários
para dar prosseguimento à expansão da economia chinesa; ii) aumentar
o lucro dos negócios chineses, seja por meio da venda de produtos com
maior valor agregado, seja por meio do fornecimento de empréstimos a
10 As críticas ao reconhecimento do status de economia de mercado para a China têm sido promovidas sobretudo
pela FIESP e pela CNI (Fiesp 2013; CNI 2016).
11 Utilizamos aqui o termo “estratégico” no sentido de política e economicamente importante. Mas deve-se
apontar que formalmente o Estado brasileiro e o Estado chinês possuem uma Parceria Estratégica desde 1993,
quando o Primeiro Ministro Zhou Rongji visitou o Brasil, e uma Parceria Estratégica Global desde 2012. Para
saber mais, ver Biato Júnior (2010) e Sousa (2016).
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Tatiana Berringer; Bruna Belasques 163
brasileiros; iii) garantir a presença chinesa no mercado brasileiro e, por meio
deste, no mercado sul-americano, considerado cada vez mais competitivo,
restritivo e protegido por altas tarifas de importação; iv) trocar informações
na área de ciência e tecnologia e adquirir tecnologias de ponta; v) utilizar
a parceria como forma de diversificar os negócios chineses e aumentar o
poder de barganha do país no cenário internacional, evitando dependência
e assimetrias frente a outros parceiros (Becard 2011, 40).
Assim, desde 2009, a China tornou-se a maior importadora de insumos
brasileiros, compostos majoritariamente por produtos básicos — 77% em 2008.
Isso levou a balança comercial entre Brasil e China a apresentar assimetrias
(a economia brasileira exporta mais bens primários e semimanufaturados para a
RPC, enquanto o Estado da China mostra-se um importante exportador de bens
manufaturados e com maior valor agregado)
12
. Isto posto, é preciso destacar
que as relações econômicas entre estes Estados não se restringem à exportação
brasileira de matérias-primas e às compras brasileiras de produtos industrializados
produzidos na China. As relações sino-brasileiras são muito heterogêneas:
o Estado chinês vem promovendo também grande quantidade de investimento
estrangeiro direto (IED) no Brasil
13
. Cabe, no entanto, refletir qual o caráter de tais
investimentos e quais seus benefícios. Becard (2011) aponta que “fez igualmente
parte dos interesses chineses aumentar seus investimentos diretos, com vistas
a garantir segurança energética, sustentabilidade de recursos e expansão de
mercados externos” (Becard 2011, 40). Os IEDs estão presentes em setores como:
automotivo, energia, siderurgia e na indústria eletrônica — como, por exemplo,
as empresas chinesas na zona franca de Manaus no setor eletrônico, segmento
no qual até 2006 foram investidos R $396 milhões (Becard 2011).
Diante desse quadro, o Estado brasileiro criou, em 2008, com apoio de
entidades empresariais, a “Agenda China”, com o objetivo de reduzir os
desequilíbrios da relação comercial buscava, especificamente:
12 Tem sido cada vez mais comum discussões acerca da “atual inserção internacional do país [Brasil], de sua
estratégia e de suas parcerias, assim como de suas potencialidades e fragilidades e, em especial sobre o próprio
relacionamento com a China” (Oliveira 2016, 151). Há, assim, um amplo debate na economia política acerca
da perda da participação da indústria na composição do PIB (Produto Interno Bruto). Oliveira (2016) discorda
da tese acerca da qual a desindustrialização brasileira está diretamente associada às relações Brasil-RPC, como
contraponto ele ressalta que há, na verdade, uma perda da competitividade brasileira face ao incremento da
produtividade chinesa.
13 Segundo o CEBC (2019), os investimentos das empresas brasileiras no Brasil tiveram a seguinte evolução: 13,1
bilhões de dólares em 2010, 8 bilhões de dólares em 2011, 3,4 bilhões de dólares em 2012 e 2013,1,7 bilhões
de dólares em 2014, 7,4 bilhões de dólares em 2015, e 8,4 bilhões de dólares em 2016, 8,8 bilhões de dólares
em 2017 e 3 bilhões de dólares em 2018.
