Daniela Vieira Secches; Marina Nunes Bernardes; Pedro Diniz Rocha
Rev. Carta Inter., Belo Horizonte, v. 16, n. 1, e1000, 2021
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solidificassemas contribuições para o campo dentro e fora da Rússia complicaram
ainda mais essa equação. O campo também tinha uma preocupação maior
com assuntos e sujeitos, e não com problemas em si; por esse motivo o curso
de Relações Internacionais se estruturou em torno de estudos de área e, mais
especificamente, de países. Isso aconteceu devido às necessidades pragmáticas
do governo em relação à sua política externa, já que ele tinha controle direto
sobre o ensino e as pesquisas da área. Em realidade, a próxima relação entre
o Kremlin e as Universidades de RI permaneceu por muitos anos após o fim
da URSS. Um exemplo disso foi a criação do Instituto de Economia Mundial e
de Política Mundial, para fomentar análises de acadêmicos sobre as relações
internacionais e aconselhar os tomadores de decisão do governo (Lebedeva 2004).
Atualmente, existem cerca de quarenta cursos de graduação em Relações
Internacionais na Rússia, com destaque para os programas da Universidade
Estatal de Moscou e da Universidade Estatal de São Petersburgo.
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Com viés mais
pragmático, a Academia Russa de Ciências promove estudos por áreas geográficas.
Por sua vez, nove institutos e centros ministeriais envolvem-se diretamente
com a temática internacional e buscam consolidar e promover a versão oficial
a respeito do tema.
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Centros de pesquisa, igualmente, costumam localizar-se
no eixo São Petersburgo-Moscou, e alguns deles trabalham em perspectivas
teóricas de importação pura por meio de financiamentos internacionais, como
é o caso do Moscow Carnegie Center e do East-West Institute. Uma visão mais
plural é conferida por outros think tanks, como o Clube Valdai.
11
A Southern
Political Science Association, fundada na década de 1990, é a associação de
classe que representa também os pesquisadores de Relações Internacionais, o
que denota a permanente dependência do campo em relação à Ciência Política.
Desde 1999, a Russian International Studies Association (RISA) tenta trilhar um
caminho mais independente para o campo com encontros a cada dois ou três
anos (Sergounin 2009).
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9 Enquanto em Moscou prevalece uma proximidade patente com o Ministério das Relações Exteriores e uma
produção científica mais voltada para um projeto de nação putiniano, a Academia em São Petersburgo tem
um espaço maior para teorias importadas de matriz liberal, base para a fundamentação da atual oposição
política na Rússia (ver Lebedeva 2004).
10 Segundo Sergounin (2009), são eles: Academia Diplomática, Academia de Serviço Geral, Universidade Militar,
Academia do Serviço de Segurança Federal, Academia do Serviço de Inteligência Estrangeiro, Academia Russa de
Serviço Público, Academia de Economia Pública, Academia de Finanças, e Instituto Russo de Estudos Estratégicos.
11 Criada em 2004, a organização conta com representantes de várias origens e linhas de trabalho em uma
tentativa de desenvolver um diálogo global sobre a Rússia. No entanto, é possível perceber forte ligação de
seu trabalho com o Kremlin e a gestão de Putin. Para mais informações, ver (Valdai Club 2015).
12 Para mais informações sobre a Russian International Studies Association (RISA), consulte sua página oficial
(RISA 2015).