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As relações Brasil-China nos governos Lula e Dilma: burguesia interna e subordinação conflitiva
164
i) aumentar o conteúdo tecnológico das exportações ao mercado chinês com
produtos de maior valor agregado do que os já tradicionalmente exportados;
ii) equilibrar de modo quantitativo e qualitativo a balança comercial sino-
brasileira, por meio do aumento da exportação de produtos industrializados
brasileiros; iii) incrementar as exportações brasileiras de produtos intensivos
no uso de recursos naturais, atendendo ao crescimento da demanda por
produtos que a China tem dificuldade em garantir autossuficiência e
aproveitando a sazonalidade da produção; iv) aumentar a participação
brasileira em missões, feiras e projetos específicos com a China, de modo
a permitir o incremento de ações coordenadas entre parceiros de ambos
os países. Foram igualmente contempladas pela Agenda iniciativas de
atração de investimentos chineses para o Brasil, inclusive nas áreas de
infraestrutura e logística (Barral 2008 apud Becard 2011)
Além disso, em 2010, foi aprovado o primeiro Plano de Ação Conjunta
(PAC) para o período de 2010-2014, visando reduzir as assimetrias entre os dois
Estados e melhor orientar suas relações bilaterais (Brasil 2010). Este plano foi
assinado inicialmente por Lula, na ocasião em viagem à China, e Hu Jintao em
2009 (Becard 2011). Em 2014, o Presidente Xi Jinping esteve no País e, em 2015,
o Primeiro-Ministro Li Keqiang:
Esses encontros oficiais indicam uma aproximação concreta entre ambos
os governos e o amadurecimento das relações bilaterais, fortalecendo,
inclusive, o setor empresarial. No marco da visita do Primeiro-Ministro,
foram assinados 35 acordos entre instituições e empresas de ambos os
países, cobrindo áreas que vão do setor agrícola à pesquisa em tecnologia
espacial, dentre os quais cabe mencionar a constituição de um fundo
bilateral para investimentos em infraestrutura e energia (CEBC 2016, 16).
Assim, vale ainda citar o surgimento do Conselho Empresarial Brasil-China
(CEBC), desde 2004, o qual tem, em linhas gerais, como objetivo “aperfeiçoar
o ambiente de comércio e investimento entre os países”. Este passou a ser
oficialmente reconhecido pelos dois Estados em 2015 (CEBC 2018).
Na esfera multilateral, o Estado brasileiro buscou obter uma cadeira
permanente no Conselho de Segurança da ONU, e, por isso, esperava obter
apoio do Estado chinês e, por isso, reconheceu a China como economia de
mercado. A despeito disso, o Estado chinês votou contra a proposta de reforma
do CS das Nações Unidas e, consequentemente, contra a participação do Brasil
como membro permanente (Becard 2011; Sousa 2016). Pouco tempo depois,
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Tatiana Berringer; Bruna Belasques 165
ambos deram início à criação do BRIC
14
, provavelmente uma das iniciativas
mais importantes de política externa realizada durante o governo Lula. Segundo
Stuenkel, o BRIC contribuiria para a construção de uma ordem internacional
mais multipolar:
o termo BRIC deve servir à necessidade de cada país elevar seu status
internacional como uma potência dinâmica e emergente com crescimento
nos assuntos mundiais. ‘Os BRICs’ fornecem legitimidade e autoridade
adicional, ao ajudar esses países a serem reconhecidos pelas potências
desenvolvidas (...). Ser um membro dos BRICS implica um considerável
grau de reconhecimento social — parcialmente fornecido pelos outros
membros, mas também por analistas econômicos e formadores de opinião
renomados — que podem aumentar o poder de barganha dos países
(Stuenkel 2014, 91, tradução nossa)
15
.
Por fim, o que esta seção nos ajuda a perceber é que 1) o poder econômico
chinês acabou também lhe proporcionando uma nova posição política na cena
internacional (Becard 2011; Oliveira 2012; Clegg 2009 apud Sousa 2016), de modo
que no início do século XXI a China passou “a dar maior importância para a ideia
de cultivar um reconhecimento legítimo da sociedade internacional. O Estado
passou a reconhecer mais abertamente que necessitava de aceitação externa”
(Sousa 2006, 193). Por um lado, isso permitiu também que 2) o Estado brasileiro,
resguardado no discurso de Sul Global da PEB do período, encontrasse no
Estado chinês um parceiro na busca por construir um sistema internacional mais
multipolar, o que colaborava também com o projeto de inserção internacional do
governo Lula. No que diz respeito à burguesia interna, nota-se que 3) a despeito
das assimetrias existentes, o governo Lula buscou atender os interesses dos
setores exportadores que integravam a grande burguesia interna brasileira.
Nesse quadro, vemos um avanço das relações bilaterais e multilaterais durante
os governos Dilma. No âmbito multilateral, destaca-se a maior institucionalização
14 Os Estados que integram o BRIC reuniram-se pela primeira vez em 2006 a margem da Assembleia Geral da
ONU, a primeira cúpula entre os Estados realizar-se-ia apenas em 2009. Vale, no entanto, dizer que o termo
surgiu em 2001 devido a fala do economista Jim O'Neill, do Goldman Sachs.
15 Do original: “the BRIC term may serve each country’s need to increase its international status as a dynamic
and emerging power with a growing role in global affairs. ‘The BRICs’ provides additional legitimacy and
authority, helping these countries to be recognized by the established powers as having those attributes. Being
a BRICs member implies a considerable degree of social recognition—partly provided by the other members but
also by prestigious economic forecasters and opinion makers—that might enhance each country’s bargaining
power” (Stuenkel 2014, 91).
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 15, n. 3, 2020, p. 151-173
As relações Brasil-China nos governos Lula e Dilma: burguesia interna e subordinação conflitiva
166
dos BRICS que teve como origem a entrada do Estado sul-africano em 2011 e
a criação do Arranjo de Contingente de Reservas (ACR) e do Novo Banco de
Desenvolvimento (NBD) — conhecido como “Banco dos BRICS”, na VI Cúpula
do grupo em Fortaleza, em 2014. A entrada formal da África do Sul no então
BRIC foi de importante valia para a expansão política e a Cooperação Sul-Sul,
contribuindo para reforçar o discurso de construção de uma ordem internacional
multilateral.
De acordo com Vasconcelos (2018), a criação do ACR e do NDB “[...] não
apenas serviria para atender as demandas particulares dos Estados-membros, mas
cumpriria também a função de servir como exemplos da visão dos BRICS para a
constituição de uma nova arquitetura das finanças internacionais” (Vasconcelos
2018, 147). Mesmo representantes da frente neoliberal no Brasil, como Marcos
Troyjo
16
, concordam com a importância do BRICS para a construção de uma
ordem mais multipolar. Troyjo aponta que o agrupamento colabora com a criação
de ferramentas de governança internacional, ao institucionalizar-se via NBD
17
.
Por isso, o autor destaca que as novas instituições do BRICS representam um
processo de subordinação conflitiva face às instituições de Bretton Woods, uma
vez que não rompem com essas, mas tampouco associam-se passivamente a
elas (Vasconcelos 2018).
O ACR seria uma espécie de “fundo monetário do NBD”, que conta com um
montante de reservas no valor de US$100 bilhões, as quais podem ser utilizados
em caso de crises de liquidez e/ou de pressões no balanço de pagamentos — o
valor foi aportado pelos Estados que compõem o BRICS. É preciso ainda dizer que,
para ter acesso a 70% dos recursos do ACR, é necessário que o Estado requerente
tenha em curso um acordo com o FMI, caso contrário o acesso será reduzido
a apenas 30% do montante. Ainda que criado pelos cinco membros do BRICS,
o NBD prevê em sua resolução empréstimos para outros Estados dependentes
e também a adesão de novos membros nos médio e longo prazos, desde que
estes sejam membros da ONU (NBD, 2014, 2017). Segundo o acordo assinado
em Fortaleza, os aportes do Banco serão direcionados para a iniciativa pública
ou privada, com objetivo de financiar projetos que propiciem desenvolvimento
sustentável e de infraestrutura: energia renovável, transporte, saneamento básico
e irrigação (NBD, 2014). Assim, os empréstimos são concedidos mediante a
16 Marcos Troyjo era, no período, representante do Brasil na direção do NBD (EBC, 2020).
17 Argumento defendido no programa Roda Viva, em 29/02/2019. Disponível em: <https://tvcultura.com.br/
videos/52124_roda-viva-marcos-troyjo-29-02-2016.html> Acesso em: 20 nov. 2019.
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Tatiana Berringer; Bruna Belasques 167
apresentação de projetos (Vasconcelos 2018). Por isso, este autor destaca que
a criação de tais mecanismos estava ligada aos interesses da grande burguesia
interna brasileira.
Bastos (2017) e Singer (2016) chamam atenção para o fato de que, já no
primeiro mandato de Dilma, houve uma crescente postura defensiva de segmentos
industriais face à concorrência chinesa, como se pode ler na Carta da Associação
Brasileira de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ) ao Ministro da Indústria,
Desenvolvimento e Comércio Exterior em 2011:
[...] em janeiro/2011, tivemos uma audiência com V. Excelência, [...]
oportunidade em que pudemos apresentar-lhe um “livro azul”, que continha
814 (oitocentas e quatorze) NCM’s que apresentavam sérios problemas de
competitividade em relação às importações vindas de todos os lugares do
mundo, mas principalmente da China. Naquela ocasião, demonstramos à
V. Excelência que as máquinas e equipamentos vindas da Europa custavam
cerca de 40% menos que as nacionais e, no caso específico da China, a
diferença de preço era de 5 a 10 vezes.
Ocorre que, passados 11 meses, não foi implementada nenhuma medida
concreta, que pudesse diminuir a assimetria existente entre os fabricantes
de máquinas e equipamentos nacionais e importados. Com a crise na
Europa e nos E.U.A, a situação se agravou ainda mais e continuamos a ser
invadidos por manufaturados vindos de todo o mundo, mas principalmente
da China [...] (ABIMAQ, 2011).
Em 2016, a CNI seguiu reticente à concorrência chinesa:
A forte presença chinesa impactou, principalmente, os setores eletrônicos,
máquinas e equipamentos, calçados, vestuário e têxtil. Abijaodi explicou
que, nos eletrônicos, o coeficiente de importação do Brasil para a China
aumentou de 3,4% para 17,6% entre 2012 e 2015. Para o setor vestuário,
subiu de 1,1% para 7,5%. O coeficiente de importação mede a participação
do insumo importado na produção (CNI, 2016).
Neste período, a entidade também expressou sua oposição ao reconhecimento
do status de economia de mercado para a China, justificando que a interferência
estatal sobre as empresas seria muito alta (Época, 2016). Esse cenário também
se refletiu para as relações com a América do Sul. Nas palavras de Bastos:
as exportações de manufaturados sofreram indiretamente com a deflação das
commodities por conta da crise de seus principais mercados na América do
Sul. Nesses mercados declinantes, como vimos, as exportações brasileiras
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 15, n. 3, 2020, p. 151-173
As relações Brasil-China nos governos Lula e Dilma: burguesia interna e subordinação conflitiva
168
enfrentaram a concorrência crescente de exportações chinesas e dos países
de origem das filiais instaladas no Brasil. A perda de participação nos
mercados em desaceleração na América do Sul ajuda a explicar o declínio
do entusiasmo da indústria brasileira e, em particular, da FIESP em relação
à integração comercial sul-americana valorizada pelos governos liderados
pelo PT (Bastos 2017, 26)
18
.
Mas, ao mesmo tempo, a Fiesp (2012), no documento “Panorama China”
manifestou preocupação com a desaceleração econômica pós 2008, e o possível
impacto das exportações brasileiras para lá. A Confederação da Agricultura e
Pecuária do Brasil (CNA) e a Associação Brasileira do Agronegócio (ABAG)
afirmam a necessidade de aprofundamento e expansão das relações com o Estado
asiático, dado que as exportações brasileiras de soja e carne tiveram esse como o
destino prioritário
19
, reivindicam o estabelecimento de uma parceria estratégica
em políticas de segurança alimentar, abastecimento e de inovação agropecuária.
Assim, elencaram as seguintes propostas ao Estado brasileiro (CNA, 2018, 69):
Estabelecer Acordo de Facilitação de Comércio para eliminar entraves
burocráticos entre os dois países.
Formular Acordo de Cooperação e Facilitação de Investimentos (ACFI);
Firmar Acordo de Cooperação para Assistência Técnica e Profissional
aos produtores rurais e intercâmbio de pesquisadores.
Assinar Acordos Regulatórios para melhorar a transparência e dar
celeridade ao processo de análise de registro de eventos Organismos
Geneticamente Modificados (OGM)
Harmonizar as regras de rotulagem entre as distintas províncias chinesas
e o Brasil.
Em documento publicado em 2016, o CEBC avalia os investimentos chineses
em 2014-2015, tendo em vista a nova posição da China na economia mundial:
O Brasil, naturalmente, faz parte dessa nova fase de investimentos chineses
— seja por estar incluído em operações de grandes multinacionais, seja
pelas nossas características, dadas pelas atuais circunstâncias do País, pelas
18 Isso se deve, em grande parte, aos compromissos do Mercosul em torno da Tarifa Externa Comum, que acaba
sendo um empecilho para que os Estados firmem acordos com Estados fora do bloco de maneira unilateral.
Isso apareceu em diversas críticas e manifestações das associações de representantes da burguesia interna
brasileira, que passaram a dizer que o Mercosul não pode ser um entrave para as negociações internacionais
do Estado brasileiro.
19 Em 2016, as exportações brasileiras para a China acumularam o montante de 36,6 bilhões de dólares, sendo
que 14,2 bilhões foram de soja (aproximadamente 37% das exportações do total das exportações Brasil-China
naquele ano) e 1,5 bilhões de carne bovina.
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Tatiana Berringer; Bruna Belasques 169
oportunidades de investimentos, especialmente em infraestrutura, e pelo
atrativo vindo da oferta de recursos naturais, atualmente concentrado em
alimentos (CEBC, 2016, 7).
Percebe-se, assim, que o CEBC e a Agenda China buscam atender aos interesses
de setores da burguesia interna brasileira, e reconhecem que as relações Brasil-
China têm se concentrado mais em investimentos do que no comércio, com
destaque para a área de energia, eletrônicos e automotivos (CEBC, 2016). A CNI
também mostra-se favorável à concessão de investimentos estrangeiros diretos por
parte da RPC ao Brasil. Carlos Abijaodi, diretor de Desenvolvimento Industrial
da entidade, aponta que: “A agenda da indústria para a China tem três pontos:
aumentar o acesso dos produtos brasileiros no mercado chinês, fomentar os
investimentos de empresas chinesas em projetos estratégicos no Brasil e manter
os instrumentos de defesa comercial” (CNI, 2016). Dessa forma, podemos inferir
que, apesar de setores da grande burguesia interna brasileira serem contrários
ao reconhecimento da China como economia de mercado e requererem do
Estado brasileiro a proteção em relação às importações chinesas que ameaçam a
indústria, buscam, ao mesmo tempo, aproveitar dos grandes aportes chineses que
podem beneficiá-la — especialmente, a recepção de investimentos voltados para
a infraestrutura, e o acesso ao mercado chinês para exportações de brasileiras,
sobretudo, de produtos básicos.
Conclusão
Ao analisar a política externa nos governos do PT, percebe-se que esta
representou os interesses da grande burguesia interna brasileira. Defendemos, no
decorrer deste texto, que as diretrizes da PEB de ambos governos foi a mesma,
dada a ênfase na integração regional e o aprofundamento da relação com o
Estado chinês. No entanto, reconhecemos que, de algum modo, os resultados
econômicos não foram tão positivos. Atribuímos a diferença nos resultados a
dois fatores: a desaceleração da economia internacional após a crise de 2008;
e, em segundo lugar, destacamos o fato de que o governo enfrentou uma crise
política nacional que levou ao golpe de Estado de 2016.
Dessa maneira, defendemos que houve um processo de continuidade da
estratégia da política externa brasileira (PEB) nos dois governos. Naquilo que diz
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As relações Brasil-China nos governos Lula e Dilma: burguesia interna e subordinação conflitiva
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respeito às relações sino-brasileiras, é preciso apontar que tais relações tiveram
caráter estratégico em âmbito político nos governos Lula e Dilma, sobretudo via
a criação do BRICS, do ACR e do NDB.
Em suma, percebe-se que o governo Dilma, especialmente durante seu
primeiro mandato, buscou apoiar a burguesia interna, dando continuidade à
frente neodesenvolvimentista constituída nos governos Lula. No caso da China,
apesar de o governo brasileiro manter o status de economia de mercado, o que
desagradava partes da burguesia interna, nota-se também que houve continuidade
das iniciativas que procuraram aprofundar as relações bilaterais e garantiram
aumento das exportações de commodities para a China. Assim, defendemos
que os interesses da burguesia interna continuaram a ter reflexos no projeto de
inserção internacional do Estado brasileiro, a despeito das contradições em relação
ao comércio bilateral. Isso porque os diferentes setores da burguesia interna
brasileira parecem concordar com o aumento do investimento externo chinês
no Brasil. Diante disso, acredita-se ser válido apontar que a política externa de
Dilma tenha dado continuidade a um projeto de subordinação conflitiva, que
permitiu o aumento da margem de manobra do Estado brasileiro em relação
aos Estados Unidos.
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